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O século XX começou com novidades no campo
musical: a invenção da gravação sonora e a chega-
da do rádio ao Brasil. Antes de a gravação se tornar
possível, a única forma de registrar música consis-
tia em escrever partituras, que só podiam ser lidas
por quem dominasse teoria musical. A gravação
sonora possibilitou ouvir música
a qualquer hora e
em qualquer lugar, sem depender de músicos e de
seus instrumentos.
Em 1924, a invenção da gravação elétrica permi-
tiu captar vozes menos potentes. O estilo operístico
de cantar deu lugar a um tom mais informal e pró-
ximo da fala. Gêneros musicais como o maxixe e o
samba ganharam popularidade. O rádio chegou ao
Brasil em 1922, inaugurando a moderna era da co-
municação de massa e revolucionando o consumo
de música em todas as regiões do país. Ouvir rádio
passou a ser um hábito das famílias brasileiras e
grande parte da programação diária era de música.
Cantores, compositores
e instrumentistas de
todo o Brasil tentaram carreiras no Rio e em São
Paulo, onde ficavam as estações emissoras. O rádio
representava não só uma oportunidade de projeção
nacional mas também de emprego. Cada estação ti-
nha seu elenco – verdadeiros times, que tinham até
torcida – de cantores e compositores.
Grandes nomes da música brasileira surgiram
nesse período: Francisco Alves (1898-1952), Car-
men Miranda, Ary Barroso (1903-1962), Noel Rosa
(1910-1937), Orlando Silva (1915-1978), Emilinha
Borba (1923-2005). O rádio permitiu o intercâmbio
musical dentro do país e, do Nordeste, vieram dois
nomes que modificariam para sempre a forma de
compor no Brasil: Dorival Caymmi (1914-2008) e
Luiz Gonzaga (1912-1989).
Caymmi mostrou para o Brasil um tipo de músi-
ca
inspirado na cultura baiana, uma cultura praiei-
ra de grande influência africana, tanto na religião
quanto na culinária e na forma de vestir. As compo-
sições de Caymmi, como
O bem do mar e
O vento,
transportam o ouvinte para a beira-mar, pois evo-
cam um cenário
com elementos como vento, água
salgada, coqueiros e pescadores.
Longe da praia, no sertão de Pernambuco, nas-
ceu Luiz Gonzaga do Nascimento. Sua carreira ga-
nhou força no início dos anos 1940, pouco depois
de chegar ao Rio de Janeiro. De sua sanfona saía
um pouco de tudo: valsas, tangos, foxtrotes. Mas foi
com o xote, o xaxado e o baião que o compositor
conquistou o Brasil. Sua obra tem ligação com a cul-
tura
do povo sertanejo, das festas juninas, dos can-
tadores e repentistas. Luiz Gonzaga, o Lua, era um
admirador do lendário Lampião e costumava usar o
figurino de cangaceiro em suas apresentações. Ele
e Humberto Teixeira substituíram os instrumentos
musicais originais – pandeiro, viola, rabeca e boti-
jão –
por acordeom, triângulo
e zabumba, instrumentos
que hoje fazem parte
do tradicional trio de
forró, palavra que de-
signa genericamen-
te ritmos nordes-
tinos como o
xote, o xaxa-
do e o baião.
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