Se bem me
lembro... tem como objetivo dar coesão aos dois ca-
pítulos desta primeira Unidade. Para realizar o projeto,
os alunos devem retomar as produções de texto rea-
lizadas no Capítulo 2, na seção “Práticas de lingua-
gem”, a fim de organizarem uma coletânea de narra-
tivas de memória. Todo o trabalho de produção escri-
ta do Capítulo 2, como você poderá notar, converge
para a realização do projeto. A escrita dos relatos de
memória é a culminância de todos os aspectos estu-
dados ao longo dos Capítulos 1 e 2.
Como sempre, ressaltamos o caráter progressivo
das atividades sugeridas, de modo que, em seu con-
junto, essas atividades constituam uma espécie de se-
quência didática. A respeito disso e, principalmente,
sobre a produção escrita, não deixe de consultar o que
indicamos na primeira parte deste Manual, sobretudo
quanto às sugestões de avaliação da produção escrita
dos alunos.
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Capítulo 1
Diálogo com a literatura
Vanguardas europeias (cubismo)
Para iniciar a abordagem, relembre com os alunos que
a técnica da perspectiva é uma invenção do Renascimento.
Se considerar adequado, converse com eles a respeito
das mudanças no conceito e na representação do espaço
desde as vanguardas do início do século XX até o momen-
to atual. Os artistas das vanguardas europeias já falavam
de uma quarta dimensão espacial, tema posteriormente
retomado por Einstein em sua teoria da relatividade.
Se possível, proponha uma discussão conjunta com
o professor de Física sobre a concepção da geometria
não euclidiana. A partir daí, trabalhe também a noção
de ciberespaço, o espaço interconectado da rede glo-
bal de computadores – por isso chamado de teia (web,
em inglês) ou rede (net, em inglês). Esse espaço permi-
te a criação das realidades virtuais. Para aprofundamen-
to desse tema, sugerimos a leitura de: WERTHEIM,
Margaret. Uma história de espaço: de Dante à internet.
Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
Língua – análise e reflexão
Valores expressivos dos sufixos aumentativos e
diminutivos (atividade 20)
A análise do emprego de sufixos em uma amostra de
palavras proposta na atividade 20 do livro é um trabalho
que permitirá que seus alunos pratiquem uma das manei-
ras de analisar aspectos linguísticos envolvidos na produ-
ção de sentidos em diferentes textos e gêneros textuais.
O essencial é que, ao analisar e formular conclusões,
os grupos percebam que os sentidos são engendrados
não apenas pelo uso deste ou daquele sufixo, e sim por
uma combinação de diversas coordenadas linguístico-
-discursivas, que vão desde as características do gênero
analisado, a esfera de circulação, o destinatário visado até
o emprego do sufixo. Esse trabalho de seleção e análise
de ocorrências pode ser proposto para análise do empre-
go de outros elementos linguísticos (prefixos, radicais, etc.).
Capítulo 2
Atividade complementar
Diálogo com a literatura
Além da leitura do extrato de Memorial do conven-
to, de José Saramago, sugerimos que seja lido o trecho
de um dos relatos de memória mais conhecidos da li-
teratura brasileira, a obra Solo de clarineta, do escritor
gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975). Nessas memórias,
Veríssimo nos conta sua iniciação na literatura e as lei-
turas que fazia, muitas das quais referentes aos períodos
literários estudados no volume 3 desta coleção.
Solo de clarineta
Érico Veríssimo
[...]
Lembrava-me de que meu pai costumava dizer
aos amigos, em minha presença, que quando eu
completasse dezoito anos ele ia me mandar fazer um
curso na Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Minha mãe sorria, incrédula ante mais essa fantasia
do Sastião. Mas eu me inquietava um pouco quando
me imaginava em tão remota terra, no meio de gente
que falava uma língua tão difícil. Consolava-me a
ideia de que, segundo lera em livros, os verdes das
colinas da Escócia eram dos mais belos do mundo e
então, para me consolar e para exorcizar a preocupa-
ção, eu me imaginava a pintar numa tela as paisa-
gens escocesas. No entanto, esse moço sonhador se
fanava naquele barracão malcheiroso, a pintar letrei-
ros prosaicos em sacos de aniagem.
Foi nesse armazém que, à sombra dum guarda-
-livros pálido e taciturno, que fumava palheiro e re-
cendia a alho, fiz clandestinamente a minha primei-
ra literatura em pedaços de papel de embrulho, com
a cumplicidade de uma velha máquina de escrever
Underwood...
