Ócio em família
Se as crises provocam mudanças uma
transformação que essa doença trouxe foi a
imposição forçada do tempo, mesmo inco-
modados e achando um grande desperdí-
cio, afinal com tanta coisa para fazer, somos
obrigados a ficar em casa e usufruir desse
tempo, que agora parece sobrar e que zom-
ba das nossas inabilidades em aproveitá-lo.
Esse é um desafio a ser enfrentado, des-
frutar daquilo que está acontecendo agora
o “lugar no futuro” é aqui, no que estamos
fazendo e isso é tão absolutamente banal e
simples que não parecia tão relevante como
nessa atualidade.
Ouve-se falar: – isso vai passar! Como um
estímulo, uma espécie de alento para que
tenhamos calma até que o prazo de qua-
rentena se esgote e o mundo caoticamente
volte a ser como era, mas novamente essas
projeções futuristas nos roubam do presen-
te e não ensina aquilo que os antigos já di-
ziam: CARPE diEM (APROVEiTE O diA), ou
seja, não temos a menor ideia do que está
para acontecer, na verdade nunca tivemos,
então talvez seja o momento de avaliar as
coisas de uma outra forma, até por ser algo
mais seguro e sensato a se fazer agora, en-
fim aproveitar melhor o tempo que temos
disponível e agora. Não displicente ou alie-
nadamente, mas podendo resgatar o sono
tranquilo adiado, ler o livro guardado, resga-
tar projetos antigos e, principalmente, read-
quirir o sentimento de família.
Para quem tem crianças pequenas
deve ter reparado na alegria que ficam
podendo ter os pais mais disponíveis
dentro de casa, essa disponibilida-
de já é excelente
se for aprovei-
tada; mas vale
a pena combi-
narmos, preci-
sa ser verdadeira, se lamentar e maldizer a
vida não ajuda a “passar o tempo”, contar os
dias que faltam para as aulas começarem e
poder sair de casa, também não, senão esse
período fica trágico e a criatividade se trans-
forma em tédio e aí complica tudo de novo...
Aproveitar o dia é tentar fazer algo criativo,
é trabalhar a mente e o corpo e envolver as
crianças e a família em projetos e resgatar coi-
sas já esquecidas. Que tal desligar a TV e con-
tar uma história de quando éramos crianças,
falar dos avós e dos nossos tempos de escola,
de como os pais se conheceram, de quando
os filhos eram bem pequenos, das dificulda-
des, angústias e dos medos das doenças dos
primeiros meses de vida (sobre isso eu tenho
um monte de histórias para contar...), da esco-
lha dos nomes, daqueles parentes engraça-
dos que toda família tem, enfim agora temos
tempo para cultivar esse dom precioso e mui-
tas vezes esquecido que é a grande oportuni-
dade de ficarmos juntos em família, mesmo
quando nem todos podem estar próximos
podemos mandar uma mensagem e dizer: –
Quanto tempo... pois é... mas eu quero dizer
que sinto muito a sua falta!
isso é aproveitar bem o dia.
Então, nesses novos tempos cabe algu-
mas recomendações: lavar bem as mãos, fi-
car em casa e também: aproveitem bem o
tempo, CARPE diEM!!!
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Dr. José Carlos Machado é pediatra
antroposófico e médico escolar.
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m e d i c i n a e c o m p o r t a m e n t o
m e d i c i n a e c o m p o r t a m e n t o
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F
olhas secas pelo chão, dias regados de
luz solar brilhante, camas de algodão
no céu... são algumas imagens que nos
presenteia essa época tão especial. O Outo-
no, a renovação!
Cada estação é um convite a novas pos-
turas e oferece uma série de aprendizados
para a vida. O Outono é uma época especial
porque enriquece nossas percepções. É a
época de transição entre o Verão (dias lon-
gos, grandes exposições ao Sol e uma liga-
ção maior com o mundo – desperta a nos-
sa energia) e o inverno (noites longas, mais
tempo na escuridão e maior recolhimento).
Deve ser por essa razão que temos “as
águas de março”, chuvas persistentes res-
friando o tempo. São as águas ferramentas
purificadoras que levam embora o que não
é mais necessário. É o filtro da alma para
que esta possa permitir que o novo aconte-
ça. Tom Jobim nos esclarece: “são as águas
de março fechando o verão, é a promessa de
vida no meu coração”.
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