Este pormenor é importante porque o céptico afirma que
só sabe uma coisa, o que pressupõe que os conhecimentos
podem ser contados, como as maçãs.
Mas se os
conhecimentos podem ser contados, então o céptico não
sabe só uma coisa, ao contrário do que afirma. Afinal, para
cada crença nossa, o céptico assevera saber que não há
justificação adequada para ela. Portanto, em rigor, o céptico
sabe pelo menos tantas coisas quantas as que cremos
saber: sempre que alguém afirma saber algo, o céptico
afirma que não há justificação adequada para essa crença.
Esta dificuldade não é muito significativa,
mas sugere
outra que o é — constituindo, aliás, uma ilusão cognitiva
recorrente. Se o céptico não souber que é preciso haver
justificação adequada para que haja conhecimento, nenhum
dos seus raciocínios tem qualquer relevância. Os raciocínios
cépticos põem em causa as justificações que invocamos a
favor das nossas crenças. Mas isto só é
relevante se
aceitarmos que sem justificação adequada não há
conhecimento. Portanto, o céptico tem de aceitar esta
tese
filosófica quanto à relação entre a justificação e o
conhecimento — não pode saber apenas que nada sabe.
Para saber que nada sabe tem de saber, além disso, que
sem justificações adequadas nada se sabe.
Mas mesmo isto não basta. Se o céptico soubesse
apenas que nada sabe e que sem justificação adequada
nada se sabe, não saberia que os seus raciocínios estão
correctos. Ora, se o céptico não
souber que os seus
raciocínios estão correctos, não saberá também que os
outros não sabem o que julgam saber — pois isso é o que
ele conclui com os seus raciocínios.