Naquele tempo eu havia “descoberto” Euclides
da Cunha, cujo estilo admirava. Minhas relações com
Machado de Assis haviam melhorado consideravel-
mente. Também comprazia-me em traduzir para o
português trechos curtos de escritores franceses e
principalmente ingleses. Mas quando o gerente se
aproximava, eu tinha de tirar às pressas o papel da
máquina, metê-lo disfarçadamente no bolso e asso-
biar uma melodia qualquer, dessas inventadas pelo
meu próprio encabulamento. “Copie estas cartas!” —
ordenava o chefe do escritório. Parecia uma persona-
gem de Dickens em trajos de 1922. Quando me via a
ler Os sertões a um canto, repreendia-me. “Isto não é
salão de leitura e sim uma casa de comércio. Leve es-
tas cartas ao correio.” E lá me ia eu, humilhado, pelas
ruas, evitando olhar para os lados, temendo encon-
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trar um conhecido. Não queria que me vissem — su-
prema vergonha! — carregado de pacotes e envelo-
pes. Eu, um Veríssimo!
Veio a noite de Natal. Triste. A de 31 de dezem-
bro. Tristíssima. A Singer de minha mãe rodava, pro-
duzindo aquele ruído tão conhecido nosso.
Mantive diálogos muitos, e inaudíveis, com o ma-
nequim, cuja presença até hoje não descobri se me era
hostil, amiga ou indiferente. “Não é nada, menino” —
ele parecia dizer. — “Tens muita vida pela frente. Ou
pensas que és o único sofredor e injustiçado no mun-
do?” Sim, vida pela frente eu tinha. Paciência também,
mas em todo caso esperar era duro e doía.
Minha mãe me incentivava: “Se não te agrada
trabalhar no armazém, vamos procurar outro em-
prego. Num banco, quem sabe...”. E dias depois desta
frase eu me despedia — com que alegria! — do arma-
zém recendente a alho, cebola e rapadura, e do seu
gerente de bigodes caídos e pele lívida. Minha mãe
me conseguira um emprego numa casa bancária, on-
de, mediante um salário mensal de oitenta mil-réis,
me encarregaram de escriturar o chiffrier, livro de
importância menor, no qual cometi consideráveis er-
ros e deixei inapagáveis borrões, jamais conseguindo
acertar um balancete na primeira tentativa — coisa
que deixava o nosso contador irritado. Sempre os nú-
meros! Muita da literatura que produzi naquele tem-
po (mas afinal de contas era eu um desenhista ou um
escritor?) me saiu em papéis com o timbre do Banco
Nacional do Comércio.
Oitenta mil-réis mensais... Eu tinha vergonha de
dizer aos amigos quanto ganhava. Não me era nada
agradável a ideia de saber que minha mãe continuava
a trabalhar dia e noite, encurvada sobre a sua máqui-
na de costura, para conseguir o dinheiro com que não
só me alimentava como também me comprava rou-
pas, gravatas, sapatos, chapéus... É que eu já tinha dei-
xado para trás a fase de negativismo e desalento; ago-
ra me vestia de acordo com a moda, que exigia visto-
sas camisas de tricolina do tipo “bataclan”, com riscas
de muitas cores sobre fundo claro — ah!, e com um
colarinho altíssimo para o qual a natureza não me do-
tara dum pescoço adequado. (Esperava-se dos funcio-
nários de banco que andassem sempre bem-vestidos.)
Quem muito me ajudou, sem o saber, naqueles
tempos psicologicamente difíceis para mim, foi
Monteiro Lobato. Li com deleite o seu Urupês, em
que o autor paulista, a despeito de suas inegáveis in-
fluências camilianas, me pareceu uma saborosa cru-
za de Maupassant com Mark Twain. (Tenho observa-
do que existem no mundo autores fecundantes —
não necessariamente os maiores — que estimulam
no escritor principiante a vontade de criar, reforçan-
do-lhe a fé na arte da ficção.) Poderia eu um dia se-
guir o caminho de Lobato, contando histórias como
as que formavam o seu Cidades mortas?
Eu lia regularmente a Revista do Brasil dirigida
por esse escritor paulista, cujas sobrancelhas es-
pessas e negras me davam a bem-vinda impressão
de que ele era parente meu, espécie de tio mais ve-
lho e geograficamente distante. Muitos anos mais
tarde vim a conhecer Monteiro Lobato pessoalmen-
te, fazendo com ele excelente camaradagem. Neste
exato momento estou ouvindo a sua voz cheia du-
ma energia meio cansada e desiludida dos homens:
“Seu Érico, o escritor de verdade escreve natural-
mente como quem mija. Não vá muito atrás dessas
novidades que andam por aí e que na maioria dos
casos não passam de truques inventados por quem
não sabe contar histórias”.
