Héctor Mitchell
Geoffrey estava de braços cruzados e olhos semicerrados fingindo que
estava no controle da situação.
Estávamos na sala de reuniões da Mitchell & Smith com a ilustre
presença de meus irmãos do Templo de Nova York. Derick Von Gran, o Mão
Oculta, estava sentado ao meu lado. Raras vezes ele se sentava na ponta da mesa
quando eu me fazia presente por respeito. Era, como eu, alto, atlético, com cara
de poucos amigos. A juba longa amarrada em um coque e a barba muito bem
alinhada.
— Estamos te dando a oportunidade de dizer a verdade, Geoffrey. Se
levamos um julgamento como esse para dentro da Ordem, você sabe das
consequências.
— Eu não tive nada a ver com o assassinato da stripper — Geoffrey
continuou firme em sua defesa.
Ethan tinha sérios motivos e evidências para acreditar que Geoffrey havia
mandado executar a antiga colega de quarto de Bia. Só precisávamos saber o real
nível de ameaça dele agora.
— Escuta aqui — Adrian Cavalieri bateu com o punho na mesa. — Você
sabe com quem você está lidando?
— Sim, senhor Cavalieri — Geoffrey tentou manter a calma, mas não
escondeu que tinha medo de Adrian.
E ele precisava ter medo mesmo.
Geoffrey era envolvido com drogas, não foi difícil descobrir isso.
Adrian era um italiano muito esquentado, dava para ver sangue em seus
olhos, e como Derick e eu, ele era extremamente controlador. Isso porque era
chefe do crime organizado de toda a Nova York, nada acontecia naquela cidade
sem que ele soubesse. E se acontecia, o próprio Adrian ia atrás de quem
desestabilizasse sua “ordem”.
— Eu vou cortar os seus dedos — Adrian falou com calma. — Um a um,
até que você confesse.
— Tortura — Ethan Evans riu. — Agora sim estamos em clima de
Guerra Fria mesmo. Aguardo ansiosamente a parte em que colocamos militares
no poder dos países da América Latina.
— Já ficou bem claro a todos nós que se Héctor não cumpre o
testamento, o beneficiado é você. Então ele escolheu a noiva e repentinamente
ela é atacada e uma de suas colegas mortas — Derick recitou aquilo como se
estivesse lendo um relatório. — Ethan encontrou provas de que você anda
espionando algumas coisas na Mitchell & Smith, e que o seu pessoal tem
traficado em locais proibidos.
Adrian deu um novo soco na mesa e apontou o dedo indicador para
Geoffrey.
— Nova York saiu do caos de criminalidade porque a minha família
colocou ordem na bagunça que isso era. E isso inclui nada de drogas perto de
escolas, hospitais, ou até mesmo de restaurantes que são frequentados por
adolescentes. Tem uma escola de periferia perto daquele prédio — Adrian
fuzilou Geoffrey com o olhar.
Geoffrey me lançou um olhar de misericórdia.
— Eu não sabia que a garota era a escolhida do Héctor. Como iria saber?
— Geoffrey quase aumentou o tom da voz, mas o meu olhar de indiferença, o
olhar de Derick de análise e o de Adrian de que estava disposto a separar o
crânio da cabeça de Geoffrey o fez mudar de ideia. — Sim, eu estou de olho nos
assuntos da Mitchell & Smith. A empresa também pertence a minha família,
esqueceram? E eu concordo com o conselho e com o meu falecido pai, Héctor é
o cara mais apto a dirigir isso aqui. Eu afundaria a empresa no instante em que
meu nome fosse anunciado como CEO
Arqueei a sobrancelha, surpreso por ouvir aquelas palavras vindas dele.
— E eu posso garantir que esse tráfico clandestino não tem nada a ver
comigo ou com os meus caras. Só vendemos para grandes empresários, tipo o...
— Geoffrey me encarou.
Era claro que ele ia dizer o nome do meu pai. Mas tudo o que ele disse
foi:
—... Deixa para lá.
— Ethan, me dê o bisturi de corte ou o alicate — Adrian cruzou os
braços.
