e limites, onde se faz um estudo detalhado do estatuto disciplinar das ciên-
cias cognitivas. Cf. Pombo (2004, p. 78-87).
10
Para uma tipologia dessas práticas, remetemos de novo para Pombo (2004,
p. 91-97).
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capacidade, para se pronunciar sobre as prioridades ou
a validade dos resultados da ciência
11
.
Como defendia Humboldt, aquando da reforma da
Universidade de Berlim, aos governantes cabia unica-
mente proteger a autonomia da ciência e pagar o traba-
lho livre e independente dos seus praticantes
12
.
Porém, a partir da Segunda Guerra Mundial, a situa-
ção alterou-se. A ciência tornou-se porosa à política, dei-
xou-se penetrar pela economia. Ao aceitar profissionali-
zar-se, passou a definir-se como actividade orientada, não
tanto pelo desejo de verdade, mas pela capacidade de
produção de resultados práticos imediatamente aplicá-
veis na esfera política, militar ou económica
13
. Como diz
Jean Hamburger, a atitude dos poderes políticos e econó-
micos em relação à ciência deixou de ser o laissezfaire
para passar a ser o “ faire faire”
14
. Simultaneamente, a ciên-
cia passou a contaminar as mais recónditas dobras da
nossa vida. É assim que, hoje, não apenas assistimos de
fora ao épico, e por vezes trágico
15
, “espectáculo da ciên-
cia”, como, no interior das nossas vidas, somos constan-
temente convidados, não apenas a usar tudo que a ciên-
cia trouxe para facilitar a vida do homem, como a reco-
nhecer a proximidade fundamental que nos liga à ciên-
cia e que liga a ciência ao nosso cotidiano.
Por outras palavras, o alargamento do conceito de
ciência é tão profundo que, muitas vezes, é difícil estabe-
lecer a fronteira entre a ciência e a política, a ciência e a
economia, a ciência e a vida das comunidades humanas,
a ciência e a arte, e assim por diante.
Situação que reclama, qual seu contraponto, um pú-
blico cada vez mais informado, capaz de se interessar, de
se inquietar, de mesmo exigir, criticar, protestar, resis-
tir
16
. Situação que, portanto, arrasta consigo uma trans-
formação profunda da universidade, essa decisiva insti-
tuição humana que não é apenas uma escola, mas tam-
bém é uma escola. Ora, na medida em que a universida-
de não é uma escola, na medida em que ela é um polo de
investigação, um lugar de produção de conhecimento
novo, ela vai ter que acompanhar as transformações da
ciência contemporânea, o mesmo é dizer, vai ter que
adoptar, e simultaneamente apoiar, as exigências inter-
disciplinares que atravessam hoje a construção de novos
conhecimentos. E, para isso, vai ter que repensar as for-
mas clássicas de articulação disciplinar, vai ter que reor-
ganizar as suas divisões internas em faculdades e depar-
tamentos. Ou seja, aquilo que hoje é pedido às universi-
dades, o que está a acontecer — mais na vossa e menos
na minha — é justamente a constituição de institutos,
centros, laboratórios e projectos de investigação inter-
disciplinares, de programas interdepartamentais de
mestrado e doutoramento, de cursos flexíveis nos quais
os estudantes possam encontrar seu próprio (per)curso
por entre a variedade de cadeiras, módulos, seminários
que lhes são propostos. Sabemos que as universidades
que adoptam o modelo alemão, aquelas que têm por
unidade base o instituto de investigação e que funcio-
nam em regime de creditação, estão muito mais prepa-
radas para esse tipo de trabalho do que as universidades
napoleónicas (às quais pertencem as portuguesas),
aquelas que têm uma tradição altamente centralizada,
tanto do ponto de vista administrativo como curricular
e que, por essa razão, se encontram clivadas em faculda-
des e departamentos. De qualquer modo, o que está a
acontecer em todas as universidades — mais na vossa e
menos na minha — é que, mais cedo ou mais tarde, to-
das elas têm que acompanhar a inteligência interdisci-
plinar da ciência contemporânea.
Mas, se a universidade não é apenas uma escola, a
verdade que ela também é uma escola e, enquanto es-
cola, ela tem que preparar para a interdisciplinaridade.
Ela tem que perceber as transformações epistemológi-
cas em curso e, de alguma maneira, ir ao seu encontro.
Ela tem que se preparar, não apenas para não oferecer
resistências ao trabalho interdepartamental mas para,
além disso, promover esse tipo de experiências, facili-
tar novos tipos de configurações disciplinares, aceitar
fazer investigação sobre os novos problemas que se co-
locam à ciência contemporânea. Criar, se possível, cir-
cunstâncias e mecanismos que favoreçam a compreen-
são dos próprios fenómenos interdisciplinares que estão
13
É esse o sentido das posições de Habermas (1968) e lyotard (1979) relati-
vamente à racionalidade meramente operatória da ciência contemporânea.