Eu acompanhara de modo um tanto precário o de-
senvolvimento da Semana de Arte Moderna — revolu-
ção literária e artística diante da qual me sentia ambi-
valente. O próprio Lobato, em cujo juízo crítico eu tan-
to confiava, manifestara-se contra o movimento. Eu le-
ra na Revista do Brasil a reprodução dum famoso artigo
seu contra a arte da pintora Anita Malfatti (Paranoia ou
mistificação?). Duma coisa, porém, eu estava certo. Os
jovens escritores e artistas que haviam organizado e
animado a Semana de Arte Moderna tinham razão
quando protestavam contra a nossa excessiva depen-
dência da França e de Portugal.
Eu estava convencido de que a literatura e as ar-
tes plásticas acadêmicas no Brasil haviam sido feri-
das se não de morte, pelo menos gravemente. Havia
até então um excesso de imagens e metáforas mi-
tológicas greco-romanas na literatura brasileira.
Tínhamos os olhos permanentemente voltados para
o estrangeiro. Éramos europeus. Paris era a nossa ca-
pital do espírito. Ninguém olhava para o Brasil, nin-
guém (ou pouquíssimos) tentava escrever sobre este
“gigante pela própria natureza”, “deitado eternamen-
te em berço esplêndido”. Eu lia com uma certa dose
de perplexidade os versos dos dois Andrades, Mário
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e Oswald. O pintor que hibernava dentro de mim
comprazia-se no esbanjamento de tintas vivas a que
Cassiano Ricardo se entregara em Borrões de verde e
amarelo e Vamos caçar papagaios. Lá estavam, soli-
dários com os modernistas, poetas do calibre de
Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida e Menotti
del Picchia, ensaístas da força de Sérgio Buarque de
Holanda e Cândido Mota Filho, prosadores como
Ronald de Carvalho e — adesão inesperada e sensa-
cional — romancistas e estetas como um Graça
Aranha, membro da Academia Brasileira de Letras,
tão atacada e ridicularizada pelos “novos”. Eu lera
com agrado O estrangeiro de Plínio Salgado.
Concordava com os Modernistas em que era preciso
“dinamizar” a literatura — e como se usou e abusou
da palavra dinamismo e dinâmico naquela década
dos 20! — torná-la trepidante, rápida, ágil e irreve-
rente como a idade do rádio, do avião que estávamos
já vivendo naquele pós-guerra que produzira a “gera-
ção perdida”. Se o Brasil era um país jovem, a troco de
que santo deviam seus escritores e artistas plásticos
imitar uma Europa decadente e cansada? Acompanhei
então nos anos que se seguiram o movimento Pau
Brasil, li o Manifesto antropofágico que me pareceu
doido mas que, como todos os doidos, tinha a cega co-
ragem de dizer verdades que parecem absurdas aos
homens chamados normais.
Entretanto, naquele exato ano de 1923 minha atitude
era ainda de expectativa. Continuava a ler meus “passadis-
tas”, esperando que as águas agitadas pelo Movimento
Modernista se aquietassem para a gente poder ver o que
no fundo sobrava de sólido e permanente.
VERÍSSIMO, Érico. Solo de clarineta. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005. v. 1.
Sugestões de atividades interdisciplinares –
Unidade 1
Capítulo 1
Linguagem e texto
Na tradição literária ocidental (e em outras tradi-
ções, como a dos povos asiáticos, ameríndios ou da
África subsaariana), um tipo de narrativa que muitas
vezes é confundido com a lenda é o dos relatos míti-
cos, também chamados de mitos.
À semelhança dos contos de fadas e das lendas,
os relatos míticos são narrativas que remetem a uma
época do passado que não se consegue localizar na
cronologia histórica. Também, de forma análoga às
lendas, o relato mítico pode se perpetuar por meio da
tradição oral, de geração em geração.
O que diferencia o mito das lendas é sua finalida-
de e a forma como ele se mantém na cultura: em geral,
os mitos têm fundo simbólico, ou seja, as personagens
e as situações representadas no relato mítico simboli-
zam forças da natureza, aspectos gerais da condição
humana, realidades que o homem não consegue ex-
plicar, e que estão ligadas às divindades. Nas tradições
culturais que contribuíram para a formação da cultura
brasileira (africanas, ameríndias e europeias), os mitos
confundem-se com narrativas genéticas, ou seja, aque-
las que explicam a origem do ser humano e do mundo,
e acabam por se ligar às religiões e às crenças dos
povos. Nesse aspecto, os relatos míticos são claramen-
te diferentes das lendas.
