Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, nº. 16, dez. 2021
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Perspectivas e desafi os para o trabalho integrado em centros de Inteligência
no gerenciamento do programa, a cargo do
WWMCCS, que já vinham sendo apontados
desde 1966 e que ainda careciam de
solução.
Paradoxalmente ao que fora idealizado
para o WWMCCS, o gerenciamento do
ADP foi criticado, no relatório de 1979,
pela complexa estrutura do sistema,
que se apresentava tão
fragmentado a
ponto de impossibilitar organizações ou
pessoas de terem uma visão completa
de seu funcionamento ou mesmo de
sua gestão. Como consequência desses
aspectos, o GAO afi rmava, entre outras
questões, que o programa não atendia
a demandas nacionais ou locais, não era
resiliente, era inefi ciente no fl uxo de dados
e informações e estimulava iniciativas de
desenvolvimento de soluções de forma
descentralizada e descolada do programa.
Como exemplo de falhas de gestão
apontadas no relatório, está a escolha
equivocada de equipamento para suporte
do ADP, que não se adequava às condições
do ambiente de uso.
Por fi m, para corrigir as falhas apontadas,
o GAO recomenda ao Secretário de Defesa
que todo o sistema de informações e de
dados do WWMCCS passe a ser gerido
por uma unidade central. Essa unidade
deveria ser responsável por
estabelecer
critérios para compartilhamento de
dados, planejamento e operação da rede,
além de simplificar o intercâmbio de
informações entre diferentes comandos
de forças militares. Ao congresso, o GAO
recomenda racionar o fundo orçamentário
destinado ao Programa, condicionando a
sua liberação ao atendimento de medidas
de otimização.
Soma-se aos problemas de projeto e
de gestão, a lógica de desconfiança e
resistência dos militares face ao controle
civil do WWMCCS (SCHLOSSER, 2015).
Além da desconfi ança, a centralização do
comando nas mãos do presidente também
fomentava disputas entre as forças
por acesso privilegiado ao dignitário.
Isso estimulava a formação de ilhas de
informação
retidas pelos comandos, à
espera do momento ideal de difusão ao
presidente ou ao secretário de defesa.
O WWMCCS foi desativado em 1996
e substituído pelo Sistema Global de
Comando e Controle (GCCS). De concepção
bem mais simples, tinha as diversas
subdivisões vinculadas às próprias
agências integrantes e conectadas pelo
sistema
Direct, cujos terminais eram
portáteis (SCHLOSSER, 2015).
Além do próprio ocaso da guerra fria,
consideremos dois últimos fatores para
a compreensão das críticas e da posterior
desativação do WWMCCS. O primeiro,
o gigantismo que envolvia o projeto. O
segundo, o aparente desalinhamento
de percepção dos operadores de defesa
e de política externa nos EUA entre o
momento das tensões daqueles dias
que antecederam à ideia da criação
do WWMCCS e o movimento de longa
duração histórica
em que estavam
inseridos. De fato, a crise dos mísseis
é um evento extemporâneo dentro do
período assinalado por Sombra Saraiva
como coexistência pacífica e, logo
adiante, détente. Trata-se, sem dúvida,
de momento de evidente risco de ataque
nuclear direto por parte dos soviéticos e,
de fato, traumatizante o sufi ciente para
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Gustavo Ferreira
desencadear urgentes e consistentes
políticas de defesa. O episódio também
serviu para que as duas potências
avaliassem suas reciprocidades de
conduta (SARAIVA, 1997), e se lançassem
em um longo processo de dissuasão que
levaria ao próprio fi m do bloco soviético,
já na entrada dos anos 1990.
Ao olhar dos dias de hoje e dentro da
confortável análise
que o distanciamento
histórico nos dá, podemos concluir que o
WWMMCCS fora implementado no período
em que a guerra fria moldava os seus
principais atores para a autopreservação
e a respectiva emissão de sinais para a
coexistência pacífi ca. O risco de embates
militares reais entres EUA e URSS não
mais se repetiria até a dissolução do bloco
comunista.
Por outro lado, a contraposição ideológica
subsistia e reproduzia o espectro da
ameaça sobre a sociedade. Assim,
conformava-se o cenário de incertezas e
a necessidade de respostas por parte dos
governantes.
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