Lincoln apaixonado
Os amigos e parentes de Lincoln
pareciam concordar que ele nunca
demonstrou muito interesse pelas
meninas em sua juventude, mas
quando chegou a Nova Salem,
apaixonou-se pela filha do gerente
da taverna, Ann Rutledge. Pouco
depois de terem ficado noivos, ela foi
acometida de meningite, a chamada
“febre cerebral”, e morreu em poucas
semanas. A mãe de Lincoln também
havia morrido de repente quando ele
tinha 9 anos. Essas mortes podem
ter contribuído para o turbilhão
emocional que Lincoln sofreu então.
Os amigos, alarmados, temiam que
seu luto e melancolia excessivos
pudessem resultar em suicídio.
Mas devagarinho Lincoln se
recuperou e, pouco mais de um
ano depois, envolveu-se com outro
namoro, dessa vez com Mary
Owens, mulher refinada e bem-
educada de uma família rica de
Kentucky. Sabemos por cartas
deixadas que, tendo se envolvido
até o ponto de noivado, Lincoln
decidiu que não amava Mary
Owens e quis evitar o casamento,
convencendo-a de que ele não era
merecedor. Quando ela se mostrou
evasiva, ele finalmente se sentiu na
obrigação de lhe propor casamento
e, para sua surpresa e humilhação,
ela o rechaçou. Ele confessou a um
confidente: “Outros foram feitos de
tolo pelas jovens; mas isso nunca
pode ser dito de mim. Neste caso,
eu mesmo, definitivamente, me
coloquei nessa posição.”
Lincoln cumpriu um mandato no Congresso
dos EUA, tomando posse em dezembro
de 1847. Essa ilustração de Washington,
DC, naquela época mostra o Capitólio (sua
cúpula foi construída mais tarde e terminada
durante a Presidência de Lincoln) e o
Monumento Washington à distância (então
em construção; com sua altura exagerada
no quadro). A Avenida Pensilvânia, caminho
para a Casa Branca, estende-se à direita do
Capitólio
ABRAHAM LINCOLN
: UM LEGADO DE LIBERDADE
•
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Menos de um ano mais tarde,
envolveu-se com outra beldade de
Kentucky, essa com educação ainda
mais aprimorada, mais refinada e
de família mais rica — Mary Todd
de Lexington. Ela tinha muitos
pretendentes, mas por razões
obscuras, interessou-se por Lincoln.
Ele decidiu novamente, a seu devido
tempo, que não amava Mary Todd
e, atraído por outra pessoa, queria
por fim à relação, mas novamente, as
coisas não eram tão simples.
Seguiu-se outro episódio de
melancolia. Lincoln escreveu a seu
sócio advogado em Washington:
“Sou agora o homem mais
desgraçado desta vida. Se o que eu
sinto fosse distribuído igualmente
para toda a humanidade, não haveria
uma única face alegre sobre a face
da terra.” Lincoln disse a seu colega
de quarto, Joshua Speed, que não
tinha medo da morte, mas “que não
havia feito nada para que qualquer
ser humano se lembrasse que ele
tinha vivido”. Lincoln relembrou essa
observação 23 anos depois na Casa
Branca quando contou a Speed que,
por ter sido autor da Proclamação da
Emancipação (libertando os escravos
afro-americanos da Confederação
rebelde), ele imaginava que
finalmente havia feito algo para ser
lembrado.
Com o tempo, Lincoln recuperou-
se e ele e Mary Todd reataram.
Em 4 de novembro de 1842, para
surpresa de seus parentes e amigos
mais próximos, anunciaram que se
casariam no mesmo dia. Que eles
não formavam um par perfeito já
era sabido de seus amigos antes do
casamento, e suas diferenças de
criação e expectativas logo se fizeram
sentir. Lincoln não sabia nada sobre
aparências e sutilezas do trato nem
se importava com elas, mas sua nova
esposa sim, e ela tinha dificuldade
em controlar seu temperamento
inconstante quando discordavam.
Criada em família sulista aristocrática,
em que escravos realizavam as
tarefas servis, a nova sra. Lincoln
não se adequava à vida de dona de
casa de classe média. A carreira
política e jurídica de Lincoln exigia
muitas viagens. O tempo passado
fora de casa — às vezes durante
semanas — somente aprofundava
as dificuldades domésticas. Mas a
adoração dedicada aos filhos pelo casal
ajudou a criar uma ligação duradoura
que estabeleceu as bases da família em
formação.
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