14
Cf. Hamburger (1986, p. 8).
15
Do lado épico, refiram-se, por exemplo, as grandes descobertas do início do
século (como o rádio por Pierre e marie Curie em 1898, ou a penicilina em 1928,
por Fleming) ou as grandes viagens interplanetárias (de Yuri Gagarin, o primei-
ro homem no espaço em 1961, ou a descida na lua de Neil Armstrong em 1969);
do lado trágico, referiremos unicamente Hiroshima (1945), os desastres do
Challenger e o acidente atómico de Chernobyl, ambos no ano fatídico de 1986.
16
Para um estudo das transformações da relação entre a ciência e o públi-
co, veja-se I. Stengers (1993) que, de forma extremamente pertinente e
sugestiva, mostra como, de cidadãos incompetentes, o público se está a
transformar num conjunto de indivíduos capazes de participar activa e
criticamente face aos projectos e resultados da ciência contemporânea.
Sobre este mesmo assunto e suas determinações específicas no ensino das
ciências, veja-se ainda Pombo (2002).
11
Curiosamente, no século XX, até aos finais da década de 1960, quase
todas as epistemologias eram internalistas, isto é, defendiam a autonomia
da ciência. Bachelard, por exemplo, dirá que a ciência se constrói por
afastamento e ruptura face ao conhecimento vulgar (desqualificação do
“antes” face ao “depois”, do não científico face ao científico). A opinião
constitui um “obstáculo” ao progresso da ciência. A ciência é antiopinião,
contra a opinião. Numa fórmula célebre: “A opinião pensa mal; ela não
pensa. [...] Nada se pode fundar sobre a opinião: é preciso antes destruí-la”
(BACHelArD, 1938, p. 14). Também Kuhn, ao defender as virtudes da es-
tabilidade do paradigma, reforça a autonomia da comunidade científica
face às suas margens. Ao negar a ideia de que a ciência produz verdade,
valoriza ao extremo o paradigma no interior do qual unicamente essa ques-
tão se pode colocar, e, portanto, fecha a comunidade sobre si mesma.
A mesma imagem trabalha a epistemologia de Popper. A controvérsia que
constitui o motor da ciência é “da” e “na” comunidade científica que se
realiza. o terceiro mundo é completamente autónomo.
12
este tipo de afirmação, frequente nos textos programáticos de Humboldt,
pode encontrar-se, por exemplo, num texto de 1909 cuja tradução francesa
de André lacks, com o título “Sur l’organization interne et externe des éta-
blissements supérireurs à Berlin”, se pode encontrar in Ferry, Person e renault
(1979, p. 322).
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a ocorrer na ciência e na universidade. Por exemplo, 1)
tornando viável a constituição e desenvolvimento dos
novos campos interdisciplinares de investigação e en-
sino que o progresso do conhecimento científico re-
quer; 2) promovendo o desenvolvimento de atitudes,
hábitos e formas de trabalho interdisciplinares; 3) fo-
mentando a prática de um ensino que promova uma
integração dos saberes cada vez mais profunda; 4)
apoiando a constituição de programas de investigação
e de ensino em História das Ciências, em Epistemologia,
em Filosofia das Ciências. Em todos os casos, o objecti-
vo é criar oportunidades sérias para pensar o que está
a acontecer, tanto na esfera da produção, como na da
transmissão do conhecimento. Procurar perceber a
que corresponde o apelo interdisciplinar que atravessa
a ciência contemporânea e que, timidamente, emerge
nessa universidade e em todas universidades do mun-
do. Perceber que a interdisciplinaridade não é uma
questão de moda, que há qualquer coisa de decisivo
que nela se diz e por ela se procura pensar.
Finalmente uma última palavra para dizer que a
interdisciplinaridade se deixa pensar, não apenas na
sua faceta cognitiva — sensibilidade à complexidade,
capacidade para procurar mecanismos comuns, aten-
ção a estruturas profundas que possam articular o que
aparentemente não é articulável — mas também em
termos de atitude — curiosidade, abertura de espírito,
gosto pela colaboração, pela cooperação, pelo trabalho
em comum. Sem interesse real por aquilo que o outro
tem para dizer não se faz interdisciplinaridade. Só há
interdisciplinaridade se somos capazes de partilhar o
nosso pequeno domínio do saber, se temos a coragem
necessária para abandonar o conforto da nossa lingua-
gem técnica e para nos aventurarmos num domínio
que é de todos e de que ninguém é proprietário exclusi-
vo. Não se trata de defender que, com a interdisciplina-
ridade, se alcançaria uma forma de anular o poder que
todo saber implica (o que equivaleria a cair na utopia
beata do sábio sem poder), mas de acreditar na possibi-
lidade de partilhar o poder que se tem, ou melhor, de
desejar partilhá-lo. Como? Desocultando o saber que
lhe corresponde, explicitando-o, tornando-o discursi-
vo, discutindo-o.
