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I N T R O D U ‚ Ì O
Neste volume, o ambiente e o uso dos recursos natu-
rais pela humanidade estarão no centro de seus estudos,
reflexões e discussões. As Ciências
Humanas e Sociais
Aplicadas dedicam-se a variados aspectos dessa temá-
tica, a começar pela própria discussão sobre a relação
entre natureza e sociedade, que se relaciona com a com-
petência específica 1 da BNCC. O ser humano faz parte
da natureza ou se diferencia dela por meio da cultura?
Afinal, o que é natureza? Esse debate preliminar permite
compreender de que maneira se formou e se consolidou
uma concepção prevalente no pensamento ocidental: a de
que os elementos naturais são passíveis de exploração e
dominação ilimitadas pela humanidade.
Um olhar sobre diversas sociedades não ocidentais, in-
cluindo a de muitos povos indígenas que vivem no território
brasileiro, possibilita descobrir concepções radicalmente
diferentes de como o ser humano
pode se relacionar com
os demais seres. Em um tempo em que a transformação
do ambiente pela humanidade parece se impor cada vez
mais na Terra, também se articula, em escala mundial,
uma revisão dos padrões de consumo e exploração de re-
cursos e uma busca pela diminuição do impacto da ação
humana sobre o ambiente. Você pode notar, portanto, que
a competência específica 3 de Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas será trabalhada ao longo de todo o volume.
A complexidade dessa temática exige também o cruza-
mento de conhecimentos históricos, filosóficos, geográfi-
cos e sociológicos, além de contribuições da Demografia,
da Antropologia, da Arqueologia e de disciplinas de outras
áreas do conhecimento. Trata-se de conhecer o passado
e o presente para discutir as perspectivas para o futuro da
humanidade e do planeta inteiro.
É indiscutível que a população humana teve um cresci-
mento inédito no último século e ainda segue crescendo.
Isso tem implicações crescentes
em termos de saneamen-
to básico, uso do espaço e dos recursos naturais. Nessa
dinâmica de expansão, a humanidade precisará encontrar
caminhos para conciliar seu bem-estar e o do ambiente,
sob o risco de inviabilizar ambos em um futuro não tão dis-
tante. No trabalho com este volume, as competências ge-
rais 1, 2, 5, 7 e 10 da BNCC serão mobilizadas para pensar,
propor, discutir e difundir ideias que permitam garantir um
futuro melhor para você e para todo o mundo.
No mundo capitalista globalizado de hoje,
a agricultura
mecanizada de larga escala convive em permanente ten-
são com o extrativismo de pequena escala e a agricultu-
ra familiar. É possível conciliar respeito à biodiversidade
e desenvolvimento econômico, garantia de condições so-
cioeconômicas dignas e respeito a tradições culturais e
costumes ameaçados de desaparecer, como os de popula-
ções ribeirinhas, de comunidades indígenas
e quilombolas
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Panorama da cidade
de São Francisco
(Estados Unidos) em
9 de setembro de
2020. A fumaça de
incêndios em áreas
florestais próximas
tomou a cidade,
filtrando a luz do Sol
num efeito visual que
assombrou o mundo.
Na atualidade, boa parte da humanidade é dependente de recursos fósseis, em geral poluentes e não
renováveis. É fato que o desenvolvimento tecnológico, que se acelerou em ritmo inédito nos últimos três sé-
culos, teve efeitos
nefastos para a atmosfera, o solo e as águas, mas seus novos desdobramentos também
trazem soluções sustentáveis, se usados com consciência socioambiental. Energia solar e eólica, bioplás-
ticos e outras invenções são promissoras para resolver o impasse entre bem-estar e sustentabilidade, mas
ainda têm alto custo de implantação e escala limitada.
Nunca esteve tão evidente que o desenvolvimento e o bem-estar humanos, a defesa de uma economia
sustentável e o respeito ao ambiente e à natureza estão entrelaçados, se quisermos garantir um futuro para
o planeta e para nós mesmos. Esperamos que este volume lhe dê subsídios para fortalecer a reflexão e o
debate e para pensar em possibilidades de ação individual e conjunta.
Stephen Lam/Reuters/Fotoarena
Luciana Whitak
er/P
ulsar
Imagens
Ribeirinha debulhando cacho
de açaí na Reserva Extrativista
Tapajós-Arapiuns em
Santarém (PA), 2017.
Um dos
desafios do século XXI é fazer
uso de técnicas adequadas
e de uma organização justa
das cadeias produtivas para
conciliar o atendimento
às necessidades humanas
e a sustentabilidade do uso
dos recursos naturais.
e de sitiantes? É
um debate urgente, que articula a habilidade EM13CHS504 a diversas outras previstas na BNCC,
pois está em jogo a continuidade de vidas humanas e não humanas, de patrimônios materiais e imateriais.
Cientistas de diferentes áreas do conhecimento e movimentos ambientalistas estão cada vez mais pre-
sentes no debate público, alertando para os riscos da exploração desmedida de recursos e do descarte de
resíduos. Eles põem em discussão não apenas o papel dos Estados, dos organismos internacionais e das
grandes corporações na solução desses problemas, mas também o de cada indivíduo, em suas práticas coti-
dianas de produção, consumo e descarte. Debater e buscar encontrar as melhores práticas possíveis nesse
cenário é o que propõe a habilidade EM13CHS304.
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