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Los mestizajes son un resultado de “la lucha entre la cultura europea
colonial y la cultura indígena […] Los elementos opuestos de las
culturas en contacto tienden a excluirse mutuamente, se enfrentan y
se oponen unos a otros; pero, al mismo tiempo, tienden a penetrarse
mutuamente, a conjugarse y a identificarse”. Este enfrentamiento es
lo que permite “la emergencia de una cultura nueva – la cultura
mestiza o mexicana
– nacida de la interpretación y de la conjugación
de los contrarios.” (BELTRÁN
Apud GRUZINSKI, 2007, p. 52)
Essa “cultura nova” se expressou de todas as formas possíveis, da arte
à ciência. Um exemplo interessante da manifestação do
criollo em defesa da
sociedade que integra suas raízes e da mestiçagem está no papel do
novohispano filho de pai espanhol e mãe crioula Francisco Javier Clavijero.
Padre jesuíta e exímio historiador, na época da expulsão da Companhia de
Jesus das colônias espanholas durante o século XVIII, é exilado na Itália.
Chegando lá, toma conhecimento de uma polêmica. Naturalistas ilustrados
europeus puseram em voga nas leituras correntes que o continente americano
era degenerado. Seus animais, suas plantas, sua geografia, seus nativos,
enfim, tudo o que adviesse dele era menor, o único potencial que encerrava era
o da inferioridade. Havia dezenas de volumes que tratavam especificamente de
provar por que critérios essa ideia se sustentava. Nomes como os do Conde de
Buffon, Cornelius de Pauw, Abade Raynal e Willian Robertson são os primeiros
a serem citados como os que defendiam a tese de que a América era inferior
15
.
Como forma de posicionar-se enquanto nativo e ao mesmo tempo como
conhecedor e praticante do pensamento ilustrado europeu, Clavijero escreve
sua
Historia Antigua de México, extensa obra na qual descreve não só a
natureza e os homens americanos, mas relata com minúcia a história do lugar
onde nasceu. Diferentemente de outros que tentaram defender a América, o
jesuíta em questão tinha um diferencial que não podia ser ignorado: era nativo,
era fruto da árvore cujas raízes eram menosprezadas. Além de usar com
propriedade o método ilustrado em voga, ele empregou paixão e coerência na
forma de defender seu lugar de origem.
15
A esse respeito, conferir a obra cânone de Antonello Gerbi,
O Novo Mundo. História de uma
polêmica (1750-1900).
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Perseguindo o objetivo de criticar os filósofos iluministas, Clavijero cita
os antigos pioneiros nas descrições da América (Oviedo e Herrera, por
exemplo) e usa o que pode daquelas obras em defesa de seus argumentos,
através de uma visão ao mesmo tempo barroca, patriota e ilustrada. Entende
que
Un siglo en que se han publicado más errores que en todos
los siglos
pasados, en que se escribe con libertad, se miente con desvergüenza
y no es apreciado el que no es filósofo, ni se reputa tal el que no se
burla de la religión y toma el lenguaje de la impiedad (CLAVIJERO,
2009, p. 597).
Centra suas críticas principalmente sobre a obra de De Pauw, por
considerá-la a mais ofensiva
dentre todas as “calúnias” propagadas sobre a
América, e reúne-as basicamente nas
Disertaciones e na
Historia Antigua de
México. O jesuíta demonstra admirar a racionalidade ilustrada e a
universalidade do ser humano, porém mescla conceitos religiosos aos
racionais, o que confere a seus escritos, em muitos tópicos, uma posição
ambígua, resultando em uma mistura densa de história natural, política,
religião, história civil e cultural e filosofia iluminista.
Clavijero opõe-se às generalizações sobre o Novo Mundo e demonstra,
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