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SÃO CAETANO DO SUL E A CONSTRUÇÃO DE SUAS MEMÓRIAS AO
LONGO DO SÉCULO XX
Cristina Toledo de Carvalho
Doutoranda no Programa de
Estudos Pós-Graduados em
História da PUC/SP e
historiadora da Fundação Pró-
Memória de São Caetano do
Sul.
E-mail:
cristina.carvalho@fpm.org.br
Resumo:
São Caetano do Sul, município nascido em 1948 e que integra o chamado
Grande ABC paulista, desperta atenção pelas estatísticas que denotam o bom nível de
qualidade de vida de sua população. Em vista disso, a imagem de uma cidade grandiosa
e pujante foi construída, ao longo do século XX, sob a tutela de uma memória
triunfalista. Constituída em 1927, ano do cinquentenário da chegada dos primeiros
imigrantes italianos à região, tal memória dominou as representações sobre o passado da
localidade até meados da década de 1950, quando outras interpretações começaram a
surgir, criando condição para o desenvolvimento de uma historiografia sul-são-
caetanense. Este trabalho apresenta um panorama dos marcos a partir dos quais as
memórias atinentes ao município foram construídas, problematizando as suas
respectivas narrativas, intencionalidades, sentidos, ações e lugares, bem como as
conjunturas históricas e as relações de poder que as permeiam e as engendram. Desta
feita, pretende-se, de modo geral, refletir acerca da própria produção de uma identidade
sul-são-caetanense.
Palavras-chave: São Caetano do Sul; memórias; representações.
Elemento central do tema deste trabalho, o município de São Caetano do Sul
mostra-se como um espaço aglutinador de questões, problemas e tensões. Um grande
palco cuja historicidade reside nas múltiplas experiências vivenciadas pelos diferentes
sujeitos da cena urbana local, em suas variadas dimensões topográficas e temporais.
Com uma população estimada em 158 mil habitantes, a cidade vem
apresentando, desde 1991, um contínuo crescimento em seu Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), segundo dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD). Município autônomo desde 1948 e com uma dinâmica
econômica articulada ao processo de desenvolvimento da região do ABC paulista,
revelando percentuais crescentes de industrialização a partir da primeira metade do
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século passado, São Caetano do Sul, no final da década de 1980, já ocupava lugar de
destaque em relação aos demais núcleos citadinos da região. Nesse período, a renda
familiar de sua população equivalia a 12,5 pisos salariais, enquanto a média para o
restante do Grande ABC era de 7,0 pisos (ROMEIRO e GIMENES, 1989, p. 22). O alto
poder aquisitivo de seus moradores e as condições de infraestrutura social
possibilitaram ainda ao município reduzir o coeficiente de mortalidade infantil, ao longo
dos anos, sendo o menor entre as sete cidades da região, no final do decênio de 1980,
com uma taxa de 25,2/1.000 nascidos (ROMEIRO e GIMENES, 1989, p. 22).
Frente a essas estatísticas, ganhou força uma gama de enunciados imagéticos e
discursivos que contribuiu para a difusão de representações enaltecedoras do poderio
econômico da localidade. Sob tal conjunto de representações, a imagem de uma São
Caetano pujante foi se constituindo. Assim, expressões como “cidade mais
desenvolvida do país” e “cidade de primeiro mundo” emergiram para representar o
processo vitorioso de constituição de São Caetano do Sul enquanto município da área
metropolitana de São Paulo. Em estreito diálogo com o referido processo, as memórias
sul-são-caetanenses foram construídas, projetando perspectivas de passado e futuro e
salientando o sucesso do município.
No decorrer desse percurso de produção de memórias, alguns marcos foram
eleitos, entre datas, narrativas, práticas e lugares, forjando o que se pode chamar de uma
identidade sul-são-caetanense.