Centro de Ensino à Distância 63
do exílio, por um lado, e do entrecruzamento das culturas e das
raças, por outro.
Em 1953, juntamente com o angolano Mário de Andrade, publica,
em Lisboa, Poesia Negra de Expressão Portuguesa, uma antologia
de textos de novos intelectuais africanos. O próprio nome era já
provocação: a africanidade implicava a desestruturação da
portugalidade, o que, numa época de ditadura, era no mínimo
arriscado fazer. É a busca de uma nova consciência africana.
Em 1962, Tenreiro concluiu o seu segundo livro de poesia,
Coração em África, que já não viu publicado, por ter falecido no
ano seguinte. (in Infopédia, Porto Editora).
Considerado o primeiro poeta da Negritude de língua portuguesa,
Ilha de Nome Santo é, porém, poesia eminentemente insular, não
obstante os “3 poemas soltos” cuja estética está em consonância
com a dos poemas dos anos 1950, revitalizadores de figuras,
signos e símbolos emblemáticos do mundo negro-africano e
vinculados aos modelos tutelares da consciência negra nos Estados
Unidos, Cuba ou Haiti e redimensionados pelo movimento da
Negritude. Assim, tal como os “3 poemas soltos”, incluídos em
Ilha de Nome Santo, a saber “Epopeia”, “Exortação” e “Negro de
todo o Mundo”, os poemas negritudinistas de Coração em África
evocam, para estigmatizar, a desagregação e a dispersão absoluta
do povo negro, a tristeza, a melancolia e a martirizada submissão
do negro da diáspora. Expressão pungente das realidades do
mundo negro-africano, esses aspectos conjugam-se com a
dimensão do orgulho da raça, da exaltação cultural expressa pelo
invocacionismo das entidades simbolicamente apreendidas como
genésicas
e
cosmogónicas
(Mãe-Terra/Tellus)
e
pelo
evocacionismo ancestral, configurado no retorno às origens e na
concepção redencionista da vida, em forma de esperança e certeza,
aliás uma dimensão configuradora da estética negritudinista.
Na 2ª parte de Coração em África, o poeta “regressa” à sua ilha:
fizera um percurso desde Ilha de Nome Santo, em que o desejo de
conhecimento das realidades e de identificação com a terra natal
(que a dedicatória, primeiro, e, depois, o poema “A canção do
mestiço” sintetizam) o leva a perscrutar as especificidades sociais
e culturais da ilha, numa escrita neo-realista cujo funcionamento
ideológico revela uma dimensão nacionalista pelas suas intenções
anti-coloniais. Nomeara em Ilha de Nome Santo a exploração
colonial e a precariedade social da população nativa, em
“Cancioneiro” e no “Ciclo do Álcool”, a identidade mestiça do
ilhéu (por vezes uma dolorosa mestiçagem, como na poesia do
“Romanceiro”), subvertendo o código do exotismo literário ao
textualizar “realidades miúdas da vida do homem” para, após um
mergulho no universalismo negritudinista, que começara em “3
poemas soltos” e continuaria na primeira parte de Coração em
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