parte do complexo sistêmico Poder
Público, especifi camente à Administração
Pública e que objetiva reduzir incerteza
nesse ambiente. A atividade de “espiar”,
de conhecer ambientes e personagens
veladamente, acompanhou a crescente
complexidade da sociedade, o que levou
à necessidade de funções específicas
de produção de conhecimentos em
ambientes complexos; assim, com essa
evolução, passou ela a ser essencial na
gestão de riscos, por meio não somente
de meros informes, mas introduzindo
produtos mais amplos e profundos,
como apreciações e estimativas. Dessa
necessidade, nasce o que se denomina
atualmente de atividades de Inteligência,
as quais tendem a ser agrupadas em
complexos sistemas organizativos estatais
comumente chamados de agências de
Inteligência.
Por fi m, nesses apontamentos teóricos
básicos, Luhmann afi rma que, em razão
da complexidade social — a diferenciação
funcional observada —, não existe, na
sociedade moderna, um “eixo central”,
ou um sistema principal, como existia na
sociedade estratifi cada. Em outros termos,
11 Tradução livre do autor. Original: “(...) siempre se participa en la producción de los problemas con los que nos
ocupamos y, en cierto modo, siempre hemos querido lo que no queremos”.
ademais da questão da inexistência de um
eixo central, o autor aponta que o que
reconhecemos como problemas sociais
na sociedade moderna são realidades
autoproduzidas pelos próprios sistemas
e que por eles devem ser solucionadas.
Com efeito, a conclusão de Luhmann é
que “sempre se participa na produção dos
problemas com os quais nos ocupamos e,
de certo modo, sempre desejamos o que
não queremos”
11
(2006, p. 123).
Nesse contexto, a Inteligência pode
ser compreendida como um sistema
organizativo cuja função é se ocupar
de problemas específicos em uma
sociedade funcionalmente diferenciada
e com complexidade crescente. O operar
dessas organizações envolve a seleção de
informações a serem comunicadas, dentre
as muitas possibilidades existentes, com a
fi nalidade de reduzir a complexidade. Ao
mesmo tempo, as decisões relacionadas
às informações selecionadas ampliam a
complexidade. Em ambientes de riscos
crescentes — que são ampliados ao se
deliberar —, o decidir deve se dar com
confi ança sistêmica, pois a “qualidade” do
serviço prestado pela Inteligência é saber
reduzir essas complexidades (MATUS,
2012, p. 206), ou incertezas, dentro dos
limites temáticos estabelecidos pelo Poder
Público.
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