Instituto de Ciências Humanas,
Letras e Artes
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as memorizassem. Portanto, pode-se, em
certo
sentido, mas não com certeza, ter certo crédito
nos escritos atribuídos a Pitágoras. Dentro dos
ensinamentos aos seus seguidores, podemos citar
as regras da abstinência. Algumas dessas regras
parecem precauções rituais prescritas aos iniciados;
seus preceitos eram os seguintes: não atiçar o fogo
com a faca, não forçar a balança, não sentar sobre
a medida de grãos, não comer coração de pássaro,
ajudar a depor a carga e não agravá-la, ter sempre as
cobertas enroladas juntas, não pôr a imagem de um
deus na placa de um anel, não deixar a marca das
panelas nas cinzas, não esfregar um
vaso com uma
tocha, não urinar voltado para o sol, não caminhar
por fora das estradas, não apertar mãos com
facilidade, não ter andorinhas sob o próprio teto,
não criar animais com artelhos aduncos, não urinar
nem pisar sobre unhas e
cabelos cortados, não
voltar na fronteira quando sair da pátria. É plausível
afirmar que Pitágoras jamais teve a intenção de
ser interpretado na íntegra. Esses dados refletem
as preocupações pitagóricas que, possivelmente,
dizem que as máximas assim expostas têm, em sua
origem, um sentido mais amplo, tal como informa
Diógenes Laércio:
[...] com o preceito não atiçar o fogo
com uma faca, Pitágoras queria dizer:
não se deve provocar a ira ou o
orgulho inflado dos poderosos; com
não forçar a balança, não atentar
contra a eqüidade e a justiça; com não
sentar sobre a medida de grãos, cuidar
também
do futuro, pois a medida de
grãos é ração para um dia; com não
comer o coração de pássaro, queria
significar não consumir a psique com
aflições e penas; com não voltar na
fronteira quando sair da pátria, advertia
todos os
que partem da vida, a não se
deixarem deter pelo desejo de viver
nem se deixarem atrair pelos prazeres
desta vida. Poderíamos explicar
também os outros preceitos, mas isto
nos levaria muito longe.
Além das regras acima citadas, pode-se constatar
que, nas informações que foram repassadas sobre o
ensinamento de Pitágoras, há muita coisa que foi
divulgada e que não era dele. Um exemplo se pode
constatar na seguinte passagem de Xenófanes:
[...] agora passo a outro tema e
mostrarei o caminho. [...] Dizem que,
ao passar em uma ocasião junto a um
cachorro que
estava sendo espancado,
sentiu compaixão e disse: - Pára, pois
a psique que reconheci ouvindo-lhe a
voz é a de um amigo.
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Porém, nesse texto, não é citado o nome de
Pitágoras, sendo que a observação de Xenófanes
pode ter sido criada por ele pelo fato de Pitágoras
ser um transmigracionista. Por esse motivo, é apenas
provável o fato de que Pitágoras acreditava em
uma reencarnação, fazendo, assim, surgir amplas
interpretações e criações a respeito da sua doutrina.
Pitágoras dividia em
duas modalidades os tipos
de alunos que ele tinha: alguns de seus seguidores
recebiam o título de matemáticos, outros eram
conhecidos como ouvintes (acusmáticos). Os
matemáticos, depois de assimilarem o discurso do
saber, aprofundavam os estudos em busca de rigor.
Os acusmáticos contentavam-se com síntese de
assuntos tratados, desinteressados de exposições
avançadas. Dentro desse contexto, uma das
inferências que se pode fazer quanto à questão da
divulgação do pensamento pitagórico é a de que ela
seria feita por
acusmáticos, ou seja, ouvintes que
não tinham o direito de
fazer perguntas ao mestre e
que o entendiam na íntegra sem uma preocupação
maior com a interpretação daquilo que eles ouviam.
Logo, os
acusmáticos eram pessoas que só ouviam,
mas não questionavam, porque isso era atribuído
aos matemáticos.
Outro aspecto a merecer atenção: eram muitas
pessoas que ouviam as preleções de Pitágoras.
Segundo Diógenes Laércio, embora isso possa
parecer exagero, não menos de 600 pessoas
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