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Revista Eletrônica
Literatura e Autoritarismo , nº 25
– janeiro a junho de 2015 – ISSN 1679-849X
http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index.php/LA/index
Em tom profético em Ecce Homo, Niet
zsche já havia “previsto” os
séculos vindouros: "Haverá guerras como nunca dantes houve na terra". A
crença em Deus se dissipou, mas nada foi colocado em seu lugar e a
humanidade sentirá o peso dessa ausência. O aforisma 125 da Gaia Ciência
não se trata de uma teoria, mas de um acontecimento. Nesta passagem,
Nietzsche menciona “morte de Deus”, por intermédio das palavras do “homem
louco”, referindo-se a uma realidade histórica concreta. O Deus que morreu, na
opinião do filósofo, é o Deus até então vivo na tradição metafísica e religiosa do
Ocidente cristão. Ou seja, Nietzsche, que por seu tom irônico é mal
interpretado, faz o anúncio como crítica à modernidade e suas novas
perspectivas racionalistas para o pensamento.
Em 1914, as explosões nos frontes de batalha anunciam a primeira
grande guerra, pondo fim a chamada Belle Epóque
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. Os gases venenosos não
sufocam apenas o frágil corpo humano, a guerra emprega, para matar de forma
eficaz, tudo que até então o conhecimento científico havia produzido, o mesmo
cientificismo que o homem escolheu e confiou como guia de seu destino
terreno agora destorça-lhe o corpo e o reduzia a cinzas. Nessa direção, Walter
Benjamin afirmava que a
“guerra vindoura terá um front spectral. Um front que
será deslocado fantasmagoricamente ora para esta ora para aquela metrópole,
para suas ruas, diante da porta de cada uma de suas casas.” (2013, p. 53).
Em 1939, pouco mais de uma década anos após a reflexão de Walter
Benjamim, eclode a II Grande Guerra cujo poder de destruição superaria a
expectativa de Benjaminiana. O conflito chega ao fim com o desenvolvimento
bélico extremado, lança a incerteza no amanhã de cada ser humano, o fruto do
desenvolvimento científico pode ser o fim do mundo. Como seguir em frente,
como orientar a vida em meio aos escombros que suplantaram inclusive os
valores morais? Qual o sentido da existência, uma vez que não há mais um
Deus a velar pelos destinos e o apego ao cientificismo mostrou-se um erro?
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A Belle Époque é normalmente compreendida como um período histórico francês o qual seu início no
final do século XIX, por volta de 1880, e se estendeu até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Em verdade não é possível demarcar tão rigorosamente seus limites, uma vez que ela é mais um estado
espiritual do que algo mais preciso e concreto.
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