SUR - REVISTA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
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O mais problemático na Lei Tasmaniana e na Lei de Compensação é que
nenhuma delas prevê um fórum para audiências públicas e discussões
relacionadas com as experiências dos membros das Gerações Roubadas. Ao
contrário, ambas implicam um processo rápido, a ser completado em um ano,
reduzindo o período de tempo para a conscientização e educação.
Uma abordagem nacional da verdade e
reconciliação com audiências locais
Uma abordagem nacional para criar uma Comissão de Verdade e Reconciliação,
para funcionar de forma descentralizada, com base nas comunidades, é preferível
a um sistema de compensação estadual, com suas brechas preenchidas por um
estatuto nacional. A coordenação nacional ajudará a garantir uma abordagem
coerente das decisões tomadas em relação às circunstâncias e a quais indivíduos
serão dadas compensações conforme o Programa de Reparações. Ao mesmo
tempo, as audiências nas comunidades facilitarão o reconhecimento apropriado
das experiências de grupos indígenas heterogêneos.
Seria preciso criar Comissões de Verdade e Reconciliação em cada estado
ou território australiano que deveriam simultaneamente aceitar os pedidos e
ouvir as histórias das pessoas ATSI que se qualificam como membros das
Gerações Roubadas . Cada comissão local incluiria membros de comunidades
indígenas e não-indígenas e a participação de anciãos tribais para dar
credibilidade ao processo junto às pessoas ATSI. Essas comissões locais também
aumentam o potencial para criar consciência pública na população não-indígena
em cada estado ou território.
De modo mais significativo, as Comissões de Verdade e Reconciliação locais
ajudarão a lidar com o problema do tratamento homogêneo dado até agora à
comunidade ATSI. A abordagem da Lei Tasmaniana e da Lei de Compensação
homogeneíza a população ATSI de duas maneiras, e somente uma delas é claramente
problemática. Primeiro, ela homogeneíza o dano sofrido, considerado por alguns
como problemático em termos da restauração da dignidade da vítima.
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Mas na
nossa opinião, isso é inevitável se quisermos ter um sistema coerente de reparações.
Porém, num outro sentido, a abordagem das duas leis homogeneíza a
população ATSI como uma massa cuja heterogeneidade é irrelevante.
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Isso é
especialmente problemático, tendo em vista a composição da população ATSI:
A população das comunidades ATSI da Austrália é extremamente diversificada em
sua cultura, e fala muitas línguas diferentes. Pensem na região de Kimberly da
Austrália Ocidental [...] viajar por Kimberly, com sua grande população aborígine
e diversidade de povos da região, é exatamente como viajar pela Europa, com suas
culturas e línguas diversas.
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RAMONA VIJEYARASA
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Número 7
•
Ano 4
•
2007
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