pessoa, também a virtude é relativa a cada pessoa. Por
exemplo, para uma pessoa pobre, é virtuoso dar cinco euros
para ajudar outra pessoa em dificuldades; mas para uma
pessoa muito rica esse não é
o meio-termo virtuoso da
ajuda, dado dispor de bastante mais riqueza.
Aristóteles defende, pois, que a virtude consiste num
meio-termo relativo a nós. Mas como se determina, em cada
caso, o que é o meio-termo relativo a nós? Aristóteles
defende que esse meio-termo é determinado pela razão —
«a razão» acrescenta Aristóteles, «por referência
à qual a
pessoa de sabedoria prática o determinaria» (
idem).
O que isto significa é que a razão que determina o meio-
termo não emana da teoria de Aristóteles, mas antes, em
cada caso, da pessoa de sabedoria prática. É ela, e não a
teoria de Aristóteles, que determina qual é o meio-termo,
invocando uma razão ou justificação. E é isso que conta. O
contraste com as teorias éticas posteriores,
como o
utilitarismo ou o deontologismo, não podia ser maior. Estas
teorias visam precisamente estabelecer a razão última que
fundamenta a correcção de uma dada acção. Aristóteles
pensa que quem estabelece tal razão é a própria pessoa
que age, avaliando cuidadosamente a circunstância em que
se encontra.
Numa leitura superficial, a ética de Aristóteles poderia
parecer pura arbitrariedade pessoal: cada qual invocaria as
suas razões, segundo os seus interesses. Mas isso seria não
compreender o que é uma razão. Quando alguém tem uma
razão para considerar que cinco mais sete é doze, esta
razão é por definição universal e é acessível a todos os que
quiserem considerar o cálculo em causa. E cinco mais sete é
sempre doze, não variando consoante sou eu que tenho de
pagar doze mil euros, ou é
outra pessoa que tem de mos
pagar a mim. O mesmo ocorre na fundamentação da acção
moral: se tenho uma razão para agir de um modo em vez de
outro porque cheguei a essa conclusão raciocinando
cuidadosamente e não me enganei, essa razão não é uma
mera arbitrariedade pessoal.
Assim, o melhor que temos a fazer para sermos virtuosos
é desenvolver a excelência
das nossas capacidades
humanas para o raciocínio prático, responsável por
determinar como agir. Num certo sentido, é virtuoso quem
se esforça genuinamente por ser virtuoso,
desenvolvendo
as suas capacidades para o raciocínio prático ponderado, e
procurando assim atingir a excelência. Treinamo-nos a nós
mesmos para sermos virtuosos moralmente, tal como nos
treinamos para ser músicos virtuosos.