Quanto à forma de perpetuar-se, o mito original-
mente perpetua-se como história de tradição oral. Em
dada comunidade, um relato mítico sobrevive enquan-
to sua transmissão se fizer por meio dessa tradição ou,
então, quando esse relato é registrado por escrito e
passa a fazer parte da literatura escrita do povo no qual
ele se originou.
Tendo em vista essas características do mito, divi-
da os alunos em equipes para que eles pesquisem,
com a ajuda do professor de História, mitos que des-
crevem, nas diferentes tradições formadoras da cultu-
ra brasileira, a origem do mundo. Essas tradições são
de origens europeias (especialmente greco-romanas),
judaico-cristãs, indígenas e africanas. (Converse com
o professor de Arte também sobre a realização dessa
atividade, uma vez que ele poderá contribuir no mo-
mento de orientar os alunos sobre a montagem da
apresentação, explicando que esse auxílio estará con-
dicionado à forma pela qual os alunos optarem por
apresentar os resultados.)
As equipes podem se organizar para que cada uma
pesquise os mitos de uma dada tradição cultural.
Nessa pesquisa, alguns aspectos particulares de cada
tradição poderão ser apresentados pelas equipes. Por
exemplo:
• Mitos que explicam a origem do homem.
• Mitos que explicam a origem do mundo.
• Importância do mito pesquisado na formação his-
tórica e cultural do povo em que se originou.
• Importância do mito pesquisado na formação his-
tórica e cultural brasileira.
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Para a socialização dessa pesquisa, cada equipe
poderá escolher uma forma de apresentação: exposi-
ção oral, leitura em voz alta, seguida por debate com
as outras equipes de uma das narrativas mitológicas
encontradas, encenação do mito pesquisado, monta-
gem de painéis ilustrativos representando o mito e
seus aspectos históricos e culturais, etc.
Para a montagem dessas formas de socialização das
pesquisas, dependendo da alternativa escolhida pela
equipe, poderá ser interessante a colaboração do pro-
fessor de Arte. Ao acompanhar as equipes na escolha
que fazem sobre a forma como a pesquisa será exposta,
analise a necessidade ou não da participação do profes-
sor de Arte e procure orientar os alunos nesse sentido.
Cap’tulo 1
Diálogo com a literatura (texto 2 - atividade 5)
Nesta atividade, sugere-se a integração da disci-
plina de Língua Portuguesa com a de Arte e a de
Sociologia. A atividade propõe uma reflexão sobre a
moda como um índice das mudanças e dos valores
socioeconômicos da sociedade.
Comente com os alunos que as mudanças ocorri-
das de forma geral na sociedade, e em especial no
vestuário do início do século XX, não atingiram da
mesma forma as mulheres de todas as camadas sociais.
Lembramos que mudanças provocadas pela Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) e pela industrialização
crescente no Ocidente se refletiram também na moda
do período. Fale que, em muitos casos, as alterações
do comportamento feminino se manifestaram espe-
cialmente nas camadas mais pobres e urbanas, uma
vez que as mulheres cada vez mais foram levadas a
ocupar os espaços de trabalho. Além disso, é preciso
falar a respeito das reações conservadoras que se ma-
nifestaram tão logo se perceberam as mudanças de
comportamento que poderiam tornar as mulheres mais
independentes. A alta-costura, representada nas fotos
por modelos de Worth e Chanel, é acessível, num pri-
meiro momento, apenas às mulheres das camadas
econômicas privilegiadas.
É importante ressaltar que houve um estilista, an-
tes de Chanel, que procurou criar modelos já sem o
espartilho, tornando a vestimenta feminina mais leve
e solta: Paul Poiret (1879-1944).
Ao comparar as fotos da atividade com os alunos,
oriente-os a apoiarem sua argumentação nos elemen-
tos das fotos e a extrapolarem essas imagens usando
o conhecimento de mundo que trazem. O importante
é que eles observem os modelos e reflitam sobre o
papel da moda como divulgadora de concepções de
comportamento em determinado sentido. Levante
questões, se for o caso, para orientar o olhar dos alu-
nos a observar os detalhes das fotos levando em con-
ta a liberdade que a roupa dá a quem a veste ao rea-
lizar as atividades de seu cotidiano. Peça que analisem
tecidos, ornamentos, corte das roupas, sobreposições,
penteado, etc. e a postura, resultante da relação da
roupa com o corpo e com os outros, que a moda aju-
da a construir. Assim, será possível, por exemplo, dizer
que o modelo de Charles Worth pede o uso de espar-
tilho: basta observar a cintura apertada. O comprimen-
to longo do vestido aliado ao corte mais reto da saia
obrigam a mulher que o veste a andar a passos curtos.
