referem ao ensino do francês como língua materna. Porém,
1. Oral e escrita: duas formas de realização da
cês. Se o oral encontra dificuldades para tomar seu lugar
MANUAL DO PROFESSOR
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compreensão, se pensarmos além das diferenças superfi-
ciais diretamente ligadas ao modo de produção [...]
1.1. A relação entre oral e escrita em linguística
Em oposição à linguística histórica, que tinha, es-
sencialmente, uma visão retrospectiva e fundava seus
estudos sobre os textos escritos, a linguística estrutural
atribuía uma prioridade ao oral. Estudava-se primeira-
mente a cadeia da fala (e escuta) e, somente depois, estu-
dava-se a cadeia escrita e lida [...].
A confusão persiste ainda hoje, apresentando-se a
língua escrita como um simples sistema substitutivo da
língua oral (“natural”) ou a expressão escrita como uma
simples transposição da expressão oral. Mas, como no-
tamos anteriormente e como analisa com pertinência
Walter
1
, a escrita está longe de representar uma “réplica
exata” do oral. A escrita, vista como sistema de notação
da linguagem oral, adquire um caráter incompleto e ine-
xato. A transcrição do oral, que anota o fluxo do oral por
meio de unidades descontínuas, coloca uma série de
problemas para aqueles que têm de dar conta de aspec-
tos ligados às dimensões prosódicas; as convenções grá-
ficas impõem uma ordem num domínio cujos mecanis-
mos são complexos e ainda mal conhecidos
2
.
Uma vez que a escrita não pode ser considerada
uma simples substituta do oral, será que então devemos
considerar a língua e a escrita como dois sistemas dife-
rentes, irredutíveis? Para responder a esta questão, ten-
taremos esclarecer dois mal-entendidos.
O primeiro diz respeito aos registros ou às varia-
ções da língua. Com frequência, a linguagem falada é
considerada pobre, comum, distensa, popular e mal es-
truturada, enquanto a língua escrita constitui o funda-
mento de toda a norma de correção do francês padrão.
Essa simplificação ignora as múltiplas possibilidades de
escrever numa variante “popular” ou “familiar” e de fa-
lar num registro cultivado ou acadêmico. As formas pa-
drão e não padrão manifestam-se tanto no oral quanto
na escrita. [...]
O segundo mal-entendido se refere aos aspectos le-
vados em consideração para descrever o francês oral e
para precisar uma eventual distinção que marcaria a dis-
tância entre o sistema do oral e da escrita.
1.2. As relações entre oral e escrita no ensino
No ensino, o oral também não está bem compreen-
dido como objeto autônomo de trabalho escolar, e, se-
guindo a concepção da linguística histórica, permanece
bastante dependente da escrita. Como mostra a pesqui-
sa sobre as práticas dos professores realizada por Di
Pietro e Wirthner
3
, ele permanece incompreendido,
1
WAlTer, Henriette. Le Français dans tous les sens. Paris: laffon, 1988.
2
BlANCHe-BeNVeNISTe, Claire et al. Le Français parlé. Paris: CNrS-Inalf,
Didier Érudition, 1997.
3
DI PIeTro, J. F.; WIrTHNer, m. Oral et écrit dans des représentations des
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