Centro de Ensino à Distância 14
que lhe pertence. É por isso que os claridosos, e Jorge Barbosa,
evidentemente, são frequentemente criticados pelo carácter
"evasionista" e "escapista da sua poesia.
A geração da Claridade lançou os alicerces da nova poesia que
depois é continuada pelos escritores que colaboram em outras
duas publicações, a Certeza (1944) e o Suplemento Cultural
(1958). Nas duas revistas colaboraram poetas como António
Nunes, Aguinaldo Fonseca, Gabriel Mariano, Onésimo Silveira
(um dos primeiros a utilizar o crioulo de parceria com o português,
no seu livro Hora Grande, 1962) e Ovídio Martins, que combate
abertamente o evasionismo dos claridosos. Apesar de tudo a
geração da Claridade influenciou, e continua a influenciar, grande
parte da produção poética e ficcionista de Cabo Verde.
O salto qualitativo e a ruptura com a influência dos claridosos
devem-se a dois escritores que chegaram a participar na revista
Claridade. Estamos a referir-nos a João Varela (aliás João Vário,
aliás Timótio Tio Tiofe) que publicou em 1975, O primeiro livro
de Notcha, e Corsino Fortes, autor de dois importantes trabalhos
poéticos, Pão & Fonema (1975) e Árvore & Tambor (1985).
É sobretudo Corsino Fortes que provoca o maior desvio de
conteúdo temático e formal. O livro Pão & Fonema deixa perceber
a intenção do autor em reescrever a história do povo em termos de
epopeia. O livro abre com uma Proposição que constitui, por si só,
uma demarcação da poesia de tipo estático dos claridosos.
É evidente que toda a problemática de raiz cabo-verdiana está
presente na obra de Corsino Fortes. Ao contrário dos claridosos, a
nova poesia é uma expressão artística cuja formulação sugere,
reflecte e intervém na dinâmica do real. A grande diferença no
entanto, reside no facto de que este autor, para além de criar uma
nova dinâmica de ralações entre o sujeito e o objecto poético,
coloca toda a problemática cabo-verdiana num contexto muito
mais vasto que é o da África.
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