A cauda longa do vestido e os babados também difi-
cultam a movimentação da mulher que usar a roupa.
Por sua vez, Chanel veste calças largas de tecido mo-
le, blusa listrada e usa cabelos curtos. Essa produção,
inspirada no universo masculino, facilita determinada
postura do corpo: a moça parece descontraída, com
as mãos no bolso, os ombros para trás, o tórax proje-
tado para a frente, as pernas um pouco abertas, um
sorriso no rosto. Parece à vontade, pronta para se mo-
vimentar, trabalhar ou... relaxar. Temos a impressão de
que a mobilidade era permitida para todas as direções.
Sugestão de questionamentos para orientar a lei-
tura das fotos e a pesquisa:
• Como você imagina a rotina de uma mulher que
vestia os modelos de Charles Worth? E a da que
vestia os modelos de Chanel? Os tipos de mode-
lo permitiam ir aos mesmos lugares, fazer as mes-
mas atividades, movimentar o corpo do mesmo
modo?
• Qual delas precisaria gastar mais tempo se arru-
mando para chegar a essa produção? Qual delas
poderia parecer mais preocupada em agradar do
que em se sentir bem?
• O modo de se vestir de Chanel e a postura que a
vestimenta proporciona fazem sentido no mundo
de hoje? Por quê?
• A criação do novo vestuário ajudaria realmente as
mulheres a terem mais movimento? Estaria em
harmonia com seu novo comportamento?
• Ao pesquisar, descobriram se as mudanças no
comportamento feminino parecem ter atingido
diversas camadas sociais? E da mesma maneira?
• Nas pesquisas, vocês conseguiram constatar se a
sociedade reagiu a essas novas atitudes positiva-
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mente ou se ela tentou fazer o comportamento
feminino voltar ao que era?
A seguir, transcrevemos alguns textos que podem
servir de apoio ao trabalho.
Chanel ontem, hoje e sempre
Simone Esmanhotto
[...]
Pense no maior curinga do guarda-roupa, quase
imbatível nas festas. Pense na dupla mais chic da es-
tação. Pense no tecido da hora — artesanal — e no
tecido do futuro — fluido, sexy. Pense na joia favorita
das boas moças. Se as respostas foram, nesta ordem,
pretinho básico, tailleur, tweed, jérsei e pérolas, você
está duplamente em dia com a moda. [...] Essas pe-
ças são assinadas por Gabrielle Chanel, cujo sobre-
nome se tornou uma das grifes mais luxuosas do
nosso tempo. [...] “Ela estabeleceu um novo código
de roupas para um novo tipo de mulher”, explica
François Baudot, autor de Chanel (Cosac Naify).
[...]
Mulheres livres
Tudo o que Chanel fez e propôs — muitas vezes
para uso pessoal — virou um estilo. No fim da déca-
da de 10, ela cortou o cabelo curto. Voilà: nascia o
corte Chanel, de fios retos e na altura do queixo. O
calcanhar exposto no modelo do bicolor inspirou va-
riações muito distantes do original, mas todas com o
mesmo nome: modelo Chanel. Cansada de carregar a
bolsinha feito uma lady, Gabrielle teve a ideia de
amarrar uma tira de couro de cada lado e pendurá-la
no ombro. Criou assim nada menos do que a bolsa a
tiracolo. Um vestido velho foi cortado na frente, ga-
nhou golas, botões, uma fita na cintura e outra na
barra. A forma era a de uma longa camisa, o que lhe
valeu o nome de chemisier.
Parecem coisas mínimas, mas, se comparadas ao
figurino de então, são ideias inovadoras. Quando
Chanel começou — a primeira loja é de 1910, na rue
Cambon, em Paris —, o que se via nas ruas eram mu-
lheres de vestidos longos e cheios de frufrus e cha-
péus enormes e enfeitados. Com o vestido preto de
jérsei — tecido nada nobre para a época —, Chanel
deu às mulheres da década de 20 mais do que a liber-
dade de movimento que elas esperavam. “Ela gosta-
va de afirmar que era uma estilista de sucesso, fun-
dadora do primeiro império da moda, porque foi a
primeira a viver a vida do século 20”, escreve Janet
Wallach na biografia Chanel: seu estilo, sua vida
(Mandarim). Ela oferece uma roupa simples, fácil de
vestir, com um efeito visual de luxo — e uma cara
moderna. O primeiro pretinho básico da história, de
1926, ganhou o apelido de Ford, numa comparação
com a marca, e a cor, do carro mais popular nos
anos 20. Ao lado da camiseta e do jeans, o pretinho
está entre as peças mais influentes do século.
