Partindo dos movimentos ondulantes que observava na natureza e, so‑
bretudo, ousando fazer de suas próprias emoções fontes do movimento
que dançava, Isadora Duncan desafiou os rígidos padrões da dança cê‑
nica da época.
Com o final da guerra, em 1918, a origina-
lidade dos filmes chamou atenção interna-
cional e trouxe o reconhecimento do cine-
ma alemão no mercado externo. Seu maior
êxito foi o filme O gabinete do Dr. Caligari
(ver foto na página anterior), dirigido por
Robert Wiene (1873-1938) e lançado em
1920. No filme o Dr. Caligari, diretor de um
hospício, hipnotiza um jovem, obrigando-o
a cometer crimes durante a noite. Outros
diretores, como Friedrich Wilhelm Murnau
(1888-1931) e Fritz Lang (1890-1976), se des-
tacaram no uso da linguagem carregada do
Expressionismo.
Nosferatu, filme dirigido por Friedrich Wilhelm Murnau. Alemanha, 1922.
Livremente adaptado do romance
Drácula, de Bram Stocker, (1847‑
‑1912), o filme de Murnau cria um clima de horror e suspense intensifi‑
cado pela sugestão de acontecimentos que não são mostrados na tela.
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No campo do balé, também nas primeiras dé-
cadas do século XX, o russo Serge Diaghilev (1872-
-1929) apostou em espetáculos em que todas as
artes se encontravam. Em 1907 criou os Balés Rus-
sos ( Ballets Russes), companhia que causou furor
na Europa com espetáculos que contaram com a
colaboração de coreógrafos como Fokine (1880-
-1942), Massine (1896-1979) e Nijinski (1889-1950),
músicos como Stravinski (1882-1971), Prokofiev
(1891-1953) e Satie (1866-1925), e pintores como
Matisse e Picasso. A “Sagração da Primavera”, com
música de Stravinski e coreografia de Nijinski, con-
siderada uma das obras mais relevantes do século
XX, cuja estreia aconteceu em 1913 em Paris, sub-
verteu os padrões do balé e da música, despertan-
do as mais diversas reações do público e da crítica.
Século XX no Brasil
Cenário histórico
Com uma política de incentivo que financiava a vinda
de estrangeiros, a entrada de europeus e asiáticos se
intensificou nas duas primeiras décadas do século XX.
Embora tenham vindo majoritariamente para trabalhar
como empregados nas fazendas de café, os imigrantes
tiveram papel fundamental na industrialização do país,
contribuindo para a urbanização e para o crescimento de
cidades como São Paulo.
Art Nouveau brasileiro
No Brasil, o estilo Art Nouveau acompanhou
a trajetória da industrialização e o fortalecimento
da burguesia. Em todo o país há edifícios cons-
truídos com estruturas de ferro forjado e fundido
importadas da Inglaterra e da Bélgica nesse pe-
ríodo. Algumas dessas construções são grandio-
sas, como estações ferroviárias e viadutos, mas
outras são diminutas, como pequenos coretos.
Teatro José de Alencar, Fortaleza, CE.
Foto de 2009.
Um dos exemplos dessa ar‑
quitetura de ferro é o Teatro
José de Alencar, em Fortaleza,
construído entre 1908‑1910.
O edifício mescla alvenaria de
tijolos e peças metálicas ca‑
racterísticas do Art Nouveau
fabricadas na Escócia.
Gentil Bar
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No Rio de Janeiro, em 1900, Eliseu Visconti
(Capítulo 16) retornava ao Brasil ansioso por
difundir os princípios do Art Nouveau, reali-
zando projetos de objetos industrializados, ma-
terial gráfico e organizando exposições.
O engenheiro brasileiro Alberto Santos Dumont
(1873-1932) foi um designer completo. Unindo do-
mínio tecnológico a um senso de beleza das for-
mas, criou, entre outras produções, o famoso avião
14-Bis.
Santos Dumont estudou mecânica em Paris,
onde projetou, construiu e pilotou os primeiros
balões dirigíveis que podiam ser manobrados.
Santos Dumont foi o primeiro a decolar a bordo
de uma máquina impulsionada por motor próprio.
Esse feito lhe valeu o título de “Pai da aviação”.
