subjetividade: realidade psíquica, emocional
e cognitiva (que envolve o processo de
conhecimento) do ser humano, que pode
se manifestar ao mesmo tempo nos planos
individual e coletivo.
O Neoclassicismo e a Revolução
A Revolução Francesa consistiu numa série
de acontecimentos políticos que culminaram em
1789 e nasceram do descontentamento da popu-
lação da França com o governo do rei Luís XVI. A
agitação política se transformou num movimento
de massas que destituiu a monarquia francesa e
levou à proclamação da República e à elaboração
de uma Constituição. Os líderes dessa revolução
se inspiravam principalmente nos ideais republi-
camos que haviam guiado a sociedade romana
antes do período imperial (Capítulo 7).
O pintor francês Jacques-Louis David (1748-
-1825), que dominou o cenário artístico durante
a Revolução Francesa, produziu uma série de
pinturas que louvavam os valores republicanos
da Roma antiga.
Ao mesmo tempo em que a Revolução France-
sa reacendeu o interesse por temas heroicos e pela
pintura histórica, os artistas do final do século XVIII,
impulsionados pelo espírito iluminista, se sentiram
livres para escolher seus temas, que podiam retra-
tar tanto cenas transcorridas no ambiente cotidia-
no como episódios da história recente, desde que o
tema despertasse o interesse do público.
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t Library/K
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TEMAS INTERDISCIPLINARES
ARTE E FILOSOFIA
..
O Iluminismo
As mudanças políticas, econômicas e sociais que vinham ocor-
rendo na França e na América foram consequências de uma
revolução filosófica, à qual se deu o nome de Iluminismo.
Os pensadores iluministas estabeleceram a ideia de pro-
gresso, pois consideravam que a humanidade e suas insti-
tuições, apesar de imperfeitas, podiam ser reformadas. De-
fendiam que as atividades humanas deveriam ser norteadas
pela razão, buscando-se sempre o bem comum. Rejeitando
noções de que a humanidade está no mundo para servir a
Deus ou ao monarca, os filósofos iluministas frisavam que
o homem nasceu para servir a si mesmo e para buscar sua
própria felicidade.
Essa nova filosofia gerou o lema da Revolução Francesa – “Li-
berdade, igualdade, fraternidade” – e influenciou movimentos
sociais como a independência das colônias inglesas na Amé-
rica do Norte e a Inconfidência Mineira, em 1789, no Brasil.
O artista francês Jean-Antoine Houdon (1741-1828) convi-
veu com os pensadores iluministas e esculpiu bustos de
Voltaire, Rousseau e Diderot, entre outros.
Houdon. Voltaire.
Bronze, 1778. Museu
do Louvre, Paris.
Para Voltaire (1694-1778), os governos
deveriam se inspirar pela razão e buscar
o progresso.
Houdon.
Rousseau, 1778.
Terracota. Museu
Lambinet, Versalhes,
França.
Para Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),
os homens nascem livres e os cidadãos
devem ter direitos iguais.
Houdon. Diderot,
1771. Terracota.
Museu do Louvre,
Paris, França.
Denis Diderot (1713-1784) foi o criador
da Enciclopédia, que tinha como finalida-
de apresentar conhecimentos dispersos
de forma sistematizada.
Jacques-Louis David. O juramento dos
Horácios, 1784, óleo sobre tela, 330 cm x
425 cm, Museu do Louvre, Paris, França.
Nesta tela, David realiza o que pode
ser considerado um manifesto es-
tético da austeridade. Num ambien-
te desprovido de qualquer orna-
mentação, transcorre um episódio
da Antiguidade que evoca heroísmo
e virtudes cívicas: o velho Horácio
entrega as armas a seus filhos, que
juram arriscar a vida para defender
sua aldeia. Entre as mulheres que
se desesperam, estão a filha e a
mulher de Horácio e a nora descen-
dente da tribo rival.
R
eprodução/Museu do L
ouvre, P
aris, F
rança.