Universo masculino
A peça de estreia da grife foi criada quase por
acaso durante uma temporada em Deauville, na
França. Para se proteger do frio, ela emprestou um
suéter de Arthur “Boy” Chapel, seu amante e único
amor. Em vez de vesti-lo pela cabeça, Chanel cortou
a frente com uma tesoura, fez um acabamento com
fita e acrescentou uma gola e um laço. Virou hit.
“Minha fortuna começou com aquele velho suéter, só
porque senti frio”, disse. Essa peça e o dinheiro de
Chapel (que reconheceu a originalidade de Gabrielle
e a incentivou a seguir o caminho da moda) foram a
base da Maison.
A moda masculina era uma das obsessões de
Chanel. Dos homens, ela soube roubar, com charme,
as calças, os paletós, o casaco 7/8, o cardigã. Usava o
alfaiate de Chapel para renovar o guarda-roupa. Não
só as roupas masculinas da alta sociedade serviam
como uma luva no seu corpo quase sem curvas.
Uniformes de marinheiros — camiseta listrada, calça
larga, quepe, alpargatas — inspiravam suas criações.
Chanel abriu caminho, assim, para um dos temas re-
correntes da moda moderna: o look masculino.
Depois disso, nosso guarda-roupa nunca mais foi o
mesmo. “Admiro Chanel por ter mudado a moda fe-
minina para sempre”, declarou Giorgio Armani.
Como que numa costura do trabalho iniciado pela
francesa, o estilista italiano explorou a androginia
para as mulheres nos anos 80, tornando mais leves
as linhas do smoking proposto por Yves Saint Laurent
na década de 60.
Eternamente chic
A moda de Chanel se confunde com sua persona-
lidade, reflete sua vida. “Ela foi o que vestiu”, afirma
Janet Wallach. Antes de ser uma grife, ela já preferia
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camisas, gravatas, paletós e culotes emprestados de
amigos aos vestidões. “Ela precisava do mínimo para
deixá-la livre para ser quem era”, completa. Foi a pri-
meira figura no universo das tesouras a não tirar me-
didas, cortar, alinhavar apenas, mas a ditar um estilo
que refletia uma visão de mundo. Não era costureira,
era estilista. [...]
A combinação de roupas limpas, feitas de teci-
dos nada requintados, com muitos enfeites — péro-
las falsas e joias fantasia —, deu origem ao chic po-
bre, algo que nem de longe ofendia uma criadora
que, em busca de ideias, costumava prestar atenção
em como a classe baixa se vestia. [...]
ESMANHOTTO, Simone. Chanel ontem, hoje e sempre. Revista Elle.
São Paulo, 1
o
jul. 2004. p. 52-57.
Recônditos do mundo feminino
Marina Maluf e Maria Lœcia Mott
Sozinha pela rua, com as mãos na direção de seu
auto; sozinha no passeio e no dancing da moda. É a mo-
ça de hoje que já não precisa da mamãe vigilante, nem
a senhora de companhia [...] Como os cabelos, como os
vestidos, como o rosto, a moça de hoje já fixou o espíri-
to, fê-lo mais livre [...] fê-lo apto e forte [...] Nas reparti-
ções públicas, no balcão, na fábrica ou nas grandes ca-
sas, ela sabe estar sozinha pela vida [...] Sozinha: para as
mãos, já não faz falta o embrulhinho cúmplice e dissi-
mulador. Já sabe o que fazer com as mãos, que são
igualmente adestradas para empunhar a direção de um
auto ou para mover-se sobre o teclado de uma máquina
de escrever.
Revista Feminina, mar. 1928.
As mudanças no comportamento feminino ocor-
ridas ao longo das três primeiras décadas deste sécu-
lo incomodaram conservadores, deixaram perplexos
os desavisados, estimularam debates entre os mais
progressistas. Afinal, era muito recente a presença
das moças das camadas médias e altas, as chamadas
“de boa família”, que se aventuravam sozinhas pelas
ruas da cidade para abastecer a casa ou para tudo o
que se fizesse necessário. Dada a ênfase com que os
contemporâneos interpretaram tais mudanças, pa-
recia ter soado um alarme.
Se as novas maneiras de se comportar tinham se
tornado corriqueiras em menos de duas décadas, a
ousadia, no entanto, cobrava seu preço: que a senho-
ra soubesse conservar um “ar modesto e uma atitude
séria, que a todos imponha o devido respeito”. E
mais: que a mulher sensata, principalmente se fosse
casada, evitasse “sair à rua com um homem que não
seja o seu pai, o seu irmão ou o seu marido”. Caso
contrário, iria expor-se à maledicência, comprome-
tendo não só a sua honra como a do marido, confor-
me se lia na Revista Feminina, importante publicação
do período.
