encouraçado Potemkin. Realizado em poucas
semanas e influenciado pelas ideias de Vértov,
esse filme tem como protagonista as massas
populares, descrevendo uma revolta de mari-
nheiros ocorrida em 1905, em protesto contra
as péssimas condições a que eram submetidos.
O cinema russo
Serguei Eisenstein. O encouraçado Potemkin, filme russo de 1925.
No ponto alto do filme, uma cena de grande força emocio-
nal, os fuzileiros massacram a população numa escadaria
da cidade de Odessa. Eisenstein pontua essa sequência al-
ternando a imagem de uma mãe que carrega o corpo de seu
filho morto e um carrinho de bebê que despenca sem con-
trole pelas escadas. O filme, proibido em muitos países, foi
aplaudido às escondidas no mundo todo.
Glenn L
oney/Everet
t Collection/K
eystone
Abstração na Holanda
O holandês Piet Mondrian (1872-1944) passou a conceber pinturas não figu-
rativas a partir de 1914. Seus primeiros experimentos foram estudos da nature-
za, flores e árvores, que aos poucos se transformaram em formas geométricas
simples. Com outros jovens que compartilha-
vam a mesma visão, foi um dos fundadores do
grupo De Stijl (O estilo) e da revista homônima.
Para esses artistas, uma estética apoiada no ra-
cionalismo e na objetividade, que chamavam de
Neoplasticismo, traria ordem ao mundo e pure-
za aos instintos dos seres humanos.
Piet Mondrian, Composição em vermelho, amarelo e azul, óleo sobre tela, 16,5
x 19 cm, 1922, Musée Granet, Aix-en-Provence, França.
A partir de 1920, Mondrian simplificou drasticamente seu vocabu-
lário formal, utilizando apenas linhas ortogonais dispostas ver-
tical e horizontalmente, além de preto, branco e cores primárias
(vermelho, amarelo e azul), formando superfícies homogêneas.
Mic
hèle Bellot/RMN/Other Images/Museu Granet,
Aix
-en-P
ro
vence, F
rança.
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A Bauhaus
Com o final da Primeira Guerra, em 1919, o arquiteto alemão
Walter Gropius (1883-1969) criou uma escola a que chamou de
Bauhaus, termo alemão que significa ‘casa de construção’. Cons-
truir, no pós-guerra da Alemanha, era uma palavra de forte signi-
ficado social e simbólico. Os criadores da Bauhaus acreditavam
que era preciso reformular a sociedade por meio da educação e
aproximar a arte e o povo. A ideia era integrar a arte na vida coti-
diana, criando objetos belos e funcionais.
O convívio no ambiente da Bauhaus alimentava a produção ar-
tística de professores, como o russo Wassily Kandinsky (Capítulo
17) e o suíço-alemão Paul Klee (1879-1940).
Em 1925, a Bauhaus se mudou para Dessau, com novas ins-
talações e alojamentos para alunos e professores, projetados
por Walter Gropius. Na nova sede foram criadas oficinas de
fotografia e publicidade e implementado o curso de artes tea-
trais, dirigido por Oskar Schlemmer (1888-1943).
Acreditando no potencial social do design, os membros da
Bauhaus pesquisaram formas ideais para utensílios domésticos
e mobiliário, criaram padrões arrojados para tecidos e tapetes e
conceberam brinquedos e jogos.
Com a vitória do partido de Adolf
Hitler nas eleições (1930), seguiu-se
a ascensão do Partido Nazista, que
passou a controlar todos os aspec-
tos da sociedade alemã com violên-
cia. A Bauhaus foi fechada em 1933
e muitos de seus alunos e professo-
res emigraram, principalmente para
os Estados Unidos.
Walter Gropius. O prédio da Bauhaus
em Dessau, Alemanha, 1925-1926.
O edifício da Bauhaus em Des-
sau expressa os princípios da
escola: racionalidade e funcio-
nalismo. O projeto influenciou
tão fortemente a arquitetura
moderna que hoje suas linhas
nos parecem familiares.
