Arte, política e censura.
Se o conhecimento das relações que a arte mantém com a ação política – tanto conservadora
quanto revolucionária – abriu espaço para o reconhecimento de sua importância, também alertou os
poderosos para o controle da produção artística, através de regulamentações e dispositivos que
cercearam a liberdade dos artistas. Principalmente os regimes autoritários estabeleceram rígida
censura às partes e, embora essa tentativa de controle da produção artística não seja nova na
história, ela se tornou mais radical a partir do século XIX, à medida que a profissionalização e
autonomia dos artistas garantiram-lhe maior liberdade criativa.
No Brasil, a censura esteve presente nos diversos momentos de sua história, com a corte
portuguesa e a Igreja Católica se revezando na função fiscalizadora de nossa produção artísticas
desde os tempos coloniais. E, quando proclamada a independência, a monarquia se incumbiu de
continuar vigiando nossos hábitos culturais. Para isso proibiu o uso de outra língua que não o
português e investiu contra o Barroco, que caiu em desapreço por suas raízes ao mesmo tempo
religiosas e mestiças. Os templos tiveram então suas paredes caiadas e o branco cobriu alegorias e
madonas mulatas.
Com a república, houve o legado autoritário da monarquia e novos mecanismos de controle
da arte se estabeleceram. O Modernismo, pelo seu caráter renovador e por ter coincidido com a
tendência totalitária da década de 1930, foi um dos movimentos mais cerceados da primeira metade
do século XX. Nessa época, o Teatro de Experiência, dirigido por Flávio de Carvalho foi fechado
pela polícia, e durante todo o Estado Novo a censura usou de rigor e arbitrariedade contra os
artistas. O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) transformou-se num grande ministério
com os objetivos de promover e fiscalizar a produção artística e os meios de comunicação.
Com o final dos regimes autoritários no mundo e o contato com artistas estrangeiros, muitos
dos quais emigraram para o Brasil, nas décadas de 1940 e 1950, as artes amadureceram e as
instituições artísticas se legitimaram. Quando, enfim, atingimos um ponto de sintonia com a
produção internacional da arte e quando uma infra-estrutura mínima para promover a formação de
novos artistas já existia nas maiores cidades, houve o golpe militar de 1964. O controle e a
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