Ao contrário da fórmula repetida segundo a qual a
nossa liberdade começa quando termina a liberdade do
outro, para arriscar fazer interdisciplinaridade é neces-
sário perceber que a nossa liberdade só começa quando
começa a liberdade do outro. Ou seja, temos que dar as
mãos e caminhar juntos.
Transcrição de conferência proferida pela professora Olga Pombo da
Universidade de Lisboa no Congresso luso-brasileiro de epistemologia e
interdisciplinaridade, realizado na Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, em junho de 2004.
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dex.php/liinc>. Acesso em: abr. 2016.
Sugestões de leitura
em todo este manual, indicamos obras teóricas e suge-
rimos leituras que podem contribuir para aprofundar o co-
nhecimento que diz respeito às teorias que embasaram esta
coleção e às metodologias de trabalho em sala de aula que
propomos. listamos aqui as obras cuja leitura ou consulta
certamente vai colaborar nesse intento.
ALMEIDA, F. J.; FRANCO, M. G. Avaliação para aprendi
zagem. São Paulo: Ática, 2011.
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São
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KERBRAT-ORECCHIONI, C. Análise da conversação. São
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Segunda parte
Orientações específicas
Volume 3
Capítulo inicial
Estudar com textos: a resenha, o
resumo e a síntese
Sugerimos que, ao trabalhar a técnica de constru-
ção de resenhas e resumos (ou sínteses), você ajude
os alunos a compreenderem que a escolha por um
desses gêneros depende essencialmente do objetivo
visado para a redução textual: há situações em que
não é conveniente opinar ou fazer análise crítica no(s)
texto(s) que deve(m) ser reduzido(s), ao passo que em
outras ocasiões é desejável que se manifeste a expres-
são opinativa; você pode comentar, também, que há
gêneros que guardam alguma semelhança com o re-
sumo e a resenha: a paráfrase, a paródia, o pastiche.
Sobre eles, sugerimos a consulta ao livro SANT’ANNA,
A. R. de. Paródia, paráfrase e cia. São Paulo: Ática,
2008.
Sugestões de atividades interdisciplinares –
Capítulo inicial
Atividade 4
A parlenda é um dos gêneros da tradição oral. Ela
constitui uma forma lúdica e circula em geral entre as
crianças, fazendo parte de inúmeras brincadeiras e
jogos infantis. Nesse universo, há também outros gê-
neros próximos da parlenda, como as cantigas de roda
e as canções infantis.
Os alunos poderão valer-se dos seus conhecimen-
tos prévios sobre brincadeiras e jogos infantis e de
pesquisas com pessoas de sua comunidade para de-
senvolver uma atividade de (re)descoberta das parlen-
das, cantigas de roda e canções infantis que circulam
ou circulavam no bairro ou na cidade natal. Sugerimos
que essa atividade tenha a colaboração das disciplinas
de História e Sociologia.
A pesquisa por parlendas e cantigas de roda pode
começar pelo levantamento daquilo que eles mesmos
conhecerem ou souberem de memória. Em seguida,
as versões rememoradas poderão ser registradas e
confrontadas entre si. O segundo passo dessa ativida-
de é localizar pessoas da família e/ou da comunidade
(de diferentes faixas etárias) e entrevistá-las para re-
colher outras parlendas e cantigas de roda e mesmo
outras versões das que já tiverem sido registradas no
início da atividade.
É nesse passo da atividade que a intervenção do
professor de Sociologia pode ser importante: ele de-
ve ajudar os alunos a localizarem pessoas da comu-
nidade e também a preparar roteiros das entrevistas.
Nessas entrevistas, outras questões pertinentes à
pesquisa poderão ser feitas, como, por exemplo, o
tipo de brincadeira ou situação em que o texto oral
recolhido é(era) empregado, qual sua função, etc. É
interessante também registrar a memória das pesso-
as da comunidade em cujo contexto se inserem as
parlendas ou cantigas.
A tabulação e o tratamento das informações oriundas
das entrevistas também poderão ser realizados com a
colaboração do professor de Sociologia (lembramos que
metodologias de entrevistas e sondagens são comuns
em atividades das Ciências Sociais). Para complementar
esse trabalho de entrevistas, pode ser proposta uma
pesquisa sobre as brincadeiras infantis e outros textos
da tradição oral, ainda em circulação ou não.
O resultado desse trabalho poderá ser apresenta-
do em uma exposição oral para a comunidade, em
uma data combinada entre os professores participan-
tes da atividade e os alunos. Na pesquisa, principal-
mente se houver apoio em fontes bibliográficas sobre
as brincadeiras que já não estão em circulação, o pro-
fessor de História poderá ajudar os alunos, indicando
fontes de pesquisa e orientando a coleta de informa-
ções nessas fontes.
