Centro de Ensino à Distância 20
Os fundamentos deste movimento de emancipação cultural e
política podem encontrar-se na nova burguesia liberal oitocentista
que instituiu a Escola como elemento homogeneizador da
diversidade étnica das ilhas, no pressuposto de que o processo de
alfabetização e formação intelectual da população era
indispensável ao desenvolvimento de uma consciência geral
esclarecida. A Escola desencadeou uma fome de leitura que está
na base do extraordinário desenvolvimento cultural de Cabo Verde
no século XX.
Atentos à realidade do quotidiano do povo das ilhas na década de
1930, estes filhos esclarecidos de Cabo Verde preocuparam-se
com a precária situação vivenciada pelo povo, manifestada pelo
sofrimento, miséria, fome e morte de milhares de cabo-verdianos
ao longo dos anos; uma situação com origem na má administração
do arquipélago pelo governo de Portugal, principalmente durante
o regime fascista do António de Oliveira Salazar; não sendo, no
entanto, alheios à desastrosa situação do povo ilhéu e às
frequentes estiagens.
Os fundadores da Claridade lançaram as mãos ao trabalho. Isto é,
"fincaram os pés na terra," de acordo com o seu célebre conteúdo
temático, para a execução do seu plano de trabalho. No entanto,
teriam que proceder de uma forma muito discreta, devido ao
regime de censura colonial existente sob a vigilância constante e
aterrorizada da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do
Estado), temida pelo seu método de tortura; nomeadamente atrás
das grades do presídio político do Campo do Tarrafal, na Ilha de
Santiago.
Para poderem dar conta da penosa situação de Cabo Verde,
começaram por pensar que um jornal periódico seria a arma ideal -
mais eficiente - para combater a situação. Porém, na sequência de
lhes terem exigido um depósito de 50 mil escudos, uma quantia
exorbitante na época, optaram pelo lançamento de uma revista.
Claridade - o nome atribuído - resultou como um título bem
escolhido, pois constituiu um ‘farol’ que projectou uma luz
rejuvenescedora, intensa e duradoura sobre Cabo Verde, no
despertar de uma literatura realista e moderna.
No tempo anterior à fundação da Claridade, desenvolveram-se
determinados elementos literários e culturais tanto no interior do
arquipélago como no exterior. São aspectos que até certo ponto
influenciaram directa ou indirectamente esta revista. Quanto aos
elementos de carácter endógeno, destacam-se:
i. os três vultos das letras e da cultura tradicional cabo-verdianas, a
saber: Eugénio Tavares da Ilha Brava, Pedro Cardoso da Ilha do
Fogo e José Lopes da Ilha de São Nicolau - a geração "pré-
claridosa", posteriormente denominada geração romântico-clássica
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