Centro de Ensino à Distância 16
recorrentes da literatura cabo-verdiana, como os da fome, do vento
e da terra seca, ou de certa insatisfação e incomodidade, numa
atmosfera muito próxima do naturalismo.
O fundamento que leva a que se possa designar tal período como
Hesperitano ressalta da assunção do antigo mito hesperitano ou
arsinário. Trata-se do mito, proveniente da Antiguidade Clássica,
de que, no Atlântico, existiu um imenso continente, a que deram o
nome de Continente Hespério. As ilhas de Cabo Verde seriam,
então, as ilhas arsinárias, de Cabo Arsinário, nome antigo do Cabo
Verde continental, recuperado da obra de Estrabão.
Os poetas criaram o mito poético para escaparem idealmente à
limitação da pátria portuguesa, exterior ao sentimento ou desejo de
uma pátria interna, íntima, simbolicamente representada pela
lenda da Atlântida, de que resultou também o nome de atlantismo
hesperitano, por oposição ao continentalismo africano e europeu.
3.° Período, que principia no ano de 1936 (ano da publicação da
revista-mater Claridade) e vai até 1957, muito mais tarde do que a
fase a que Luís Romano chama dos «Regionalistas ou Claridosos»
(para ele termina com os neo-realistas da revista Certeza, de
1944).
Ainda em 1941, sai Ambiente, livro de poemas de Jorge Barbosa.
António Nunes publica, depois, os Poemas de longe (1945) e
Manuel Lopes, os Poemas de quem ficou (1949), a que se segue o
romance fundador Chiquinho (1947), de Baltasar Lopes, passando
pelo Caderno de um ilhéu (1956), de Jorge Barbosa, e o primeiro
romance de Manuel Lopes, Chuva braba (1956). Todos sem
interferência da Negritude, mas, curiosamente, coincidindo no
tempo as publicações de neo-realistas e claridosos, não sem que,
entretanto, fossem impressos livros deslocados no tempo, como os
Lírios e cravos (1951), de Pedro Cardoso, e as Poesias (1952), de
Januário Leite, poetas do cabo-verdianismo.
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