Essa atividade pode ser realizada antes do início
do estudo da Unidade 1, que trata exatamente do
tema memória. Dessa forma, ela poderá servir de es-
tímulo ao que deve ser trabalhado ao longo dessa
Unidade.
Atividade 11
A sugestão de produção escrita indicada na ativi-
dade 11 propõe aos alunos que elaborem uma resenha
crítica do texto Medo da eternidade, de Clarice
Lispector, do Capítulo 7. Sugerimos que você observe
nas resenhas produzidas pelos alunos se, ao fazerem
os comentários críticos do texto, eles mobilizam capa-
cidades de apreciação estética de obra literária já con-
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quistadas no trabalho desenvolvido com textos literá-
rios nos anos anteriores.
No texto 3 (resenha de um álbum musical), a obra
que dá origem à resenha provém de uma linguagem
artística diversa da literatura. A exemplo dessa rese-
nha, os alunos poderão elaborar comentários críticos
e resenhas sobre obras de arte variadas. Essa ativida-
de poderá ser realizada em cooperação com o profes-
sor de Arte, que auxiliará os alunos a reconhecerem
critérios de apreciação estética de linguagens artísti-
cas, como a música, a pintura, a escultura, o desenho,
entre outras.
Oriente os alunos sobre o fato de que diversas
obras e linguagens artísticas poderão ser objeto da
resenha, como um filme, um livro, um aplicativo, um
game, um CD, um DVD ou uma música em especial que
tenha sido lançada; um espetáculo a que tenham assis-
tido; uma determinada obra que tenham visto em uma
exposição; entre outras. Outra possibilidade seria, por
exemplo, que as obras a serem apreciadas pelos alunos
nessa atividade fossem definidas com antecedência por
você e pelo professor de Arte, baseando-se em algum
conteúdo que tenha sido ou que esteja sendo trabalha-
do em Língua Portuguesa e/ou em Arte este ano ou em
anos anteriores.
Esse apoio do professor de Arte será essencial
para que consigam formular seus comentários e
apreciação crítica ao produzir as resenhas: ao mesmo
tempo que ampliam sua capacidade de elaboração
de resenhas, os alunos também poderão aperfeiço-
ar sua capacidade de apreciação de obras de arte
variadas.
Unidade 1
No projeto da Unidade 1, abordamos gêneros em
que predominam sequências textuais narrativas: a len-
da (Capítulo 1) e as memórias (Capítulo 2). Além disso,
os dois têm em comum o fato de, pela forma como
veiculam atualmente, guardarem entre si um traço co-
mum: resultam sempre de uma forma de registro.
Como as lendas são originárias da tradição oral,
você poderá valer-se dessa característica para retomar
noções abordadas no volume 1 da coleção, como a de
literatura oral (oratura), relacionando-a com a forma
pela qual os gêneros estudados na Unidade 1 se cons-
tituem. Essa relação com a oralidade deve ser tratada
em comparação com outra característica desses dois
gêneros: hoje eles resistem e se perpetuam principal-
mente por meio de registros escritos e constituem tra-
dições ligadas à própria origem de determinado povo
ou cultura.
As memórias (Capítulo 2) nascem do registro escri-
to de lembranças e memórias, em geral pessoais, com
projeções enunciativas que ressaltam sua vinculação a
uma entidade subjetiva explícita (a do memorialista).
Isso as diferencia das lendas, em que o narrador é, qua-
se sempre, caracterizado por assumir um ponto de vis-
ta externo, onisciente e neutro das memórias, em que
a narrativa se desenvolve a partir do ponto de vista do
memorialista que se projeta como narrador em primei-
ra pessoa.
A ideia comum do registro é tratada nas seções de
oralidade, em que se propõe aos alunos um caminho
possível para entender como e por que são feitos regis-
tros escritos a partir do discurso oral produzido por ou-
trem.
Em meio ao estudo desses gêneros narrativos nes-
ta Unidade, propomos iniciar também o trabalho com
a literatura do século XX. Muito especialmente no
Brasil, o Modernismo teve como característica essen-
cial a busca pelo que seria genuinamente nacional, o
que, na literatura, se mostra no esforço dos autores
para conquistar uma identidade literária brasileira.
Diversos escritores retomam as histórias da tradição
oral brasileira, em busca de uma mitologia nacional,
com base na qual constituíram parte de suas obras.
Nesse contexto está Mário de Andrade, a quem damos
enfoque na seção “Diálogo com a literatura” desta
Unidade.
Assim, para auxiliar os alunos a entenderem o pa-
pel fundamental do registro, o projeto
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