O ritmo das mudanças ocorridas, considerado
por muitos como alarmante, veio acompanhado de
certa ansiedade por parte dos segmentos mais con-
servadores da sociedade, já tomados pela vertigem
das grandes transformações que o país vinha viven-
do, sobretudo a partir do último quartel do século
XIX. Não faltaram vozes nesse começo de século pa-
ra entoar publicamente um brado feminino de in-
conformismo, tocado pela imagem depreciativa com
que as mulheres eram vistas e se viam e, sobretudo,
angustiado com a representação social que lhes res-
tringia tanto as atividades econômicas quanto as po-
líticas. “Entre nós”, escreveu em 1921 a articulista
Iracema, “a mulher só exerce sobre o homem o pres-
tígio do seu sexo. Quando o homem não está mais
sob o sortilégio exercido pelos encantos da mulher,
esta deixa de ocupar-lhe o espírito, de interessá-lo”.
E quais seriam nesses tempos os sinceros desejos
da mulher?, indagava a escritora Chrysanthème (pseu-
dônimo de Cecília Bandeira de Melo Rebelo de
Vasconcelos) à sua personagem, que lhe respondia,
aborrecida com o tom protetor e de disfarçado desdém
dos homens superiores: “Nós queremos a liberdade [...]
ou pelo menos a sua igualdade com o homem, o nosso
déspota, o nosso tirano”. [...] Reivindicando igualdade
de formação para ambos os sexos, [uma colaboradora
da Revista Feminina, 1920] chamava a atenção das lei-
toras para as mulheres “vítimas do preconceito”, que
viviam fechadas no lar, arrastando “uma existência mo-
nótona, insípida, despida de ideais”, monetariamente
algemadas aos maridos.
Era nas cidades, as quais trocavam sua aparência
paroquial por uma atmosfera cosmopolita e metropo-
litana, que se desenrolavam as mudanças mais visí-
veis. Através de um processo diagnosticado por vários
críticos temerosos como imperfeito e desorganizado,
a nova paisagem urbana, embora ainda guardasse
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muito da tradição, era povoada por uma população
nova e heterogênea, composta de imigrantes, de
egressos da escravidão e de representantes das elites
que se mudavam do campo para as cidades.
Diante da variedade de questionamentos, experiên-
cias e linguagens tão novas que as cidades passaram a
sintetizar, intelectuais de ambos os sexos elegeram co-
mo os legítimos responsáveis pela suposta corrosão da
ordem social a quebra de costumes, as inovações nas
rotinas das mulheres e, principalmente, as modificações
nas relações entre homens e mulheres. Conjugaram-se
esforços para disciplinar toda e qualquer iniciativa que
pudesse ser interpretada como ameaçadora à ordem fa-
miliar, tida como o mais importante “suporte do Estado”
e única instituição social capaz de represar as intimida-
doras vagas da “modernidade”.
[...]
Homens e mulheres se acusavam reciprocamen-
te como os principais causadores de uma intolerável
corrosão dos costumes. Em 1916, a colaboradora
Bebé de Mendonça Lima declarava o homem culpa-
do pela ruína da felicidade conjugal: sempre com o
vinco “cavado entre os supercílios”, deixa rastros de
mau humor pela casa, embaraça os criados e ame-
dronta as crianças. Ofendido e ligeiro, o escritor René
Thiollier contra-atacou no número seguinte. [...]
Se as reclamações das mulheres estavam pon-
tuadas de mágoa e revolta, as dos homens pareciam
revelar desconfiança para com a “nova mulher”.
“Caso ou não caso”, indagava o conservador poeta
modernista Menotti Del Picchia, em 1920. “Eis o di-
lema que arrepia a espinha do celibatário.” E arre-
matava: “Os moços, com razão, andam ariscos [...]
Será justo que um moço trabalhador e honrado en-
tregue seu nome nas mãos de uma cabecinha fútil e
doidivanas [...]?”. [...]
O dever ser das mulheres brasileiras nas três pri-
meiras décadas do século foi, assim, traçado por um
preciso e vigoroso discurso ideológico, que reunia
conservadores e diferentes matizes de reformistas e
que acabou por desumanizá-las como sujeitos histó-
ricos, ao mesmo tempo que cristalizava determina-
dos tipos de comportamento convertendo-os em rí-
gidos papéis sociais. [...]
MALUF, M. e MOTT, M. L. Recônditos do mundo feminino. In:
SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da vida privada no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998. v. 3. p. 367-373.