J
ean Antoine
Houdon/Get
ty
Images/Museu Lambinet,
V
er
salhes, F
rança.
Gérard Blot/RMN/Other Images/
Museu do L
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J
ean-Gilles Berizzi/RMN/Other Images/
Museu do L
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O espírito romântico
Os artistas românticos exaltavam não só a liberdade, mas
também o amor e a emoção. Eles queriam expressar a perso-
nalidade, aquilo que há de mais pessoal em cada um de nós.
Um dos pintores que vivenciou as contradições de sua
época – a fidelidade à tradição barroca, a atração pelas ideias
iluministas e a expressão do espírito romântico – foi o espa-
nhol Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828).
Francisco de Goya y Lucientes. O sono da razão produz monstros. Gravura em água-forte e
água-tinta, 21,6 cm x 15,2 cm, 1799.
Esta gravura faz parte da série “Os caprichos”, em que Goya faz uma crítica social.
Embora à primeira vista pareça representar apenas um pesadelo fantástico, o títu-
lo da estampa conduz a um significado mais profundo: quando a razão adormece,
quem governa são monstros como a insensatez, o terror e o despotismo.
A Espanha havia perdido para a Inglaterra a
posição de maior potência marítima do mundo,
o que acarretou empobrecimento e desequilíbrio
social no país no final do século XVIII. A obra de
Goya sintetiza esse estado de coisas. O artista foi
um importante pintor da corte espanhola, mas ao
mesmo tempo, em seus desenhos e gravuras, foi
um eloquente crítico, revelando os vícios da so-
ciedade de seu tempo. Ao longo do tempo, a obra
de Goya desenvolveu características românticas
e o artista passou a abordar temas cada vez mais
dramáticos.
Em 1808, Napoleão invadiu a Espanha. Assim
como muitos espanhóis, Goya acreditava que os
conquistadores trariam as reformas liberais e os
avanços da Revolução Francesa, tão desejados.
Mas a violência e a selvageria das tropas invaso-
ras logo mostraram o contrário. A decepção de
Goya se reflete com crueza em uma pintura que
rememora a revolta ocorrida em Madri naquele
ano. A imagem, que retrata o conflito a partir do
ponto de vista das vítimas, inaugura uma nova vi-
são de mundo, em que as batalhas deixam de ser
representadas como atos de heroísmo.
Museu do P
rado, Madri, Espanha.
R
eprodução/Arqui
v
o da editora
Goya. Três de maio de 1808. Óleo sobre tela, 268 cm x
347 cm, 1814, Museu do Prado, Madri.
A tela retrata a execução de um grupo de espa-
nhóis por soldados franceses, numa colina próxi-
ma de Madri. Os soldados de costas formam uma
parede sem rosto, desumana. A figura principal,
de braços para o alto, esperando as balas, evoca
a figura de Cristo crucificado. A luz, a composição
e os personagens fazem parte de um arranjo que
visa denunciar a opressão e a violência. Quando
questionado por que havia pintado uma cena tão
brutal, Goya respondeu: “Para alertar os homens
para que nunca mais façam isso”.
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O Romantismo se expressou principalmente
na pintura, na poesia e na música. Nesse movi-
mento intelectual e artístico, o “eu” – a percepção
subjetiva da vida – tornou-se o grande tema. Os
artistas românticos, porém, não se limitavam a re-
presentar o sentimento, o estado da alma –, mas
também olhavam o mundo para além da socieda-
de em que viviam. Por isso, se interessaram pelo
exótico, pelo Oriente e pelas tradições populares.
Na pintura, a busca por temas emocionais
pode ser vista na obra de Eugène Delacroix (1798-
-1863), que se interessava pela representação do
movimento e o uso de uma paleta de cores fortes,
contrastantes.
Delacroix foi convidado a acompanhar uma
missão diplomática ao Marrocos, em 1832, logo
após a conquista da Argélia pela França. Ali, fi-
cou maravilhado com a luz, as cores, as roupas
e as cenas de rua, que representou em desenhos,
guaches e aquarelas.
