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A colagem não era novidade, pois já fora
usada pelos cubistas (Capítulo 18) e largamen-
te explorada por dadaístas e surrealistas (Capí-
tulo 19), com o intuito de disparar associações
inconscientes. O que havia de novo na imagem
de Hamilton era a quantidade
de elementos orga-
nizados para celebrar o mundo da fantasia con-
sumista – muito atraente naqueles anos.
Nos Estados Unidos, Robert Rauschenberg
(1925-2008) agregou elementos diversos à pin-
tura, ao produzir, em 1955, sua primeira “combi-
nação”. O termo, cunhado pelo artista, era uma
tradução para a palavra
assemblage, usada pelo
francês Jean Dubuffet (Capítulo 21) para se re-
ferir a trabalhos em que se agregavam objetos à
pintura. Ao abrigar no espaço
da obra elemen-
tos retirados da realidade, os artistas estavam
transitando entre os limites da pintura e da es-
cultura.
Nos Estados Unidos, onde o direito de esco-
lha do consumidor era propagado como um indi-
cador de liberdade, os temas de interesse da Arte Pop giravam em
torno da abundância, da fama e da mídia.
O artista norte-americano Andy Warhol (1928-1987), no início da
década de 1960, depois de pintar uma série com 32 tipos de lata de
sopa, se deu conta de que poderia usar a técnica serigráfica para re-
petir sobre tela a imagem dos objetos sem ter de pintá-los um a um.
Warhol aplicou a técnica a imagens de objetos de consumo, fotogra-
fias extraídas
de jornais,
retratos e ídolos da cultu-
ra de massa. Em seu estú-
dio, chamado de “fábrica”,
assistentes se ocupavam
das impressões, de acordo
com diretrizes do artista.
A ideia de repetição e
reprodutibilidade estava
na base da sociedade de
consumo que se estabele-
ceu nos Estados Unidos
no pós-guerra. Ao repro-
duzir muitas vezes a mes-
ma imagem lado a lado,
Warhol apontava para a
padronização
decorrente
dos processos industriais
que pareciam moldar essa
sociedade.
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eprodução/Museu de
Ar
te Moderna, MoMA, No
va
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ork, EUA.
Andy Warhol,
Duplo Elvis, serigrafia, 1963.
210,8 cm x 134,6 cm, Museu de Arte Moderna,
Nova York.
Warhol, que tinha origem operária, desde
muito jovem se interessara por revistas
sobre Hollywood e seus ídolos. Ele pro-
duziu diversos trabalhos usando foto-
grafias de artistas famosos e até de si
mesmo, quando sua imagem também se
converteu num ícone
pop.
Robert Rauschenberg.
Primeiro salto de
aterrissagem. Combinação, 1961, Museu
de Arte Moderna, Nova York. 226,3 cm x
182,8 cm x 22,5 cm, tecido, metal, couro,
cabo elétrico e pintura a óleo sobre placa,
com pneu de automóvel e prancha de
madeira.
Nesta obra
Rauschenberg nos coloca
diante de um objeto que está no li-
miar entre o bidimensinal e o tridi-
mensional. O pneu se apoia no chão,
parecendo ter saído da tela para nos
encontrar no mundo real.
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eter Hor
ree/Alam
y/Other Images
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Ao observar trabalhos produzidos nesta épo-
ca, muitas vezes não é possível afirmar se os ar-
tistas estavam celebrando a cultura comercial,
criticando a sociedade que a produzia ou cha-
mando a atenção para a Guerra Fria. O interesse
estava em transformar informação cotidiana em
arte. Outro exemplo disso é a obra do novaior-
quino Roy Lichteinstein (1923-1997). Seus traba-
lhos consistem em imagens colhidas de histórias
em quadrinhos e ampliadas.
Roy
Lichtenstein,
Whaam! 1963, Galeria Tate,
Londres. Acrílico e óleo sobre tela, 172,7 cm x
406,4 cm.
Esta pintura se baseia numa imagem pu-
blicada pela revista
DC Comics em 1962.
Lichtenstein escolhia um quadrinho e
transferia a imagem, com personagens,
textos e onomatopeias, para o contexto
da pintura.
Claes Oldenburg,
Bolo de chão, 1962, Museu de Arte Moderna,
Nova York. Polímero sintético e tinta látex sobre tela preenchida
com espuma de borracha e caixas de papelão, 148,2 cm x
290,2 cm x 148,2 cm.
Nesse período, o artista
que revolucionou a ideia
de escultura foi o norte-americano de origem sueca Claes
Oldenburg (1929-). Ele construiu objetos cotidianos, como
ventiladores ou fatias de bolo, maleáveis e de dimensões
monumentais, como esta fatia de bolo de 1,50 m de altura.
Niki de Saint Phalle,
Hon – uma catedral. 1966.
Moderna Museet, Estocolmo, Suécia. Peça
demolida depois da exposição.
A monumentalidade foi também utili-
zada pela francesa Niki de Saint Phalle
(1930-2002) ao produzir grandes corpos
femininos roliços e coloridos, os quais a
artista chamava de “Naná”. Em 1966, em
colaboração com o escultor suíço Jean
Tinguely (1925-1991) e outros artistas,
Niki
construiu esta enorme Hon, palavra
sueca que significa “ela”. Trata-se de
uma figura feminina grávida que deveria
ser adentrada pela abertura vaginal, “o
portal da vida”.
Autvis 2013/©Estate of Roy Lichtenstein/Galeria Tate, Londres, Inglaterra.
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te Moderna, MoMA, No
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ork, EUA.
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te Moderna, Estocolmo, Suécia
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Happening
O termo
happening, que em inglês significa
‘acontecimento’, foi criado no fim dos anos 1950 pelo
artista norte-americano Allan Kaprow (1927-2006)
para designar uma forma de arte que se aproximava
da vida. Os
happenings eram um tipo de espetáculo,
com encenações que buscavam desmecanizar pe-
quenas ações cotidianas, como escovar os dentes,
por exemplo. As ações não tinham qualquer tipo
de enredo ou impacto dramático
e tampouco havia
uma separação clara entre o público e o espetáculo.
O
happening era uma espécie de arte total que
reunia diferentes modalidades: pintura, escul-
tura, dança, teatro e música. Em muitos desses
eventos, os materiais e objetos eram orquestra-
dos de forma a aproximar o espectador, fazendo-o
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