Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, nº. 16, dez. 2021
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Ana Martins Ribeiro
previamente apresentado, também
sugere características específi cas acerca
do contexto brasileiro: por um lado, o
baixo nível histórico de institucionalização
das relações entre as duas atividades, o
que se refl ete na ausência de diretrizes
e protocolos unifi cados e contínuos que
facilitem a interação; e, por outro, o
alto nível de dependência da disposição
à colaboração por parte de oficiais
de Inteligência e diplomatas, o que é
indicativo
do personalismo estrutural
que caracteriza de forma mais ampla as
relações interinstitucionais no Estado
brasileiro.
No que se refere à relação de produtor-
consumidor entre as duas atividades,
caracterizada como recíproca pela
literatura, os resultados do questionário
indicaram ênfase conferida ao apoio da
Inteligência à diplomacia, o que parece
ser resultado
da busca por parte da
Inteligência por sua consolidação como
ator relevante para o assessoramento
em temas internacionais, em paralelo ao
tradicional protagonismo da diplomacia
nesta seara. Como pondera Cruz (2019, p.
2), a fi m de que a Atividade de Inteligência
de Estado cumpra sua aspiração de ser
imprescindível ao processo de tomada
de decisão e à segurança da sociedade
e do Estado brasileiros, é fundamental a
sintonia entre produtores e usuários. No
caso da Inteligência Externa, a diplomacia
assume posição simultânea de usuária e
fornecedora fundamental de insumos.
Com o intuito de agregar aspecto
propositivo ao presente diagnóstico,
buscou-se sintetizar, nos eixos abaixo,
os diversos fatores mencionados
pela literatura e pelas respostas ao
questionário como favorecedores da
articulação entre as duas atividades
em prol da projeção externa do País:
1. ampliação das discussões sobre
Inteligência no processo de formação do
corpo diplomático; 2.
desenvolvimento de
protocolos e estratégias de coordenação
interinstitucional contínuos entre órgãos
com competências externas; 3. redução
do nível de aversão a riscos em processos
decisórios relacionados à projeção externa
nacional; 4. estabelecimento de instâncias
permanentes de coordenação, a exemplo
dos
fusion centers, as quais favorecem
tanto a articulação de esforços quanto a
construção de confi ança entre instâncias
de assessoramento e 5. facilitação dos
fl uxos de difusão de documentos entre
órgãos integrantes do governo federal que
tratam de temáticas internacionais.
Por reconhecer a limitação desta
pesquisa em relação
a seu escopo e
à representatividade das fontes de
insumos, em razão do amplo predomínio
de bibliografi a anglo-saxã na literatura
que trata do assunto e da reduzida
amostra do questionário aplicado, não se
almejou esgotar a análise dos aspectos
relacionados ao tema. A proposta deste
artigo limitou-se a lançar luz ao problema
proposto por meio de análise com recorte
específi co e restrito, a qual se espera que
possa representar
ponto de partida para
pesquisas futuras relacionadas ao tema
no contexto brasileiro.