Eugène Delacroix. A liberdade guiando o
povo. Óleo sobre tela, 1830, 260 cm x
325 cm, Museu do Louvre, Paris, França.
Nesta que é uma de suas obras mais
conhecidas, Delacroix representou
a liberdade como uma mulher do
povo, forte, destemida, com seios
desnudos e carregando a bandeira
francesa. Inspirado numa revolta
ocorrida nas ruas de Paris em 1830,
Delacroix sintetizou visualmente o
que significava a liberdade nas pri-
meiras décadas do século XIX.
Música clássica e romântica
O que conhecemos como música clássica
consiste predominantemente da música instru-
mental na forma sonata, concebida na segunda
metade do século XVIII, na Europa. Três tipos de
composição caracterizam essa forma musical: a
sonata, composição para um ou dois instrumen-
tos; a sinfonia, música composta para orquestra,
e o concerto, composição para um instrumento
solista, com acompanhamento de orquestra.
Os compositores clássicos desenvolveram te-
mas musicais em construções e andamentos va-
riados. No século XIX, os românticos privilegia-
ram as emoções e a liberdade criativa, utilizando a
multiplicidade de timbres e a variação de intensi-
dade sonora no intuito de evocar imagens em suas
composições.
Uma orquestra é composta por quatro famí-
lias de instrumentos: cordas, madeiras, metais e
percussão. Durante o século XVIII, a orquestra
se organizou da forma que conhecemos hoje. No
século XIX, o aperfeiçoamento dos instrumen-
tos de sopro, em especial os de metal, permitiu
maior extensão melódica e tornou-os mais fáceis
de tocar. Alguns compositores do período foram
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eprodução/Museu do L
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Marc F
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rez/Acerv
o Instituto Moreira S
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reconhecidamente músicos virtuoses, ou seja, de
talento e grande habilidade. O violinista e compo-
sitor Niccolò Paganini (1782-1840), conside rado
um dos melhores violinistas de todos os tempos,
criou um estilo próprio, de grande agilidade.
Frédéric Chopin (1810-1849) é outro exemplo
de instrumentista virtuose. Senso rítmico apura-
do faz deste pianista e compositor polonês um
dos nomes mais aclamados da música europeia.
A academia francesa no Brasil
Cenário histórico
No início do século XIX, o imperador francês Napoleão I,
depois de conquistar a Espanha, invadiu Portugal.
O príncipe regente Dom João VI e a rainha Dona Maria I,
acompanhados de mais de 15 mil pessoas da Corte, se vi-
ram obrigados a fugir para o Brasil.
Ao se estabelecer no Rio de Janeiro em 1808, a Coroa
portuguesa providenciou melhorias urbanas e culturais
para a então capital da colônia. A cidade do Rio de Janeiro,
onde os valores estéticos ainda eram os do barroco, viu-
-se subitamente confrontada com os padrões neoclássi-
cos da aristocracia portuguesa.
A Missão Artística Francesa
Para atender as necessidades dos novos morado-
res da cidade do Rio de Janeiro, a Corte portuguesa
providenciou um plano que incluía a criação de insti-
tuições, fábricas, bancos e até mesmo um jardim bo-
tânico. O projeto de transformar uma cidade colonial
em capital de um império culminou com a contrata-
ção de um grupo de artistas franceses que foram en-
carregados de fundar uma Academia de Belas-Artes,
a fim de formar, de acordo com o modelo francês, os
futuros artistas brasileiros.
Esse grupo, que mais tarde ficou conhecido como
Missão Artística Francesa, incluía, entre outros, o
pintor Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e o arquiteto
Grandjean de Montigny (1776-1850).
Há controvérsias quanto ao real motivo da vinda
desses artistas. Tudo indica que estivessem fugindo
para o Brasil por serem simpatizantes de Napoleão,
que acabara de perder o poder na França. No entan-
to, o fato de que essa comitiva artística fosse bona-
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