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A cultura digital propiciou novas formas de articulação entre
pessoas de uma mesma sociedade e de sociedades muito diferen-
tes. Também facilitou
o aparecimento, no cenário artístico, de no-
vas vozes, novos olhares, novos gestos, mais livres e menos pa-
dronizados. Na última década, o Brasil tem colocado em prática
uma política cultural que busca promover sua pluralidade – um
caminho que fortalecerá cada vez mais nosso papel no mundo.
O que é arte?
Definir arte é bem mais complicado que definir cultura. Alguns
artistas são reconhecidos por toda humanidade como tais. Nin-
guém pensa em questionar se as telas pintadas por Van Gogh, as
peças escritas por Shakespeare ou as músicas
compostas pelos
Beatles são arte. Se olharmos para trás, veremos que algumas
obras tiveram tamanha força, influenciaram de tal modo a produ-
ção de outros artistas e o comportamento da sociedade, que se
tornaram modelos do que seria a grande arte.
Como não existem regras para determinar claramente o que
caracteriza essas grandes obras de arte, o máximo
que podemos
fazer é nos entregar a fruí-las, observá-las e tentar alcançar uma
compreensão, numa espécie de diálogo apaixonado. Quanto mais
próximos estivermos de uma obra, mais sensibilizados ficaremos
para apreciá-la.
O artista e o poeta
possuem uma luz
interior que transforma
os objetos para criar um
mundo novo, sensível,
organizado, um mundo
vivo que é em si mesmo
o sinal inequívoco da
divindade.
Henri Matisse (1869-1954), pintor francês.
Arte é o exercício
experimental da
liberdade.
Mario Pedrosa (1900-1981), crítico brasileiro.
Arte é aquilo que o
artista diz que é arte.
Marcel Duchamp (1887-1969), artista francês.
Acima,
Noite estrelada
(1889), óleo sobre tela de Vincent van Gogh. À direi-
ta, no alto, o ator inglês Laurence Olivier em uma adaptação para o cinema
da peça
Hamlet
(escrita por William Shakespeare no início do século XVII),
de 1948. Ao lado,
capa do disco
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
, dos
Beatles, de 1967.
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A dificuldade em estabelecer tais regras está no fato de que até
mesmo nossa visão sobre as obras mais consagradas é suscetível
de transformações. Por mais que se deseje uma objetividade abso-
luta, a história está sempre “contaminada” pelo espírito da época
em que foi contada. Essa “contaminação” é evidente, por exemplo,
quando assistimos hoje a um filme histórico sobre a Roma anti-
ga feito pela indústria cinematográfica norte-americana em déca-
das passadas.
Vemos no figurino, nos diálogos, em cada detalhe,
as duas épocas simultaneamente, como camadas sobrepostas: o
tempo em que se passa o enredo e o tempo em que ele foi filmado.
A arte não é artigo de
luxo. Museus, abram
sua mente e seu coração!
A arte é para todos!
Noah Fischer (1977-), artista norte-americano.
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Estas fotos mostram três interpretações de Cleópatra (69 a.C.-30 a.C.), última rainha do Egito, filmadas em décadas diferentes.
Da esquerda para a direita: Theda Bara,
Cleópatra ( dir. J. Gordon Edwards); Elizabeth Taylor,
Cleópatra ( dir. Joseph L. Mankiewicz)
e Lyndsey Marshal,
Roma, série de televisão
criada por John Milius, Bruno Heller e Willian MacDonald. Em que épocas esses três
filmes parecem ter sido feitos?
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Assim, podemos dizer que cada época julga o passado com seus
próprios olhos. E o panorama da arte que vamos estudar neste
livro será visto com olhos do início do século XXI. Dentro de meio
século, a arte provavelmente será percebida de outra maneira.
Para definir arte é preciso saber como ela foi entendida pelos
diferentes povos, em diferentes épocas, mesmo as mais remotas.
De maneira geral,
o conceito de arte, na cultura ocidental, tem se
ampliado. Algo que não era considerado arte há cinquenta anos
agora pode ser visto como tal. Isso porque os próprios artistas têm
questionado os critérios que poderiam definir o que é a arte e para
que ela serve.
Em vez de discorrer sobre os critérios utilizados para definir a
arte, vamos considerar as perguntas feitas pelo artista pernambuca-
no Paulo Bruscky (à esquerda), em 1978, em uma livraria no Recife:
“O que é a arte?”
“Para que serve?”
Nossa proposta é levar conosco essas
perguntas ao longo do
curso, refletindo, discutindo, questionando durante o caminho.
Em arte, é melhor nos guiarmos pelas incertezas.
Artista multimídia Paulo Bruscky, em
foto de 1978.
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