Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, nº. 16, dez. 2021
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Inteligência externa e diplomacia: interfaces e relações no contexto brasileiro
projeção do Brasil no exterior. Por um
lado, foi frequente a menção de que,
atualmente, a atividade de Inteligência
poderia desempenhar
papel estrutural
mais amplo nos processos decisórios
de política externa e que a inserção
internacional profunda e multissetorial
do Brasil e a defesa efetiva de seus
interesses dependeria do aprimoramento
do assessoramento estratégico de
Inteligência. Por outro lado, identifi cou-
se maior relevância do assessoramento
de Inteligência para a tomada de decisão
em contextos geográfi cos mais voláteis e
complexos.
Alguns fatores foram apontados como
essenciais para
o melhor aproveitamento
das capacidades da Inteligência em
prol da projeção externa do País,
tais como melhorias na coordenação
interinstitucional em âmbito federal,
desafio que envolveria não somente
a Inteligência, como também outros
setores do Estado com competências
externas; consolidação de percepção
acerca da relevância do assessoramento
em Inteligência Externa e implementação
de estratégias estáveis e contínuas para
aprimoramento dessa interlocução;
redução do nível de aversão a riscos
por parte da Inteligência e de instâncias
decisoras; e aprimoramento dos fl uxos de
difusão de documentos entre o MRE e a
Abin, não somente entre frações lotadas
em Brasília, mas também em relação aos
postos no exterior.
Em relação às diferenças entre Inteligência
e diplomacia quanto a procedimentos e
meios, identifi cadas pela questão cinco,
7 Nas questões cinco,
seis e sete, o questionário orientou a marcar todas as alternativas cabíveis.
o principal aspecto considerado pelos
entrevistados entre as opções fornecidas
foi “fontes de canais para coleta de dados e
análises”, assinalado por 92,59%
7
; seguido
por “métodos de análise de dados”, com
66,67%; “métodos de coleta de dados”,
com 62,96%; nível de compartimentação
e sigilo”, com 55,56%; e limites legais, com
33,33%.
Quanto às fontes de coleta, há percepção
de que,
excetuadas algumas fontes
abertas, os acessos diplomáticos e de
Inteligência não se confundem. Além de
identifi car o acesso facilitado a serviços de
Inteligência congêneres e a canais e fontes
não-ofi ciais, os entrevistados destacaram
a aplicação de método para coleta e
avaliação de dados e recrutamento e
controle de fontes e a maior fl exibilidade
para prospecção
de colaboradores
como diferenciais da Inteligência. Já a
diplomacia gozaria de acesso mais amplo
e consolidado a canais ofi ciais. Quanto
à produção, a diplomacia se basearia
fortemente na capacidade profi ssional
individual, com importância
conferida à
padronização formal, mas sem métodos
estruturados de checagem de fontes e de
dados.
No que se refere à compartimentação,
embora se reconheça que a Inteligência
se associa a tradição de maior sigilo e
segurança da informação,
a estrutura
hierárquica e social consolidada da
diplomacia também favoreceria o
"secretismo" e o resguardo de informações
pelo corpo diplomático. Por fi m, houve
menções no campo de resposta livre ao
acesso a recursos
de verba sigilosa por