Alberto Santos Dumont, Demoiselle, 1907,
França. Foto de 1909.
A obra‑prima de Santos Dumont é a ae‑
ronave
Demoiselle
(Donzela). Com fuse‑
lagem de bambu, asas cobertas com seda
japonesa, hélice de madeira e juntas de
metal, essa estrutura tinha 8 m de com‑
primento e pesava apenas 60 kg. Dumont
publicou o projeto técnico na revista
norte‑americana Popular Mechanics, o
que estimulou sua reprodução. Nos anos
seguintes, cerca de 200
Demoiselles
vo‑
avam pelos céus do mundo.
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Uma nova geração de artistas se estabelecia no Rio de Ja-
neiro e fundava o Centro Artístico Juventas, em 1910, para pro-
mover exposições independentes do salão oficial da Escola
Nacional de Belas-Artes. Desse grupo participavam pintores,
caricaturistas e ilustradores que frequentavam os cafés, teatros
de revista e as noitadas na Lapa, que começavam a consagrar o
Rio de Janeiro como uma cidade boêmia.
Depois da renovação urbana do final da década de 1910, a popu-
lação do Rio de Janeiro chegava a quase um milhão de habitantes. O
Carnaval era uma grande festa,
um espaço de transgressão tole-
rada aos valores tradicionais. O
baile a fantasia, particularmen-
te, incentivava essa liberdade
graças ao uso de máscaras.
Rodolfo Chambelland. Baile a fantasia, óleo
sobre tela, 1913. 149 cm x 209 cm. Museu
Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro.
Entre os jovens estava o carioca Rodolfo
Chambelland (1879‑1967), que pintou o
Baile a fantasia
. O artista representou o
clima da época, usando pinceladas mo‑
vimentadas e aplicando cores fortes no
casal do primeiro plano.
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eprodução/Museu Nacional de Belas
Ar
tes. Rio de J
aneiro. RJ
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Descendente das festas que comemoravam
as colheitas dos povos antigos, o Carnaval re-
presenta até hoje um momento de extravasar
sentimentos e romper com a normalidade.
No Carnaval romano, os escravos ganhavam
liberdade durante os dias da festa. Vestiam-se
com as roupas da nobreza e imitavam os trejei-
tos dos senhores. A Igreja católica, na impos-
sibilidade de extinguir essa festa pagã, viu-se
obrigada a incorporá-la a seu calendário. Ao
povo foram permitidos todos os excessos nos
três dias que antecediam o início da Quares-
ma, período de jejum e oração que se estende
da Quarta-feira de Cinzas até a Páscoa. Carne
vale, em latim, significa ‘despedida da carne’ –
ou seja: divirta-se o quanto puder, antes de viver
47 dias de recolhimento e contenção.
No Brasil, o Carnaval chegou pelas mãos dos
portugueses, com uma festa chamada entrudo.
Em vez de música e dança, a data era marcada
por perseguições brincalhonas pelas ruas, com
certa dose de violência e considerável sujeira:
no século XIX, a moda era alvejar os transeun-
tes com farinha, água suja, ovos podres e até uri-
na! A desordem era tamanha que a festa chegou
a ser proibida em 1854 no Rio de Janeiro, capital
do império, por ordem da polícia.
A origem do Carnaval de rua com música
tocada e cantada pela multidão é uma mistu-
ra dos afoxés com os desfiles de bandas mili-
tares – simbolicamente, um casamento entre
religião e guerra. Afoxés eram cortejos de rua
que uniam o profano e o religioso. Melodias
em idiomas africanos eram cantadas, acompa-
nhadas por instrumentos de percussão. Já as
bandas militares costumavam se apresentar
em feriados e datas comemorativas, com seus
bombos, caixas de guerra e instrumentos de
sopro, tocando hinos e marchas. A herança in-
dígena enriqueceu esse “bloco” com sua músi-
ca e seus adereços: penas coloridas e pinturas
corporais. A rua foi o palco em que a música
reuniu a massa.
Na metade do século XIX, a moda dos bailes
de máscaras chegou ao Brasil. Os mais ricos se
reuniram em clubes e hotéis, inspirados pelos
carnavais de Veneza e Paris. Pierrôs, colom-
binas e arlequins, personagens da Comédia
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