N ATA L I D A D E , F E C U N D I D A D E ,
P O L Í T I C A S P Ú B L I C A S E
T R A D I Ç Õ E S C U LT U R A I S
A escolha de ter um filho envolve uma série de questões, que vão desde aspec-
tos econômicos até culturais. A Alemanha é um dos países
com a menor taxa de
natalidade do mundo, com média de 9,5 nascimentos para cada mil habitantes
em 2018. No Níger, a taxa de natalidade no mesmo período foi de 46 nascimen-
tos para cada mil habitantes, conforme dados do Banco Mundial.
Quais fatores
influenciaram na construção dessas duas realidades tão distintas?
A Alemanha é um dos países mais industrializados do mundo, completa-
mente inserido no sistema capitalista após a queda do muro de Berlim (1989).
Os padrões sociais da sociedade alemã não estimulam a população a ter filhos.
Com o sexto maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo (0,916
em 2015), o mercado de trabalho competitivo demanda anos de estudo e qua-
lificação, o que faz com que homens e mulheres adiem o projeto de ter filhos.
Os altos gastos financeiros demandados por uma criança, a escassez de va-
gas em creches e a falta de uma rede de apoio para os pais também desesti-
mulam novos nascimentos. Soma-se a isso o fato
de que ter filhos contribui
cada vez menos para o
status social e, em certos círculos, pode comprometê-
-lo. Famílias numerosas são vistas sob olhar crítico, enquanto é perfeitamente
aceitável não ter filhos. A influência da religião entre os alemães nas decisões
familiares é muito reduzida. Assim, em 2018, a taxa de fecundidade – número
de filhos por mulher – foi de apenas 1,46.
Em contraposição, o Níger apresenta baixo desenvolvimento industrial e o menor
IDH do mundo (0,348 em 2015). O país se encontra às margens do capitalismo global
e é marcado por conflitos religiosos e étnicos. A religião
ainda ocupa um papel rele-
vante nas decisões familiares, e ter muitos filhos é visto tradicionalmente como sinal
de riqueza e poder. Além disso, ter filhos ou não é uma decisão que cabe aos maridos.
Nos últimos anos, os homens são estimulados a participar de programas de
conscientização sobre planejamento familiar em encontros denominados “Es-
cola de marido”. Contudo, essa mudança tem ocorrido lentamente,
refletindo
hábitos culturais arraigados. Com uma taxa de fecundidade de 6,35 em 2018,
estima-se que a população deva triplicar até 2050.
Notem que realidades distintas demandam políticas públicas diferenciadas.
Assim, os países que já se encontram no fim da transição demográfica estão
sendo obrigados a adotar políticas públicas de incentivo à natalidade, como
vem acontecendo em boa parte da Europa, com a ampliação dos direitos a li-
cenças-maternidade e licenças-paternidade, aumento de férias e inclusive be-
nefícios em dinheiro para aqueles que decidem ter filhos.
Com uma realidade
distinta, alguns países pobres adotaram políticas de controle de natalidade,
com a criação e expansão da rede de planejamento familiar.
1
De que maneira o papel social e as condições econômicas das mulheres se refletem na estrutura etária
da população? Considere os casos da Alemanha e do Níger para avaliar a questão e discuta sua opinião
com os colegas.
2
Como as políticas públicas relacionadas ao incentivo à reprodução ou ao controle da natalidade podem
impactar a vida das mulheres? Discuta a questão com os colegas.
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