Segundo a teoria de Kant, contudo, nenhuma relação
espácio-temporal
poderá
existir
entre
a
nossa
representação
da realidade e a realidade, dado que é o
próprio espaço e tempo que são projecções da nossa
estrutura cognitiva. Kant fica assim com um dilema
desagradável: ou elimina a realidade independente da
nossa representação dela,
o que ele de modo algum quer
fazer, opondo-se veementemente a esta hipótese; ou
admite que a sua teoria deixa por explicar o mais
importante que teria de explicar: a relação existente entre a
realidade e a nossa representação dela.
Afinal, este é o problema de fundo que está em causa no
debate entre os racionalistas e os empiristas. Ao passo que
os segundos defendem que nada de substancial podemos
saber sobre a realidade excepto em resultado do contacto
causal com ela, os primeiros
insistem que podemos ter
conhecimento de aspectos cruciais da realidade por meio do
pensamento puro. O preço a pagar pelo empirismo é a
incapacidade para explicar como poderemos saber algo de
fundamental sobre a realidade, como é
o caso das leis da
física, ao invés de meras contingências que se sucedem
entre si sem qualquer real conexão. O preço a pagar pelo
racionalismo é a dificuldade de explicar o processo que nos
permite ter conhecimento de aspectos fundamentais da
realidade por meio do pensamento puro.
A teoria de Kant deixa este dilema filosófico na mesma.
Não explica, nem pode explicar, como conhecemos nós seja
o que for sobre a realidade em si; e não explica, nem pode
explicar, que relação existe entre a nossa representação da
realidade e a realidade em si.