Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, nº. 16, dez. 2021
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Daniel Almeida de Macedo
A conciliação entre ambas as dinâmicas
certamente não é algo simples, mas é
um horizonte inevitável, um imperativo
histórico inexorável que já está se
efetivando em diferentes ritmos e escalas,
a despeito de todas as dificuldades.
Um amplo acervo de inovações revela
que os custos socioambientais estão
sendo progressivamente internalizados
pelo ruralismo moderno no Brasil,
que compensa esses gastos com
mais e mais inovações tecnológicas e
métodos ultraprodutivos (ARIAS
et alii,
2017). Atualmente, estão em curso o
desenvolvimento e a disseminação de
técnicas e procedimentos sustentáveis
que permitem que a produção no campo
ocorra com significativa redução das
indesejáveis externalidades ambientais,
t r a d i c i o n a l m e n t e a s s o c i a d a s à
agropecuária brasileira (SUZIGAN, 2020).
A integração produtiva dos sistemas
agrícola, pecuário
e florestal dentro
de uma mesma área; a recuperação
de milhões de hectares de pastagens
degradadas com investimentos em
correção e fertilização do solo, aliados à
introdução de gramíneas adaptadas; a
ampla adoção do revolucionário sistema
de plantio direto na palha, muito adotado
no Centro-
-Oeste, e que revela o êxito da técnica
moderna de combate à erosão dos solos;
a manutenção das matas ciliares e da
biodiversidade de pequenos córregos nas
fazendas (25,6% das áreas de vegetação
nativa do país se
encontram dentro das
propriedades rurais); e os investimentos
no bem-estar animal, com novas técnicas
de manejo do gado nos currais, sistemas
de cria e desmame amigáveis e cuidados
de alimentação e prevenção de doenças
compõem uma longa e diversificada
listagem das frentes de ação na trajetória
da inovadora agropecuária sustentável
do Brasil, uma realidade praticamente
sem paralelos no mundo (VIEIRA FILHO;
FISHLOW, 2017). Na vanguarda desse
processo, ainda estão as novíssimas
agtechs, como são chamadas as
startups do
agro, que oferecem serviços de soluções
digitais voltados ao campo,
como o
monitoramento e o rastreamento da
cadeia produtiva e o gerenciamento do
risco inerente à atividade agropecuária.
No Mato Grosso, as
agtechs já atuam no
projeto AgriHub Space, da Federação da
Agricultura e Pecuária de Mato Grosso
(Famato), um espaço de inovação
que estimula negócios e conecta o
ecossistema agrícola. Entre as mais
avançadas tecnologias desenvolvidas
hoje pelo agro nacional, estão os projetos
relacionados
às paisagens inteligentes,
aplicados na agricultura de precisão.
Dados de imageamento em 3D, gerados
por equipamentos orbitais, compõem a
representação digital da paisagem, base
sobre a qual são aplicados algoritmos que
retratam as características topográfi cas
e hidrológicas, e que geram indicadores
dos tipos de solo, da posição do lençol
freático e do potencial de erosividade,
entre outros. As plataformas de
georeferenciamento
ainda podem ser
carregadas com informações sobre
atributos bióticos (fauna e flora) e sua
categoria fundiária, se Terra Indígena,
Unidade de Conservação, Terra Pública,
Área de Preservação Permanente,
Assentamento Rural, Propriedade Privada
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Revista Brasileira de Inteligência. Brasília: Abin, nº. 16, dez. 2021
Proteger, pesquisar, produzir: a atividade de Inteligência adentra a era do agroambientalismo
ou Área Sem Informação. Todos esses
dados ficam à disposição do produtor
rural para otimizar a alocação de recursos,
sem incorrer em irregularidades ou ilícitos
(NOBRE, op. cit.).
Enquanto o agro organizado no Sistema
da Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA) dispõe
de modernas
tecnologias, entre essas o monitoramento
remoto de terrenos em larga escala e com
fi na resolução espacial, o Poder Público,
por sua vez, também dispõe de sofi sticados
recursos nessa área. O Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe) monitora
queimadas e desmatamentos através do
programa Deter Intenso (DI), que recebe
imagens óticas com alta resolução de
diversos satélites (Cbers-4, Landsat8 e
Sentinela-2), armazena-as em nuvem e
compartilha os resultados com órgãos,
como o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama), o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), além das Secretarias Estaduais
de Meio Ambiente, para a fiscalização
da degradação fl orestal (Inpe, 2020). É
visível que ambos os setores — público e
privado —possuem recursos tecnológicos
de interesse recíproco,
que poderiam ser
compartilhados e utilizados em benefício
mútuo. Há interessantes oportunidades de
cooperação no vasto espaço em que meio
ambiente e agropecuária se encontram;
contudo, é necessário examinar quais
seriam os entraves para a instituição de
políticas verdadeiramente colaborativas
ou integrativas entre a classe produtiva
rural e os órgãos de proteção ambiental
no Brasil. Essa permanece uma questão
carente de pesquisas e respostas.
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