52 . A FORMULA IDEAL
O ano de 1996 não poderia ter começado melhor, porém o destino ainda
pregaria em mim peças que não seriam muito boas, logo em seu início, eu
recebi do José Guilherme, efemérides para a observação do cometa 1996 B2
Hyakutake, eu e o Fernando Barbosa Pena, observamos também alguns meses
após o término da ISYA o cometa 1995 C1 Hale-Bopp.
Somente a notícia do falecimento de Dª Zininha Wykrota me deixou triste
pois via neste lamentável acontecimento não somente a perda de um confrade,
mas também a perda de um marco vivo da constelação astronômica mineira e
também nacional, por que não?
Ela foi vitimada por problemas cardíacos e quem deu-me esta lamentável
informação foi o Bernardo Riedel, era a peça que o destino pregava para nós.
No entanto como a “Terra continua Girando”, teríamos de seguir o curso
natural dos acontecimentos.
Eu me surpreendi com o cometa Hyakutake, pois em 3 noites excepcionais
eu pude visualizar este cometa sendo que na madrugada dia 22 março de 1996,
este viajante periódico de 18.400 anos, se apresentou com uma magnitude de
1.5 e com uma formação de cauda oposta ao sol com aproximadamente 4.5º
graus na constelação de Bootes, isto visível a olho nu, fazendo um belo par as
01:48 (TU) com a estrela Arcturus.
Valeu pois em 18 anos olhando para o céu ainda não tinha visto um cometa
tão belo e realmente magnífico. Outras informações que obtive mais tarde, foi
que este cometa chegou a ter mais de 18º graus de cauda, e fora observado e
fotografado pelo grupo do CEAMIG, que fazia observações na Serra do Cipó.
Porém outras metas teríamos pela frente e as observações do cometa 1996
B2, serviram como um bom aperitivo, neste ínterim também chegavam as
minhas mãos, projetos observacionais da REA, da dicotomia de Vênus na
elongação vespertina de abril de 1996 e o projeto do Hélio Vital que visava as
observações do eclipse de 03 de abril, eu, Janer Vilaça e o Eduardo Pimentel a
princípio iríamos efetuar as observações do mesmo local onde realizamos as
cronometragens das crateras do eclipse de 29 de novembro de 1993.
No entanto, o pessoal da UFMG estava necessitando novamente do apoio
do CEAMIG, num projeto de observação deste eclipse para o público que se
realizou no campus da Pampulha.
Como conciliar ambas as coisas?
O projeto Praça da Ciência Eclipse No Campus foi um verdadeiro sucesso
de público, e cumpriu fielmente seus objetivos, e o eclipse total da lua naquele
início de noite veio a coroar de forma esplêndida a iniciativa da UFMG, pois
foram montados laboratórios de física e matemática no campus da UFMG.
Naquela noite de gala para a ciência em Belo Horizonte, tivemos também a
oportunidade em rever grandes amigos, que colaboraram de todas as maneiras
para o êxito das observações do público e também no trabalho de
cronometragens que o CEAMIG já vinha fazendo para a REA e para o Calwell
Lunar Observatory da Austrália sobre a transparência da atmosfera terrestre
durante eclipses, nos mesmos moldes e padrões do eclipse de 29 novembro de
1993.
No campus pude ainda rever as pessoas de Rodrigo Dias Tárcia, Hércules
Pereira Neves e Christine Haagensen, destes apenas quem eu não a via já
alguns anos era o Hercúles Pereira Neves, e foi ótimo rever o amigo e logo,
lembrei-me da "Astronomia Show", e comentei nesta oportunidade o fato
para ver sua reação, ele concordou em número, gênero e caso com o que alí
vinha acontecendo. Tive também a grata alegria e satisfação em trabalhar
novamente com o amigo Bruno Vieira Gonçalves, que ficou encarregado da
vigília de TLP's.
O José Guilherme havia sondado comigo a possibilidade de realizarmos
uma roda de rádio em caráter especial como a que foi feita em 1993. Eu sempre
tive a preocupação de procurar aperfeiçoar ainda mais o nível observacional do
pessoal do Centro, decidi não realizar a roda de rádio por problemas alheios a
nossa vontade.
Uma pena, pois alí se arrependimento convidava as coronárias a um ataque
cardíaco, eu certamente teria caído fulminado, durante a totalidade o Bruno
Vieira Gonçalves observou alguma coisa próxima de 5 fenômenos lunares
transitórios. Mas como já havíamos feito a opção, decidimos apenas que
iríamos fazer as observações e distribuir seus resultados para as entidades co-
irmãs.
Seria isso a qualidade total, idealismo ou faltava ainda um amadurecimento
observacional, seria esta a formula para não deixar o CEAMIG sucumbir de
vez?
Eu já vinha trabalhando de forma inconsciente nesta direção quando dei
início a este levantamento da história do CEAMIG relembrando também alguns
tópicos importantes da astronomia em Minas Gerais desde que fora
presenteado pelo Marcomede com o Livro do Dr. Luiz Muniz Barreto.
O eclipse de 16-17 de agosto de 1989, e a conjunção que ocorreu também
entre Vênus e a Lua em novembro daquele ano foi a redundância lógica do que
poderíamos fazer e o eclipse de 29 de novembro de 1993 foi uma prova do que
somos capazes de realizar como observadores.
Durante a viagem a Foz de Iguaçu a bordo do possante e valente FIAT 147,
eu e o João Batista tivemos a oportunidade de conversar longamente com
aquele grupo sobre este ponto de vista, e antes disto conseguimos até transferir
algum conhecimento para o pessoal do Observatório Monoceros.
Deus meu, a formula ideal estava todo o tempo a nossa frente e de forma
inconsciente, eu tentei passar isso a todos os amigos quando demos início as
atividades da Rede Liada Minas, isto ficou cristalino para mim durante aquela
viagem para o eclipse total do sol em 03 de novembro de 1994.
O Centro de Referência do Professor por si só já era o celeiro de onde
poderíamos tirar bons frutos para o CEAMIG. Prova disto são as pessoas de
Lucymary Vargas de Amaral e Rita Andréa Dantas dos Santos.
A Praça da Ciência, realizada em 03 de abril de 1996 no Campus da
Pampulha, cumulativamente com a realização das observações e atendimento
ao público na serra da Piedade durante o eclipse anular do sol ocorrido em 29
de abril de 1995, juntamente com o apoio a UFMG na realização da YSIA,
demonstra de forma clara o quanto o Grupo de Astrofísica da UFMG e
importante para a ciência profissional e também o quanto o CEAMIG é
marcante para o público.
Que destino é esse que faz uma entidade com mais de 40 anos de bons
serviços prestados a astronomia mundial cair em crise? seria culpa de seus
dirigentes?
Não, certamente isso não foi, pois a inveja que sempre acompanhou à quem
sempre trabalha com honestidade talvez tenha sido o principal fator negativo
nestes autos e baixos que uma sociedade cultural no Brasil passou, passa e
acredito que por um bom período passará.
E se aqui me resta com conselho, repetirei e brindarei: A Terra continua
girando mas deverá ser eterna a vida do Centro de Estudos Astronômicos de
Minas Gerais.
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