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A beleza da vida real
A segunda metade do século XIX foi marcada
pelo positivismo. O termo foi usado pelo filósofo
francês Auguste Comte (1798-1857), que defen-
dia a ideia de que
todo conhecimento deveria
provir da objetividade da ciência.
Nas artes, o espírito positivista rejeitou a visão
de mundo do Romantismo. Crescia o número de
artistas interessados em descrever objetivamente
o mundo visível e real, sem intermediação de ale-
gorias. Esta tendência foi chamada de naturalismo.
Os pintores naturalistas voltaram sua atenção
para a vida cotidiana no campo e na cidade.
Jean-François Millet.
As respigadeiras. Óleo sobre tela,
1857. 84 cm x 111 cm.
Museu d’Orsay, Paris.
Nesta tela o artista representou o trabalho de coleta das espigas de trigo ceifadas. As camponesas são mostradas como parte
da
natureza e, embora suas figuras exibam dignidade, são desprovidas de qualquer heroísmo. Até mesmo a luz é representada
em gradação natural, sem o uso de brilhos artificiais.
Durante a revolução de 1848, um grupo de artis-
tas se reuniu em Barbizon, um vilarejo próximo de
Paris, para observar a natureza e pintar ao ar livre.
Entre eles estava o pintor francês Jean-François
Millet (1814-1875), que se tornou o mais renomado
pintor naturalista. Millet
eternizou em suas telas a
reverência pela vida no campo, retratando os cam-
poneses em sua labuta diária.
O interesse pelas pinturas do grupo de Barbizon,
que retratavam calmas paisagens rurais, cresceu com
as transformações
ocorridas em Paris, metrópole que
se tornava cada vez mais frenética e ruidosa.
Depois de 1850, as pinturas naturalistas feitas
por artistas independentes e que transmitiam críti-
cas sociais passaram a ser designadas como realis-
tas. O pintor mais radical do realismo foi o francês
Gustave Courbet (1819-1877). Em sua busca pela
verdade visual, Courbet optou por representar
toda a realidade, inclusive aspectos desagradáveis
ou perigosos, focalizando com consciência crítica
a sociedade de então.
A questão central do Realismo não dizia
respeito apenas
a escolher um tema corriqueiro,
em lugar de um tema nobre ou heroico, mas sim
de pintar o que os olhos viam, e não ideias, como
nas alegorias mitológicas românticas. Por essa
razão, o Realismo, embora chocasse o observa-
dor
com a crueza da verdade, foi acusado de se
afastar da política e de limitar-se à superficialida-
de imediata do mundo contemporâneo.
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| CApÍtulo 15 | ReAlismo e fotogRAfiA |
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Gustave Courbet.
Um enterro em Ornans. Óleo sobre tela, 1849-1850. 3,15 m x 6,68 m. Museu d’Orsay, Paris.
Nesta tela Courbet retratou uma cena cotidiana: o funeral de um homem comum em sua cidade natal. Courbet distribuiu as
figuras
sem nenhuma hierarquia, em uma composição linear. Usando cores austeras, mostrou a cova em primeiro plano e as
expressões – nada teatrais, nada heroicas, nada graciosas – de pessoas comuns. O pintor declarou que esta tela representava
o “funeral do Romantismo”.
TEMAS
INTERDISCIPLINARES
ARTE E SoCIoLogIA
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