Quebra da Bolsa de Nova York
Manifesto Surrealista
Stalin adquire pleno
poder na União Soviética
Hitler assume o poder
na Alemanha
1928
1933
1924
1929
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Cenário histórico
A Primeira Guerra Mundial enfraqueceu a Europa. Do
ponto de vista financeiro, mesmo os países vencedores per-
deram a supremacia para os Estados Unidos, o grande be-
neficiário do conflito, cuja produção
industrial cresceu para
suprir o que não estava sendo produzido na Europa.
Para os europeus, a guerra foi um golpe no otimismo
que alimentara a crença no progresso humano. A década de
1920 foi dominada por instabilidade econômica na Europa.
As incertezas culminaram com a quebra da Bolsa de Valores
de Nova York em 1929, evento de repercussão mundial, que
acarretou forte recessão e abriu caminho para a ascensão de
governos totalitários e repressores.
René Magritte, O falso espelho,1928.
Maria Martins, com sua escultura Minha canção, 1949.
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Olho: portal entre o real e o onírico.
Uma brasileira no grupo
internacional surrealista.
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Raoul Hausmann.
O crítico de arte. Colagem litográfica e fotográfica sobre papel.
Berlim, 31,8 cm x 25,4 cm, 1919-1920.
As imagens visuais mais fortes do movimento Dada foram feitas inicialmente pelo
austríaco Raoul Hausmann (1886-1971). Trabalhando com colagem, Hausmann mani-
pulou imagens já prontas, criando justaposições. Nesta colagem a figura de um crítico
de arte é sobreposta a um fundo de palavras sem sentido.
Uma
arte contestadora
O Movimento Dada está as-
sociado ao Cabaret Voltaire,
em Zurique, Suíça. O fundador
dessa casa noturna, o poeta ale-
mão Hugo Ball (1886-1927), mu-
dara-se para a Suíça assim que a
Primeira Guerra estourou, pois
este era um país neutro no con-
flito. Os jovens poetas, pintores
e músicos que se reuniam no
Cabaret Voltaire eram contra
a
cultura burguesa, que viam
como responsável pela guerra.
O nome do movimento foi es-
colhido a esmo num dicionário.
Dada, em alemão, designa a fala
dos bebês; em francês, é um ter-
mo para ‘cavalinho de brinque-
do’. Assim como o movimento, o
nome podia ser entendido como
cada um quisesse.
Contestar os valores da socie-
dade foi a maneira encontrada
por esses artistas para expressar
insatisfação com a falta de senti-
do
da guerra, que matava milhões de pessoas naquele momento.
O Dadaísmo visava ironizar e desmitificar todos os valores cul-
turais estabelecidos, inclusive a própria arte. As manifestações do
grupo eram intencionalmente desconcertantes e, por não defender
uma verdade, mas sim negar as propostas existentes, foram cha-
madas de “antiarte”. Os dadaístas não queriam produzir obras de
arte, mas sim ações questionadoras para pôr em xeque os valores
aceitos pela sociedade.
No começo de 1917 o poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963)
passou a editar uma revista,
Dada. A publicação despertou aten-
ção e em várias capitais europeias houve quem se identificasse
com o ponto de vista irônico do movimento.
Em pouco tempo sur-
giram grupos dadaístas nas cidades de Berlim, Paris e Nova York.
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Tristan Tzara. Capa do terceiro número da
revista
Dada, 1918. Bibliothèque Nationale
de France, Paris.
O terceiro número da revista trazia o
explosivo
Manifesto Dada e, na capa,
uma afirmação atribuída ao filóso-
fo René Descartes: “Não quero nem
mesmo saber se existiram homens
antes de mim”.
Hugo Ball recitando o poema “Karawane”
no Cabaret Voltaire, em Zurique, em 1916.
Essa
performance de Hugo Ball re-
flete o espírito provocador do Ca-
baret Voltaire. Trajando roupa de
papelão colorido, Ball recitou com ar
solene a composição que consistia
em sons sem sentido. A
performance
era ao
mesmo tempo uma brincadei-
ra e uma crítica.
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Em Nova York, uma grande exposição realizada em 1913
sacudiu os Estados Unidos ao apresentar o Modernismo eu-
ropeu, com obras de Brancusi, Picasso, Matisse, Marcel Du-
champ, entre outros. Apesar das exclamações de surpresa e
horror, muitos trabalhos foram adquiridos, inclusive o
Nu des-
cendo a escada
(Capítulo 18), de Duchamp. Com o início da
Segunda Guerra Mundial e as notícias do interesse dos ame-
ricanos
por seu trabalho, Marcel Duchamp, que não era muito
conhecido na França, mudou-se para Nova York.
Apesar de nunca haver se declarado membro do movimen-
to, como muitos artistas dadaístas, Duchamp se interessava
por jogos e pelo acaso. Segundo ele, o princípio da arte são as
ideias, e a pintura não pode ser uma atividade puramente ma-
nual e visual. O caráter libertário da obra de Duchamp trans-
parece no modo como ele definia a si próprio: um “anartista”.
Os
ready-mades são objetos anônimos que o gesto gratuito do artista, pelo
único fato de escolhê-los, converte em obra de arte. Ao mesmo tempo esse
gesto dissolve a noção de obra. [...] Seria estúpido discutir sobre a sua
beleza ou feiura, tanto porque estão mais além da
beleza e da feiura porque
não são obras, mas signos de interrogação ou de negação diante das obras.
O
ready-made não postula um valor novo: é um dardo contra o que chama-
mos valioso. É crítica ativa: um pontapé contra a obra de arte sentada em
seu pedestal de adjetivos.
PAZ, Octavio.
Marcel Duchamp ou O castelo da pureza.
São Paulo: Perspectiva, 1996. p. 21.
endo sobre os
ready-mades
Marcel Duchamp. L.H.O.O.Q. “
Ready-made retificado”, 1919. Centro G. Pompidou, Paris.
Ao desenhar bigode e cavanhaque numa reprodução da Mona Lisa em cartão postal,
Duchamp não pretendia desfigurar uma obra de arte, mas contestar a veneração
que se costuma dedicar a esse quadro. Provavelmente também queria evidenciar
o fato de, já naquele tempo, ser difícil distinguir uma reprodução de um original.
As letras L.H.O.O.Q aplicadas na base da imagem, ao serem lidas em voz alta em
francês soam como “ela tem fogo no rabo”.
Marcel Duchamp.
Roda de bicicleta, 1913. Centro G. Pompidou, Paris, França.
Em 1913, Duchamp concebeu um objeto que consiste em uma roda de bicicleta
montada de cabeça para baixo sobre um banquinho comum.
Ele gostava de obser-
var as hastes da roda girando até se tornarem invisíveis. Embora a considerasse
um objeto para seu deleite pessoal, mais tarde concordou que essa foi a primeira
experiência daquilo que dois anos depois ele batizou de
ready-made. Esse termo
em inglês evoca o sentido de ‘pronto para usar’ e também de ‘objeto banal’.
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Other Images/MNMA, Centro G. Pompidou, Paris, França.
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