O filme e o livro: Filmado em 1969, um ano após a promulgação do AI-5, O dragão da maldade contra o santo guerreiro é um filme ícone de um momento de intensa contestação política por meio das artes.
Até então pouco retratado no cinema, o sertão nordestino é escolhido por Glauber Rocha para
ambientar essa história, que traz à tona questões relevantes para se pensar a realidade bra-
sileira. Pelo uso de personagens alegóricos (o jagunço, o lampião, o matador, o professor,
a rainha, o padre), o filme coloca em discussão a situação de miséria do povo brasileiro, a
questão da reforma agrária e a necessidade do enfrentamento aos poderes estabelecidos.
Sugestões para aprofundar a análise do filme em sala de aula: 1) Antes de pegarem em armas, o embate entre Coirana e Antônio das Mortes começa pelo
duelo oral, tradição nordestina em que uma parte desafia a outra por meio de falas rit-
madas, musicadas e improvisadas, cujas origens remontam à literatura de cordel. Peça
aos alunos que leiam esses versos em voz alta. Em seguida, proponha um exercício de
improvisação em que eles criem seus próprios versos nos moldes dessa tradição.
Coirana: Tenho mais de mil
Cobranças pra fazer
Mas se eu falar de todas
A terra vai estremecer
Quero só cobrar as preferidas
Do testamento de Lampião
Quem é homem vira mulher
Quem é mulher pede perdão
Prisioneiro vai ficar livre
Carcereiro vai pra cadeia
Mulher dama casa na igreja
Com o véu de noiva na lua cheia
Quero dinheiro pra minha miséria
Quero dinheiro pro meu povo
Se não atenderem o meu pedido
Vou voltar aqui de novo
Antônio das Mortes: Tu é verdade ou é assombração
Diga logo, cabra da peste
Eu de minha parte não acredito
Nessa roupa que tu veste!
Coirana: Primeiro diga teu nome,
Fantasiado
Quem abre assim a boca
Fica logo condenado