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ABRAHAM LINCOLN: UM LEGADO DE LIBERDADE
um bufão. Mas quando Seward
precipitadamente propôs unir o
Norte e o Sul instigando uma
guerra com potências estrangeiras,
Lincoln, sem alarde, rejeitou a ideia,
estabeleceu sua autoridade e logo
ganhou o respeito e a admiração de
seu secretário.
Uma guerra de duas frentes
evitada
A deflagração da guerra em abril
de 1861 trouxe ao novo presidente
sua primeira crise de relações
exteriores. Da perspectiva da União
(o Norte), o conflito não era uma
guerra entre nações, mas sim uma
rebelião interna a ser contida sem a
interferência de outras nações. Mas,
para a Grã-Bretanha e a França, que
esperavam continuar o comércio
com a Confederação (o Sul), a
decisão de Lincoln de bloquear os
portos sulistas fez com que, sob a
lei internacional, constatassem a
existência de um estado de guerra,
proclamassem sua neutralidade
e reconhecessem a Confederação
como beligerante. Juntas, essas ações
outorgaram legitimidade ao Sul,
que estava a um passo de seu pleno
reconhecimento como nação.
Assim, a diplomacia de Lincoln
teve como foco evitar que potências
estrangeiras reconhecessem
a independência sulina. Ele
continuou a se opor a qualquer
envolvimento externo, fosse uma
nação se prontificando a promover
conversações de paz ou propondo
uma mediação, uma arbitragem ou
um armistício. Contudo, Lincoln
também amenizou (mas nunca
rejeitou) os alertas de Seward de que
os Estados Unidos iriam à guerra
com qualquer nação que interferisse.
O presidente também moderou os
despachos do secretário e contou
com o seu tranquilo, embora austero,
ministro para a Inglaterra, Charles
Francis Adams, para resolver outros
problemas.
A questão do reconhecimento
surgiu repetidamente durante
o curso da Guerra Civil. A
humilhação da União na Batalha
de Bull Run em julho de 1861
convenceu alguns europeus de que a
independência da Confederação era
um fato consumado. Como poderia
a União forçar uma reconciliação
entre 11 estados e milhões de
pessoas? Em novembro do mesmo
ano, um navio da Marinha
americana apreendeu o RMS
Trent, navio-correio britânico, e
retirou ilegalmente dois comissários
sulistas, James Mason e John Slidell,
que organizaram o bloqueio contra
a União e estavam a caminho da
Inglaterra. Lincoln sensatamente
libertou os prisioneiros e autorizou a
admissão de erro em vagas palavras,
o que salvou a posição americana
e conseguiu por pouco evitar uma
guerra de duas frentes que colocaria
os Estados Unidos ao mesmo tempo
contra a Grã Bretanha e o Sul.
A Câmara dos Deputados dos EUA,
1861, durante a crise da secessão