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Subversão
da imagem
Os surrealistas usaram a colagem, a pintura,
a fotografia e o cinema para subverter a cultu-
ra e apresentar o mundo sob uma óptica nova e
surpreendente. Encadeando situações incon-
gruentes, eles promoviam com seus trabalhos
uma espécie de curto-circuito visual.
Marc Chagall,
Passeio, óleo sobre tela, 170 cm x 163,5 cm,
1917-1918. Museu
Nacional, São Petersburgo, Rússia.
Nesta tela, Chagall faz da paisagem um plano
monocromático recortado que lembra as expe-
riências dos pintores cubistas e futuristas. O
verde das casas e do chão é
quebrado pela toa-
lha e por objetos que sugerem um piquenique.
A alegria do casal é tanta que a lei da gravidade
já não se aplica.
René Magritte,
A reprodução interdita, 1937, óleo sobre tela 81,3 cm x 65 cm, Museu
Boijmans-van Beuningen, Roterdã, Holanda.
Um artista que explorou com ironia o tema da subversão da lógica foi o belga
René Magritte (1898-1967). Muitas de suas pinturas são como charadas, que
silenciosamente propõem um enigma ao espectador. O espelho que não reflete,
mas que replica o que vê, é um tipo de ambiguidade frequente em sua pintura.
Phillipe Halsman e Salvador Dalí.
In
voluptas mors (No prazer, a morte).
Fotografia, 1951.
Salvador Dalí baseava seu tra-
balho no que chamou de “mé-
todo paranoico-crítico”, que
consistia em provocar equívo-
cos na leitura visual, induzin-
do o espectador a ver imagens
de duplo sentido. Como nesta
fotografia concebida e ence-
nada pelo artista.
Philippe Halsman/Magnum Photos/Latinstoc
k/F
ondation Gala–S
alvador Dalí/Autvis 20
1
3
Autvis 20
1
3/RMN/Other Images/Museu Nacional, São P
eter
sburgo, Rússia.
Photothèque R. Magritte, Magritte, René/Autvis 2013/Museu Boijmans-van
Beuningen, Roterdã, Holanda.
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Alberto Giacometti,
Mulher degolada, 1932, bronze, 22 cm x 87,5 cm x
53 cm, Centro Georges Pompidou, Paris, França.
Alberto Giacometti criou peças um tanto perturbadoras quando
esteve em contato com o grupo no início dos anos 1930. Com
quase um metro de comprimento, esta escultura, que mais lembra um in-
seto gigante que uma mulher, foi exibida no chão, sem nenhum tipo de pedestal. A
peça se compõe de duas partes:
uma delas, que parece uma colher, pode ser movimen-
tada pelo espectador, que assim interage com a obra.
Man Ray,
Objeto indestrutível, 1923. 21,5 cm x 11 cm x 11,5 cm,
Tate Gallery, Londres.
Na primeira versão deste objeto, Man Ray fixou
a foto de um olho a um metrônomo. O olho era
uma espécie de ícone do surrealismo, por re-
presentar um portal entre o real e o onírico.
A versão original chamava-se
Objeto para
ser destruído. Mais tarde, o artista fez uma
tiragem de 100 cópias da obra,
passando a
chamá-la de
Objeto indestrutível.
Outros artistas ousaram construir obje-
tos fazendo associações insólitas, como o
Objeto indestrutível
, do norte-americano
Man Ray, e a
Mulher degolada, do suíço Al-
berto Giacometti (1900-1966). Tanto o Da-
daísmo quanto o Surrealismo liberaram o
artista de qualquer programa preconcebido,
exceto o de seguir seus impulsos e explorar
sem amarras o território da criação.
Cena de
Entr’acte, filme de 1924, 22 minutos, preto e
branco. Direção de René Clair e roteiro de Francis Picabia.
Cenas de uma bailarina dançando tomadas de baixo
para cima são entremeadas com uma partida de xadrez
entre Marcel Duchamp e Man Ray. Picabia mata um per-
sonagem a tiro e tem início uma longa cena de enterro.
A carroça que leva o caixão
perde o controle, de modo
que o cortejo fúnebre se acelera, atravessando toda a
Paris dos anos 1920. Na corrida desenfreada, o caixão
se rompe e o morto ressuscita.
Cinema Dada e surrealista
Os primeiros filmes dadaístas eram criações
abstratas, narrativas puramente visuais. Foi
Entr’acte
(Entre atos), filme dirigido em 1924 por
René Clair (1898-1981), na França, o primeiro a
mostrar situações encenadas. Concebido como
um divertimento a ser exibido no intervalo de
um balé, o filme tinha roteiro escrito pelo poeta e
pintor francês Francis Picabia (1879 -1953).
Autvis 2013/Pietro Baguzzi/AKG Images/Latinstock
Mary Evans/Diomedia
Autvis 2003/Philippe Migeat/RMN/Other
Images/Museu de Arte Moderna, Centro
Georges Pompidou, Paris, França.
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O
cinema de vanguarda, depois de passar pela arte
abstrata e pelo Dadaísmo, floresceu entre os cineas-
tas surrealistas. O filme
Um cão andaluz é uma tra-
dução da linguagem paradoxal da poesia e pintura
surrealistas para o cinema. O inconsciente, o acaso
e o absurdo estão presentes no roteiro escrito pelos
espanhóis Luis Buñuel (1900-1983) e Salvador Dalí. O
filme, que tem apenas 16 minutos, não chega a narrar
uma história. As cenas se sucedem criando um clima
enlouquecido de desespero entre os personagens. Al-
gumas imagens, como uma mão cheia de formigas,
provieram diretamente dos sonhos dos autores.
Hans Richter,
Fantasmas antes do café da manhã, filme de
1928, 6 minutos, preto
e branco,.
Neste filme, o artista alemão Hans Richter (1888-1976)
utiliza trucagens sofisticadas, como inverter a se-
quência cinematográfica e alterar a velocidade do
filme, para dar vida aos objetos e criar uma atmosfe-
ra brincalhona entre os personagens, subvertendo o
sentido das imagens capturadas.
Um cão andaluz, filme de 1929, 16 minutos, preto e branco.
A cena em que um homem corta o olho de uma moça com uma navalha é tão
inesquecível quanto perturbadora. Mais uma vez, o olho comparece para
evocar o inconsciente inatingível.
Surrealismo e Dadaísmo no Brasil
Cenário histórico
Em 1929, com o colapso da Bolsa de Valores de Nova
York, quando todos os investidores quiseram vender suas
ações ao mesmo tempo, ocorreram falências em várias
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