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Jean-Baptiste Debret (1768-1848) foi o mais im-
portante integrante da Missão Francesa. Tinha
quase 50 anos e acabara de perder seu único filho,
quando aceitou o convite para se juntar à Missão.
Debret era primo de Jacques-Louis David e já ha-
via participado diversas vezes do Salão de Paris.
Permaneceu no Brasil por 15 anos e produziu uma
vasta obra registrando a sociedade brasileira.
O trabalho de Debret tem qualidade etnográ-
fica, ou seja, representa modos de vida de uma
sociedade – no caso, hábitos e costumes de uma
cidade luso-brasileira cuja população era majo-
ritariamente de origem africana. À medida que o
artista focalizava a realidade violenta do sistema
escravista, despia-se do Neoclássico, desvincu-
lando-se da influência de David. Já
no final de
sua estada no Brasil, recebeu de Dom Pedro I a
encomenda de criar os símbolos da nova nação
independente, para os quais selecionou as cores
principais: verde e amarelo.
Ao retornar a Paris, Debret dedicou-se à obra
Viagem pitoresca e histórica ao Brasil
, uma es-
pécie de álbum de gravuras com 150 reproduções
de desenhos e aquarelas.
Outros estrangeiros
No século XIX, muitos artistas europeus vie-
ram
para o Brasil, interessados pela paisagem
exuberante, pela luz tropical, pela ideia de exo-
tismo ou em busca de aventura. Várias expedi-
ções artísticas e científicas foram organizadas
para registrar e coletar espécimes ainda des-
conhecidos na Europa. Uma delas, que acom-
panhou a imperatriz Leopoldina, foi a Missão
Austríaca.
Outra importante expedição
foi organizada
pelo cônsul-geral da Rússia no Brasil, barão Von
Langsdorff, à região Amazônica. Durante o tra-
jeto de 17 mil quilômetros, percorrido em cinco
anos de trágicas aventuras, a expedição produ-
ziu um rico acervo iconográfico. Seu integrante
mais notável foi o pintor alemão Johann Moritz
Rugendas (1802-1858). Embora tenha abandona-
do o grupo, Rugendas permaneceu no Brasil por
mais quatro anos. Nas décadas de 1830 e 1840, re-
tornou às Américas,
percorrendo o Brasil, o Peru
e a Bolívia, entre outros países.
No Brasil os artistas estrangeiros encontra-
ram belezas naturais e uma sociedade em forma-
ção que vivia grandes contradições. O país bus-
cava uma imagem de nação civilizada, mas ainda
adotava o modelo escravocrata; o povo vivia sob
a forte religiosidade promovida pela Igreja cató-
lica, praticando, porém, festas profanas nas ruas;
a vida cultural se impregnava da influência fran-
cesa, enquanto os rumos econômicos e políticos
do país,
como de boa parte do mundo, eram mar-
cados pelo poder britânico.
Jean-Baptiste Debret.
Desembarque
da Imperatriz Dona Leopoldina. Óleo
sobre tela, 44,5 cm x 69,5 cm, 1818.
Museu Nacional de Belas-Artes, Rio
de Janeiro.
Debret retratou nesta pintura a
chegada da princesa austríaca
Leopoldina, que veio casar-se
com Dom Pedro I. Acompa-
nhava-a sua corte, que incluía
uma comitiva de cientistas e
artistas, a qual ficou conhecida
como Missão Austríaca.
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eprodução/Museu
Nacional de Belas
Ar
tes, Rio de J
aneiro, RJ
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| CApÍtulo 14 | NeoClAssiCismo e RomANtismo |
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Os primeiros ritmos brasileiros
Durante os tempos da escravidão no Brasil,
nos domingos e dias de festas religiosas alguns
africanos escravizados e também libertos saíam
das propriedades rurais ou dos locais de trabalho
na cidade e se reuniam para as chamadas rodas
de batuque.
Nesses encontros, homens e mulheres for-
mavam uma roda, cantando músicas
em suas
línguas africanas e acompanhando o ritmo com
o bater das palmas. Em geral, o batuque era di-
rigido por um dos participantes, que convida-
va os dançarinos a se agitarem movimentando
principalmente as ancas.
Além do batuque, outras manifestações cultu-
rais surgiram nessas rodas musicais,
como a dan-
ça do lundu. O nome tem origem na palavra ‘ca-
lundu’, que designa uma dança ritual africana. No
Brasil do início do século XIX, o lundu retratado
por Rugendas era uma mistura de umbigada e de
fandango europeu. Mais tarde o ritmo da dança
deu origem ao lundu-canção, acompanhado por
letras humorísticas.
Johann Moritz Rugendas. Lundu. Litografia,
c. 1835.
Em 1935, Rugendas publicou na França o
livro
Viagem pitoresca através do Brasil,
ilustrado com litografias coloridas. Nes-
ta gravura, o artista mostra o lundu, dan-
ça de origem africana, caracterizada pela
sensualidade nos movimentos.
Johann von Spix e Carl von Martius.
Batuque em São
Paulo, Litografia, 17 cm x 22,4 cm, 1823-1831. Coleção
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