R O T E I R O D E E S T U D O S
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Leia os textos a seguir, que refletem sobre o des-
carte e o aproveitamento de resíduos nas cidades
contemporâneas.
T E X T O I
A destinação inteligente de resíduos orgâni-
cos para, por exemplo, produzir adubo, deveria
ser regra no Brasil há pelo menos nove anos,
desde que a Política Nacional de Resíduos Só-
lidos entrou em vigor.
[…] A empresa do engenheiro ambiental Lu-
cas Chiabi cresce 4% ao mês: “No Brasil, 51%
do que a gente joga fora é orgânico. A gente
está, literalmente, desperdiçando uma oportu-
nidade de estar produzindo adubo e insumo
agrícola numa escala monumental”.
Outra exigência da lei que nunca foi cumprida
é a erradicação dos lixões. São, ao todo, três mil
em todo o país, contaminando o solo e as águas.
NOVE anos após Lei de Resíduos Sólidos, coleta
de lixo não melhora no Brasil. Jornal Nacional, 5
ago. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/
jornal-nacional/noticia/2019/08/05/nove-anos-apos-
lei-de-residuos-solidos-coleta-de-lixo-nao-melhora-
no-brasil.ghtml. Acesso em: 19 jul. 2020.
T E X T O I I
Dar visibilidade a quem já é protagonista. Se
essa frase parece sem sentido é porque a rea-
lidade não faz sentido algum. Catadoras e ca-
tadores realizam a parte mais exaustiva e im-
portante da cadeia da reciclagem, mas são os
menos reconhecidos e os menos remunerados.
[…] Mas esse descaso não é por acaso. Gover-
nantes e empresários ignoram o catador de
maneira deliberada: em geral oriundos de um
contexto social vulnerável, na prática os profis-
sionais da reciclagem são mão de obra gratuita.
É assim que os catadores são vistos por muitos
dos poderosos do setor público e privado. […]
Enquanto a onipresente expressão sustentabili-
dade ambiental vai se esvaziando a cada peça
publicitária, a cada
post no Instagram, a cada dis-
curso oficial, os catadores estão trabalhando de
domingo a domingo pra limpar as ruas do gran-
des centros urbanos do Brasil. […] A vanguarda
empírica da sustentabilidade ambiental é com-
posta por um milhão de brasileiros cujo trabalho
tem como matéria-prima o resíduo. Enxergar no
resíduo um recurso não é apenas inteligente e
até poético: é também uma das principais for-
mas de evitar que continuemos nessa marcha-
-ré em direção ao precipício em chamas cavado
geral e da urbana em particular. Entretanto, ape-
nas 20% dessas moradias fizeram parte direta da
construção e do financiamento por parte dos go-
vernos (federal, estaduais e municipais) e de suas
agências de fomento. […]
Por outro lado, os investimentos em infraes-
trutura e serviços urbanos, empreendidos pelo
Estado, foram amplos em espaços de interesse
de empresas, imobiliários e bancários, benefi-
ciando diretamente as classes de maior renda.
[…] A atuação concentradora e especulativa
do capital imobiliário, retendo áreas centrais
urbanizadas e terras urbanizáveis à espera de
valorização, implicou aos trabalhadores po-
bres a ocupação de sítios geomorfológicos,
com riscos consideráveis […].
Ao enunciar as suas especificidades, as favelas
também revelam a sua inserção na vida da socie-
dade urbana. Podemos afirmar, inclusive, que as
favelas representam a maximização das possibi-
lidades econômicas, culturais e sociais, realizada
pelos pobres, nos seus mais legítimos esforços
para habitar a cidade. Mesmo nas mais precárias
de suas configurações de habitação e serviços
básicos, as favelas são territórios onde os pobres
afirmaram sua presença no espaço urbano.
BARBOSA, Jorge Luiz; SILVA, Jailson de Souza. As
favelas como territórios de reinvenção da cidade.
Cadernos do Desenvolvimento Fluminense, Rio de
Janeiro, n. 1, fev. 2013, p. 120, 124.
pela escavadeira do consumo desenfreado e da
exploração infinita de recursos naturais.
PIMP MY CARROÇA. Manifesto. Disponível em:
http://pimpmycarroca.com/manifesto/. Acesso em:
19 jul. 2020.
Com base na leitura dos textos, faça o que se pede
a seguir.
a)
É comum que seja subestimado o papel dos ato-
res urbanos no padrão de produção de alimen-
tos. Identifique características da constituição
das cidades que favoreceram essa percepção e
discuta sua pertinência.
b)
Explique a “poesia” que há por trás do trato dos
resíduos como recurso segundo a abordagem
do Texto II. Como essa prática destoa da lógica
que organiza o modo de vida das cidades hoje?
Explique sua resposta, relacionando-a à situa-
ção dos catadores urbanos.
c)
Muitos coletivos buscam dar visibilidade aos
catadores e melhorar suas condições de traba-
lho. Reúna-se com mais um colega e elaborem
uma proposta de intervenção na sua escola ou
no entorno que colabore para esse objetivo.
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