Michael Nitzschke/Imagebroker/Other Images
Oskar Schlemmer, Balé triádico, fotografia, 1926.
Uma das criações da Bauhaus foi o Balé triádico, com figurinos de Schlemmer,
cujas formas geométricas subvertiam até mesmo a morfologia do corpo humano.
Ernst S
chneider/Apic/Hulton/Get
ty Images
Marcel Breuer, Cadeira Wassily,
aço e lona, 71,8 cm x 78,1 cm x
71,1 cm, 1925.
O húngaro Marcel Breuer (1902-1981),
ex-aluno que se tornou professor da
Bauhaus, criou a cadeira Wassily, que
revolucionou o conceito de mobiliário
ao utilizar tubos pré-fabricados de aço
dobrados e sem solda, que proporcio-
navam leveza e resistência.
RMN/Other Images/MNMA, Centro
G. P
ompidou, P
aris, F
rança.
Paul Klee. Motivo de Hammamet, 1914, óleo sobre
cartão, 26 cm x 21,5 cm. Museu de Belas Artes,
Basileia, Suíca.
A cor foi um dos principais interesses de
Klee. Nesta pintura, o artista utilizou ape-
nas manchas de cor, conferindo tonalidades
variadas à paisagem.
R
eprodução/Museu de Belas
Ar
tes, Basileia, Suiça.
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Victor Brecheret, Eva. c. 1919-1929, mármore,
82 cm x 117,5 cm x 59 cm. Centro Cultural
São Paulo.
Em 1921, Brecheret, ganhou
uma bolsa para estudar em
Paris, mas apesar de au-
sente, doze de suas es-
culturas foram expos-
tas na Semana de Arte Moderna.
Essas obras expressavam seu en-
tusiasmo com as formas geome-
trizadas e mais sintéticas,
que se acentuariam em
seu trabalho a partir
da influência cubista
recebida na França.
Modernismo no Brasil
Cenário histórico
No início da década de 1910, o fluxo migratório da Europa para o Brasil se intensifi-
cou. Fugindo da guerra, muitos imigrantes europeus se estabeleceram no estado de
São Paulo. Os acontecimentos mais importantes do Modernismo no Brasil se desenrola-
ram na capital paulista, que passou a disputar com o Rio de Janeiro, então capital federal,
a posição de centro cultural do país.
A Semana de Arte Moderna
O meio intelectual brasileiro planejava um evento para renovar o cenário
cultural durante as comemorações do centenário da Independência do Bra-
sil, em 1922.
O carioca Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) procurou o industrial e
mecenas Paulo Prado, que se empolgou com a ideia de um festival reunindo
artistas, poetas e músicos.
Na exposição montada no Teatro Municipal de São Paulo, havia pinturas
de Anita Malfatti, de Di Cavalcanti e do pernambucano Vicente do Rego
Monteiro (1899-1970), além de esculturas de Victor Brecheret (1894-1955),
entre outros. A programação musical contou com a participação do com-
positor Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Entre escritores e poetas, estavam
Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Em comum os artistas tinham a rejeição ao es-
pírito conservador que tomava conta da produção
literária, musical e visual do país. Todos clama-
ram em seus discursos por liberdade de expres-
são. A importância da Semana de Arte Moderna
de 1922 está nos desdobramentos que ocorreram
nas obras de alguns de seus participantes.
R
eprodução/Museu de
Ar
te Moderna
Aloísio Mag
alhães, R
ecife, PE.
Emiliano Di Cavalcanti. Capa
do catálogo e cartaz da Sema-
na de Arte Moderna.
Di Cavalcanti foi um dos
idealizadores da Semana
de Arte Moderna. Partici-
pou da exposição com 12
trabalhos e criou o cartaz
e o catálogo da exposição,
cuja capa lembra as expe-
riências dos expressionis-
tas alemães (Capítulo 17).
Elisabeth Di Cavalcanti/Coleção IEB-USP
, São P
aulo, SP
.
J
. Duran Mac
hfee/F
utura P
ress
Vicente do Rego Monteiro. O atirador de arco, óleo sobre
tela, 65 cm x 81 cm, 1925, Museu de Arte Moderna
Aloísio Magalhães, Recife.
