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endo sobre
a cultura ioruba
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As religiões trazidas antigamente por diversas nações da
costa da África inegavelmente aqui se conservaram. Se
aquelas do Congo e de Angola mostraram maior persistên-
cia nos ritos realizados no Rio de Janeiro, as de Daomé e
da parte sudoeste da atual Nigéria mantiveram-se princi-
palmente nos candomblés da Bahia e, em menor grau, nos
xangôs de Recife.
Todas estas religiões envolvem a adoção
de deuses ances-
trais. [...] Sacrifícios de animais e oferendas de alimentos
são feitos aos deuses durante as cerimônias privadas. Os
deuses são, a seguir, invocados e chamados a voltar à terra
por meio de canções, durante danças simbólicas
executa-
das pelas filhas e filhos de santo, ao som dos atabaques
e de um sino chamado agogô. A presença dos deuses se
manifesta pelo transe das filhas e filhos de santo.
Em cada
filha e filho de santo manifesta-se somente o orixá ao qual
estes são consagrados quando da sua iniciação. Os princi-
pais orixás assim invocados são Ogum, deus do ferro, dos
ferreiros e de
todos os que usam este metal; Oxóssi, deus
da caça; Omolu e Obaluayê, deuses da varíola e das molés-
tias contagiosas; Xangô, deus do trovão; Oyá, divindade
das tempestades e do rio Níger; Oxum, divindade das águas
doces; Yemanjá, das águas salgadas; Nanan Buruku,
a mais
velha das divindades das águas e mãe de Omulu; Oxumarê,
o arco-íris; Oxaguian e Oxalufan, duas manifestações de
Oxalá, a divindade da criação dos seres humanos.
Cada orixá tem cores que lhe são consagradas e vem dan-
çar em público vestido de belas
roupas e portando objetos
simbólicos.
As cerimônias públicas são celebradas com muito brilho em
mais de mil terreiros da Bahia e atraem sempre numerosa
assistência de devotos sinceros, ou simples curiosos. Têm
lugar em grandes barracões decorados com grinaldas de
papel recortado nas cores dos orixás
que se festejam nesse
dia, e duram várias horas, durante as quais canções nagôs
são cantadas, mantendo-se assim com grande vitalidade o
patrimônio espiritual legado por seus ancestrais.
VERGER, Pierre, Negras Memórias, Memórias de Negro – O imaginário
Luso-Afro-Brasileiro e a Herança da Escravidão,
Catálogo de exposição
realizada no Palácio das Artes,
Belo Horizonte, 2003.
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