Pós-Graduação em Ciência da Informação e Documentação – ECA/USP – 1º sem./2004
Disciplina: Formas de estruturação e mediação da informação institucionalizada
Profas. Johanna W. Smit e Maria de Fátima M. Tálamo
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(3)
Informação-como-coisa
: O
termo “informação” é também
atribuído para objetos, assim
como dados para documentos,
que são considerados como
“informação“, porque são
relacionados como sendo
informativos, tendo a qualidade
de conhecimento comunicado
ou comunicação, informação,
algo informativo. (Oxford
English Dictionary, 1989, v.7,
1946).
Uma característica chave da “informação-
como-conhecimento” é que é intangível:
não se pode tocá-la ou medi-la, de modo
algum. Conhecimento, convicção e opinião
são atributos individuais, subjetivos e
conceituais. Entretanto, para comunicá-los,
eles tem
que ser expressos, descritos ou
representados de alguma maneira física,
como um sinal, texto ou comunicação.
Qualquer expressão, descrição ou
representação seria “informação-como-
coisa”. Iremos discutir essas implicações a
seguir.
Alguns teóricos têm desaprovado o uso do
termo “informação” para denotar uma coisa
no terceiro sentido acima citado. Wiener
assegura que “Informação é informação,
não um material e nem energia.” Machlup
(1983, p.642), que restringiu informação ao
contexto da comunicação, rejeitou
informação sob o terceiro sentido
(informação-como-coisa): “O nome
‘informação’ tem essencialmente dois
tradicionais sentidos... Aquilo que (1)
informe sobre algo ou (2) que esteja sendo
informado são também analogias e
metáforas ou resultado de uma trama para
a desculpa da apropriação de uma palavra
que não
tem sentido para os novos
usuários.” Faithorne (1954) opôs-se
desdenhosamente à informação como
“coisa”: “’informação’ é um atributo do
conhecimento recebido e interpretação do
sinal, não do remetente...”
Entretanto, a linguagem possui suas
limitações e nós dificilmente podemos
dispensar o termo “informação-como-coisa”
até que seja usualmente compreendido
como o significado de “informação”.
De
fato, a linguagem evolui e com a expansão
da informação tecnológica, a prática de
relacionar comunicação a bases de dados,
livros, e a semelhança com “informação”
parece
ter se transformado usual, e talvez,
uma fonte significante de símbolos e de
objetos simbólicos seja facilmente
confundido com o significado de símbolo.
Portanto, “informação-como-coisa”,
qualquer que seja o nome, tem um
interesse especial relacionado a informação
de sistemas, porque sistemas de
informação incluem “sistemas específicos” e
sistemas de recuperação podem relacionar-
se diretamente com
informação
nesse
sentido. O desenvolvimento de regras para
esboçar inferências sobre informação
armazenada nessa área é
de interesse
prático e teórico. Mas essas regras operam
sobre e somente em “informação-como-
coisa”.
O propósito dessa avaliação de
“informação-como-coisa” é:
(1) Esclarecer seu significado em
relação a outros usos do termo
“informação”;
(2) Estabelecer a
regra fundamental
de “informação-como-coisa” no
sistema de informação; e
(3) Especular o possível uso da
noção de “informação-como-
coisa” trazendo ordem teórica a
campos heterogêneos, mal-
ordenados associados com a
“ciência da informação”.
A distinção entre intangíveis (conhecimento
e informação-como-conhecimento) e
tangíveis (informação-como-coisa) é
fundamental para o que se segue. Se você
pode tocar ou medi-lo, não é
conhecimento, mas deve ser alguma coisa
física, possivelmente informação-como-
coisa. (Essa distinção pode estar superada.
Conhecimento pode tranqüilamente ser
representado no cérebro como algo
tangível, de modo físico. Entretanto, para
os presentes propósitos, diferenciar
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logicamente conhecimento de
armazenamento artificial de informação
parece razoável e útil. Avaliações
acadêmicas testam habilidades individuais
de responder
a perguntas ou resolver
problemas, o que se presume que produza
medidas
indiretas
do que eles sabem. Mas
essa não é a questão). Conhecimento,
entretanto, pode ser representado,
simplesmente como um evento que pode
ser filmado. Entretanto, a representação
nada mais é que conhecimento assim como
o filme é o evento. Qualquer outra
representação é necessária em sua forma
tangível (código, sinal, dados, texto, filme,
etc.) e somente representações do
conhecimento (e de eventos) são
necessariamente “informação-como-coisa”.
Informação-como-coisa é de interesse
especial no estudo de sistemas de
informação. É com informação nesse
sentido que sistemas de informação lidam
diretamente. Bibliotecas tratam com livros,
bases de computadores em sistemas de
informação manipulam dados na forma
física de bits e bytes; museus trabalham
diretamente com objetos. Pode ser que a
intenção seja a de que usuários tornem-se
bem informados (informação-como-
processo) e o resultado desse processo
poderia ser conhecimento (informação-
como-conhecimento). Mas o significado, no
entanto, que é manipulado e
operacionalizado, que é armazenado e
recuperado, é a informação física
(informação-como-coisa). Nessas
definições, não pode
existir algo como um
sistema específico de “conhecimento
fundamentado” ou um sistema de “acesso
ao conhecimento”, somente sistemas
baseados em representações físicas de
conhecimento.
Essa discussão introdutória pode
compreender até quatro elementos:
processo de informação, o manuseio, a
manipulação, e a derivação de várias
formas de informação-como-coisa. (Poderia
se considerar o processo de se tornar
informado como um tipo de processo de
informação, mas, para diminuir a confusão,
preferimos separar e eliminar informação-
como-processo do alcance de
processamento da informação mental).
Desse modo nossa discussão poderia se
resumir em termos de duas distinções: (1)
entre entidades e processos; e (2) entre
intangíveis e tangíveis. Tomados em
combinação, esses dois campos diferentes
apresentariam 4
aspectos diferentes de
informação e sistemas de informação. Ver
Fig. 1.
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