n. 25, 1996.
• Os professores analisam o oral a partir da escrita.
formal escrita da língua.
são múltiplas. Antes de aprenderem a ler, os alunos da
textos escritos e praticam o ditado para o adulto. A leitu-
de um texto escrito de autor. A análise das formas de in-
crito relativamente complexo.
ções muito variáveis que estas mantêm com a escrita. A
MANUAL DO PROFESSOR
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tutiva das unidades textuais. São instrumentos — ou
melhor, megainstrumentos, visto que podemos conside-
rá-los como a integração de um grande conjunto de ins-
trumentos num todo único — que fazem a mediação da
atividade de linguagem comunicativa. Falta-nos ainda
escolher, dentre uma enorme variedade de gêneros,
aqueles que podem, e talvez mesmo devam, tornar-se
objeto de ensino. Já que o papel da escola é sobretudo o
de instruir, mais do que o de educar, em vez de abordar-
mos os gêneros da vida privada cotidiana, é preciso que
nos concentremos no ensino dos gêneros da comunica-
ção pública formal. Por um lado, aqueles que servem à
aprendizagem escolar em francês e em outras discipli-
nas (exposição, relatório de experiência, entrevista, dis-
cussão em grupo, etc.) e, por outro lado, aqueles da vida
pública no sentido
lato do termo (debate, negociação,
testemunho diante de uma instância oficial, teatro, etc.).
A noção de oral formal merece esclarecimento. Não
nos referimos aqui a prescrições normativas ( fonéticas,
morfológicas e gramaticais) que se exerceriam sobre um
oral padrão, bastante fantasioso, independente das situa-
ções de comunicação efetivas. Para nós, as característi-
cas do oral formal decorrem das situações e das conven-
ções ligadas aos gêneros. Portanto, seria melhor falar-
mos de características convencionais do funcionamento
dos gêneros orais realizados em público — característi-
cas que são diferentes de um para outro gênero (conto
oral, conferência, homilia, debate, entrevista jornalística,
entrevista profissional, etc.) e cujo grau de formalidade é
fortemente dependente do lugar social de comunicação,
isto é, das exigências das instituições nas quais os gêne-
ros se realizam (rádio, televisão, igreja, administração,
universidade, escola, etc.).
A prioridade dada aos gêneros públicos formais não
decorre somente de razões pedagógicas, mas também
psicológicas e didáticas. Os alunos geralmente dominam
bem as formas cotidianas de produção oral. Elas funcio-
nam como reação imediata à palavra de outros interlocu-
tores presentes e podem ser consideradas autorreguladas,
à medida que o funcionamento de linguagem constitui-se,
em grande parte, graças a seu próprio desdobramento. Os
quadros de apreensão da situação são implícitos e podem
transformar-se ao longo da própria atividade de lingua-
gem. A gestão da atividade de linguagem é principalmen-
te local. O papel da escola é levar os alunos a ultrapassar
as formas de produção oral cotidianas para os confrontar
com outras formas mais institucionais, mediadas, parcial-
mente reguladas por restrições exteriores.
Os gêneros formais públicos constituem as formas
de linguagem que apresentam restrições impostas do
exterior e implicam, paradoxalmente, um controle mais
consciente e voluntário do próprio comportamento pa-
ra dominá-las. São, em grande parte, predefinidos, “pré-
-codificados” por convenções que os regulam e que defi-
nem seu sentido institucional. Mesmo que se inscrevam
numa situação de imediatez, já que muito frequente-
mente a produção oral se dá em face dos outros, as for-
mas institucionais do oral implicam modos de gestão
mediados, que são essencialmente individuais. Exigem
antecipação e necessitam, portanto, de preparação.
[...]
3. Transformar o objeto para o aluno: a variante
escolar do gênero
Quando um gênero textual entra na escola, produz-se
um desdobramento: ele passa a ser, ao mesmo tempo, um
instrumento de comunicação e um objeto de aprendiza-
gens. Portanto, a escolarização dos gêneros orais suscita
inevitavelmente transformações, algumas sob o controle
mais ou menos consciente das situações didáticas. Desse
ponto de vista, os gêneros escolares podem ser conside-
rados variantes dos gêneros de referência, que visam ser
acessíveis ao aluno. De fato, a iniciação aos gêneros tex-
tuais complexos, como os gêneros orais públicos, não po-
de ser feita sem que se levem em conta as possibilidades
dos aprendizes. Essas variantes devem também levar em
conta os objetivos de natureza ética que a escola coloca
para o ensino. Por exemplo, está fora de questão abordar
certos temas controversos para manipular os alunos ou
fazer do debate em sala de aula esse mercado de peixe que
muito frequentemente observamos nos debates televisi-
vos... Acrescente-se ainda o fato de que a transposição pa-
ra a escola de um gênero como a entrevista ou o debate,
que habitualmente têm lugar numa instituição como o
rádio ou os espaços da política, tem como efeito mudar,
ao menos parcialmente, sua função. Portanto, ele não é
mais o mesmo, pois corresponde a um outro contexto co-
municativo; somente ficcionalmente ele continua o mes-
mo, por assim dizer, sendo a escola, de um certo ponto de
vista, um lugar onde se finge, o que é, aliás, uma eficiente
maneira de aprender.
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY; Bernard; HALLER, Sylvie. O oral como
texto: como construir um objeto de ensino. In:
Gêneros orais e escritos
na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 149-185.
o texto a seguir é um extrato do livro As (man)obras da
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