Centro
de Ensino à Distância 19
Unidade 04. A Revista Claridade: o compromisso social e político da literatura no
sentido da africanidade e da negritude
Introdução
Do ponto de vista literário, a Claridade veio não só revolucionar
de um modo exemplar toda a literatura
cabo-verdiana como
também marcar o início de uma
fase de contemporaneidade
estética e linguística, superando o conflito entre o Romantismo de
matriz portuguesa dominante durante o século XIX e o novo
Realismo. Nesta unidade, pretende-se
fazer uma breve resenha
sobre o contributo desta revista literária.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
Conhecer os factores que motivaram o surgimento
da revista Claridade;
Conhecer os impulsionadores desta revista literária.
A Claridade é uma revista literária e cultural surgida em 1936 na
cidade do Mindelo,
Cabo Verde, e que está no centro de um
movimento de emancipação cultural, social e política da sociedade
cabo-verdiana. Os seus responsáveis foram Manuel Lopes,
Baltasar Lopes da Silva (que usou o pseudónimo poético de
Osvaldo Alcântara) e Jorge Barbosa, respectivamente oriundos da
ilha de São Vicente, ilha de São Nicolau e da ilha de Santiago.
Resolveram seguir as pegadas
dos neo-realistas portugueses,
assumindo no arquipélago a causa do povo cabo-verdiano na sua
luta pela afirmação de uma identidade cultural autónoma baseada
na criação da "cabo-verdianidade" e na análise das preocupantes
condições socioeconómicas e políticas das Ilhas de Cabo Verde.
Do ponto de vista literário, a Claridade veio não só revolucionar
de um modo exemplar toda a literatura cabo-verdiana como
também marcar o início de uma fase de contemporaneidade
estética e linguística, superando o conflito entre o Romantismo de
matriz portuguesa dominante durante o século XIX e o novo
Realismo. Ao nível político e ideológico,
a Claridade tinha como
objectivo procurar afastar definitivamente os escritores cabo-
verdianos do cânone português, procurando reflectir a consciência
colectiva cabo-verdiana e chamar a atenção para elementos da
cultura cabo-verdiana que há muito
tinham sido sufocados pelo
colonialismo português, como é o exemplo da língua crioula.