— O que eu fiz? — Geoffrey soltou aquilo em um tom de súplica.
— Não vou permitir que fale assim diante dos Homens Livres que
lideram este país pelas sombras — seus olhos chamuscaram.
— Ele está dizendo a verdade — precisei intervir.
Todos ficaram surpresos, Geoffrey mais ainda.
— Não foi Geoffrey — respirei fundo.
— E como você sabe disso?
— Ele é um otário? É. Tem o pau pequeno? Sim. Não serve para nada?
Com certeza — me diverti um pouco. — Mas Geoffrey é filho do Terence Smith
— quando falei o nome do pai dele, tanto Derick quanto Adrian me encararam
com profundo respeito. — E Terence era um homem íntegro, leal aos seus
irmãos e acredito que seria incapaz de criar um filho que traísse os seus.
Ele fez um “obrigado” com os lábios e virou o rosto.
Derick estava pronto para contra-argumentar com toda a classe e pompa
que tinha, mas Alex invadiu a sala de reuniões.
— Senhor!
— Alex, eu disse que não queria ser interrompido!
— Eu sei, senhor, mas é que estão te ligando da mansão há muito tempo!
— ele se posicionou ao meu lado e me entregou o celular.
— Eu não posso ficar com qualquer aparelho eletrônico quando estou
com os meus irmãos — o encarei com frieza.
— Eu sei, senhor, eu peço perdão, mas é urgente.
Peguei o celular e vi que já tinha alguém na linha.
— Oi — dedilhei a testa.
— Héctor, graças a Deus! — Amanda estava desesperada. — Por que
demorou tanto em atender?
— Não te devo explicações — fui seco e encarei Derick que riu.
— O seu filho sumiu!
— Já olhou pela mansão toda? — respirei fundo.
— Já! Ele e aquela sua mulherzinha simplesmente desapareceram!
— Então não vejo porque tanto alarde. Se ele está com Bia, deve estar
bem — concluí.
— Mas Héctor, o seu filho não pode... — desliguei o celular e entreguei a
Alex. — Não me interrompa novamente, principalmente se for a Amanda.
— Sim, senhor.
— Ligue para Beatriz e pergunte se Anthony está com ela. Se não estiver,
mande todo o meu pessoal caçá-lo pela mansão. Pare a droga dessa cidade se for
necessário, quero que fechem tudo — olhei para Adrian. — Nada vai funcionar
até meu filho for encontrado.
— Esse é o Héctor que eu conheço — Derick levantou o copo de whisky
e bebeu.
— Quer que eu ligue para o meu pessoal? Podemos fechar as estra...
— Obrigado, Adrian — o interpelei. — Por enquanto não, não vamos
gerar esse alarde e caos até sabermos onde Anthony está.
Alex saiu da sala e Geoffrey continuou a nos encarar com um misto de
pavor e a segurança mentirosa que tentava transparecer.
— Não quer cancelar esse julgamento e ir atrás do seu filho? — Ethan
perguntou.
— Se ele está com a Bia, está bem — respirei fundo e peguei o meu copo
na mesa, sorvi o líquido com rapidez, sentindo-o aquecer minha garganta. —
Você é inocente, Geoffrey — eu decidi. — Pode sair.
Geoffrey se levantou com cuidado e andou calmamente até a porta,
quando não estava mais em nosso campo de visão, ouvimos passos rápidos.
— Podemos interrogar o pessoal dele ou colocá-los em campo para ver
se encontram algo sobre a morte daquela tal Clair.
— Eles podem forjar provas ou ocultá-las, caso as tenham — Adrian
avisou.
— É, eu sei. Por isso vamos vigiá-los — voltei-me para Ethan. — Esse é
o seu trabalho.
— Já está feito — ele acenou com a cabeça.
— Como uma garota dessas morre e o corpo simplesmente desaparece?
Nada na polícia, nada nos arquivos secretos... onde diabos o corpo dessa garota
foi parar? — Derick rosnou.
— Vamos descobrir, eu garanto — falei.
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