Capítulo 2
Pr‡ticas de linguagem (Produ•‹o escrita)
Ao longo de todo o Capítulo 2, um conceito re-
corrente foi mobilizado: o de memória. Esse conceito
aparece de diferentes formas em vários ramos do saber
ligados às disciplinas escolares: na História, na Biologia,
na Filosofia, na Matemática, na Física, etc. Podemos
dizer que a palavra
mem—ria assume um caráter polis-
sêmico nos vários campos do conhecimento.
Para enriquecer o trabalho sobre esse tema, com a
ajuda dos professores das diferentes disciplinas escolares,
os alunos poderão realizar uma pesquisa sobre os funda-
mentos da noção de memória em cada disciplina. Por
exemplo:
1
Do ponto de vista biológico, o que é a memória e
como ela funciona? Que relações esse tipo de me-
mória mantém com a linguagem?
2
Em ramos relacionados à Matemática, como a
Ciência da Computação, de que maneira a memó-
ria funciona em sistemas computacionais e de
processamento de informações?
3
Na Filosofia, como diferentes correntes filosóficas
vêm compreendendo a noção de memória e sua
importância?
O trabalho poderá ser organizado por equipes e
resultar na elaboração de um seminário (um conjunto
de exposições orais coordenadas, em que cada equi-
pe terá pesquisado a respeito de um aspecto da me-
mória e deve apresentá-lo ao demais, expondo suas
conclusões).
Os alunos poderão mobilizar o gênero exposição
oral para preparar sua intervenção nesse seminário
interdisciplinar.
Unidade 2
Na Unidade 2, estudam-se os gêneros história em
quadrinhos (Capítulo 3) e gêneros dramáticos (Capítulo
4). A conexão entre eles se dá no campo de sua cons-
tituição: são marcados pelo processo de figurativização
e assim caracterizam-se por apresentarem um trabalho
intenso com as sequências narrativa e descritiva. Além
disso, tanto na história em quadrinhos quanto nos gê-
neros dramáticos tem papel central a sequência tex-
tual dialogal.
O processo de figurativização é estudado na seção
“Linguagem e texto”, texto 2 do Capítulo 4. Outra re-
lação entre os gêneros estudados neste capítulo reside
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na questão da multimodalidade: as histórias em quadri-
nhos são uma forma de texto que se constitui por meio
do código verbal e do visual; os gêneros dramáticos são
textos produzidos para serem encenados: seu caráter
multimodal se dá na própria materialidade textual, por
meio das inúmeras indicações que orientam sua trans-
posição cênica.
Nas seções “Diálogo com a literatura”, dos Capítulos
3 e 4, retomam-se características do lírico, do narrativo
e do dramático e conclui-se o estudo da primeira fase
do Modernismo brasileiro.
A atividade de produção de histórias em quadrinhos
e as atividades ligadas à transposição de gêneros devem
contribuir para desenvolver nos alunos as capacidades
de observação, análise, interpretação e intervenção. Por
isso, como projeto para a Unidade, sugerimos um traba-
lho que toma como mote a observação do cotidiano com
base na canção Cotidiano, de Chico Buarque, lida na
seção “Para começo de conversa” desta Unidade, que
enfoca esse tema.
A circulação dessas produções deve ocorrer por meio
da publicação de uma coletânea de histórias em quadri-
nhos elaboradas pelos alunos com base no conto resul-
tante da atividade de produção escrita do Capítulo 4.
Capítulo 3
Práticas de linguagem
Produ•‹o oral
A leitura em voz alta é uma atividade oral complexa,
embora seja relativamente comum (tanto como atividade
escolar quanto como prática social). A complexidade
reside no fato de que, ao oralizar o escrito, é preciso
fazer uma tradução de um código semiótico (a escrita)
para outro (a fala).
Como não existe correspondência biunívoca entre as
marcas da escrita e as da fala, uma vez que a escrita não
registra os marcadores de oralidade indicados, o leitor, ao
ler em voz alta, deve ser capaz de prever e calcular a me-
lhor forma de operar a tradução do escrito para o oral.
Algumas marcas do escrito, sobretudo os indicadores
sintáticos de segmentação e de enunciação, podem ajudar
nesse cálculo. No volume 1 desta coleção, procuramos
fornecer aos alunos algumas noções a respeito desses in-
dicadores. Portanto, o trabalho proposto nesta Unidade do
volume 3 complementa o que foi realizado no volume 1.
Para aprofundamento na questão das diferenças
entre o oral e o escrito, sobretudo no que se refere à
leitura em voz alta, consulte o livro As (man)obras da
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