Nesta pintura, Rego Monteiro associa uma lingua-
gem moderna, formas geometrizadas e efeitos de
luz e sombra usados para enfatizá-las, com ins-
piração indígena. Assim como Gauguin e Picasso,
esse artista buscou nos povos mais próximos da
natureza uma arte mais intuitiva.
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Depois da Semana de Arte
Poucos meses depois da Semana de Arte Moderna, a pintora Tar-
sila do Amaral (1886-1973), que estava na França, voltou a São Paulo.
Ela logo aderiu ao grupo dos modernistas, que trabalhavam então na
publicação da revista Klaxon – palavra inglesa que significa ‘buzina’.
Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade tornaram-se o centro
do movimento modernista nos anos que se seguiram. Em 1924, Má-
rio de Andrade, Tarsila e Oswald visitaram o Rio de Janeiro duran-
te o Carnaval e também as cidades históricas de Minas Gerais. A
arquitetura colonial, a obra de Aleijadinho (Capítulo 13), as festas,
as músicas e as danças populares tocaram os modernistas, que re-
afirmaram seu interesse pela cultura popular brasileira.
Para frisar a importância de nossas raízes culturais, Oswald de An-
drade redigiu o Manifesto Pau-Brasil. Nas pinturas dessa fase, Tar-
sila realizou uma fusão entre a estética cubista e a cultura popular
brasileira, representando personagens e paisagens tropicais.
Em 1928, Oswald publicou seu Manifesto antropofágico. O tex-
to propunha o termo ‘antropofagia’ como designação para o pro-
cesso de formação da cultura brasileira. Segundo o autor, a nós,
os brasileiros, “selvagens e com índole canibal”, cabia deglutir a
estética da cultura europeia e as influências culturais dos negros e
dos indígenas para, a partir desse “banquete”, produzir algo genui-
namente brasileiro.
R
eprodução/Arqui
v
o da editora
Primeiro número da revista Klaxon, que
circulou em São Paulo de maio de 1922 a
janeiro de 1923.
Esta capa mostra a originalidade do
design gráfico criado pelo grupo que
integrou a Semana de Arte Moderna.
Observe o uso arrojado da letra A, que
aparece uma única vez, fazendo parte
de várias palavras simultaneamente.
Tarsila do Amaral, Abaporu, 1928, óleo sobre tela,
85 cm x 73 cm, Museu de Arte Latinoamericana
de Buenos Aires.
Ao contemplar esta estranha figura pintada
por Tarsila, Oswald de Andrade o chamou de
Abaporu, que em tupi significa antropófago.
A pintura inspirou a base teórica de um mo-
vimento artístico: a Antropofagia.
T
ar
sila do
Amaral Empreendimentos/Museu de
Ar
te Latinoamericano de Buenos
Aires, F
undação Costantini, Buenos
Aires,
Argentina.
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Outras artes modernistas
Os projetos arquitetônicos apresentados na Se-
mana de Arte Moderna ainda tinham característi-
cas do estilo eclético (Capítulo 15). Somente em
1928 o arquiteto russo Gregori Warchavchik (1896-
-1972) conseguiu concluir a residência modernista
que projetara.
O grande designer gráfico da época foi o carioca
J. Carlos (1884-1950), responsável pela produção de
semanários ilustrados como O Malho, Para todos,
e a primeira revista infantil do país: O tico-tico, no
Rio de Janeiro. Além de dirigir o projeto gráfico des-
sas publicações, produzia ilustrações para muitas
delas. Com seu desenho simples e seus personagens
cheios de charme, J. Carlos foi um dos maiores cro-
nistas visuais de sua época.
18_F038_ ARTEbS – inserir
imagem Cena de Limite, filme de
Mário Peixoto, 1930. [Imagem
aprovada III.4.35]pequeno
A primeira obra cinematográfica modernista no Brasil foi o do-
cumentário São Paulo, sinfonia da metrópole, realizado em 1929
por dois imigrantes húngaros: Adalberto Kemeny (1901-1969) e
Rodolfo Rex Lustig (1901-1970). O documentário buscava mostrar
a cidade segundo uma perspectiva futurista.
