REFORMAS URBANAS: A CIDADE PARA QUEM?
Como a maioria das cidades industriais não tinha
governança local, os governos nacionais adotaram
uma série de medidas de regulação
urbana para
impor uma ordem que consideravam adequada aos
novos tempos. Ainda na primeira metade do século
XIX, a cidade de Manchester criou progressivamen-
te dispositivos legais com a finalidade de regular a
moradia e a infraestrutura urbana. Dentre eles, era
proibida a realização de reuniões com mais de 50
pessoas, havia permissão para que autoridades lo-
cais pavimentassem ruas e coletassem o lixo, além
do fechamento de casas consideradas impróprias
para a habitação humana.
As reformas empreendidas
na segunda metade
do século XIX e no início do século XX foram marca-
das por planos de caráter estético e sanitário, que
visavam à retirada da população pobre que vivia nos
centros das metrópoles que se formavam, como Pa-
ris, Londres e Nova York. Essas reformas estavam
associadas ao ideário de modernidade,
expresso por
meio de ruas largas, casas ventiladas e parques.
Apesar de não ser pioneira na reforma urba-
na, Paris ganhou repercussão e inspirou a reforma
de várias cidades ao redor do mundo, inclusive no
Brasil. As intervenções urbanísticas realizadas por
Georges-Eugène Haussmann (1809-1891),
prefeito
de Paris por 17 anos (1853-1870), transformaram
completamente a cidade. As fachadas dos prédios
ganharam nova estética e passaram a ser alinhadas
em amplas avenidas arborizadas e iluminadas. No-
vos prédios públicos foram construídos – dentre eles
escolas, hospitais e teatros – e o sistema de trans-
portes foi reorganizado e modernizado.
Nesse contexto, o urbanismo funcionalista ga-
nhou força nas primeiras décadas do século XX.
Entre suas características
estava a defesa de um
modelo urbano perfeito, caracterizado pela higiene
e expresso na presença de áreas verdes, vias públi-
cas largas e livres de congestionamentos, bem como
na repartição da cidade em espaços diferenciados de
acordo com suas funções (zonas de comércios, mo-
radias, indústrias, lazer, etc.).
A cidade de Viena,
então capital do Império
Austro-Húngaro (atual
Áustria),
passou por uma
reforma urbana durante
o século XIX, com a
adequação da arquitetura
dos edifícios às suas
funções, a construção
de avenidas largas e
bulevares, bem como de
grandes áreas verdes,
como o Volksgarden, na
fotografia. Foto de 1893.
Em parte, essas medidas
serviram para segregar
a população indesejada. A criação de bairros operá-
rios nas periferias dos grandes centros é um exem-
plo desse processo. Observa-se que as reformas
urbanas empreendidas foram implantadas a partir
dos interesses do próprio capital. Dessa maneira, a
melhoria da qualidade de vida de seus habitantes
ficou relegada a segundo plano.
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