No ano seguinte, Mário Peixoto (1908-1992), então com 22 anos,
realizou Limite, um filme que se propôs a explorar as técnicas ex-
perimentais e as variações rítmicas do cinema.
Gregori Warchavchik. Casa da rua Itápolis, São Paulo, 1929.
A segunda casa modernista do Brasil, também projetada
por Warchavchik, ficou aberta à visitação pública e sediou
durante dois meses saraus com os poetas modernistas.
Coleção Gregori
W
arc
havc
hik,São P
aulo, SP/R
eprodução
Cena de Limite, filme de Mário Peixoto, 1930.
Neste filme, três náufragos estão perdidos no oceano. As imagens parecem a princípio
aleatórias, mas, como num poema, vão aos poucos assumindo um forte sentido narrativo.
Com complexas metáforas, o filme propõe uma meditação sobre os limites da existência.
Mário Peixoto/Edgar Brasil/Cinemateca Brasileira
J. Carlos. Capas da revista Para todos, edições de 1927.
Para otimizar a utilização do parque gráfico,
J. Carlos imprimia quatro capas de uma vez,
para quatro edições da revista Para todos.
Nesta série de capas para o Carnaval de 1927,
J. Carlos criou uma narrativa que envolve os
personagens da Comedia dell´Arte: Arlequim,
Pierrô e Colombina (Capítulo 13).
R
eprodução/Arqui
v
o da editora
R
eprodução/Arqui
v
o da editora
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Depois de séculos de escravidão, negros e
mestiços não dispunham de educação formal
e contavam com poucas oportunidades de em-
prego. Mesmo após a Lei Áurea, continuaram a
ter sua vida vigiada pelas autoridades. O sim-
ples ato de andar com um violão pela rua po-
dia ser motivo de cadeia, pois esse instrumento
era associado à vadiagem. O que não se previa
é que o violão seria mais tarde aclamado como
um símbolo da musicalidade brasileira.
Os ritmos apreciados nos salões da elite e da
classe média – polcas, valsas, mazurcas: músi-
ca para dançar ao som de pequenas orquestras
– eram importados da Europa, assim como a
maioria dos costumes. A música negra e mes-
tiça não entrava nos salões: podia apenas ser
ouvida nas ruas, principalmente em festejos re-
ligiosos, na forma de percussão, palmas, coro e
acompanhamento de viola.
Do encontro entre essas realidades musicais,
nasceu o “choro”. O termo serviu primeiro para
nomear uma reunião informal entre os músicos,
para só depois batizar um gênero: um jeito abra-
sileirado de tocar polcas, valsas e mazurcas, em
que o músico interpretava acrescentando seu
tempero, sua malícia, seu estilo. O choro logo
ganhou intimidade com o povo, que o apelidou
de “chorinho”.
Sentimental e estimulante, o chorinho uniu a
riqueza rítmica da música negra à riqueza harmô-
nica das músicas europeias de salão. Interpretar
o choro exige grande habilidade do instrumen-
tista, que deve ter disciplina para acompanhar o
desenho harmônico-melódico e jogo de cintura
para não perder o andamento. Tal como no jazz
norte-americano, no choro são muito comuns as
improvisações musicais.
A união entre flauta, violão e cavaquinho foi
determinante para a identidade sonora desse
gênero nascente. Em sua maioria, os choros
são instrumentais.
Pixinguinha, ou Alfredo da Rocha Vianna Fi-
lho (1897-1973), um dos mais importantes músi-
cos brasileiros, era filho de um “chorão” que pro-
movia reuniões de músicos em sua casa. Aos 15
anos, Pixinguinha já era um dos maiores flautis-
tas brasileiros. Compôs mais de mil músicas, en-
tre elas Carinhoso, que recebeu letra de João de
Barro (1907-2006), o Braguinha: “Meu coração, /
não sei por quê, / bate feliz /quando te vê...”.
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