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Rembrandt van Rijn.
A aula de anatomia do Dr. Nicolas Tulp, 1632. Óleo sobre
tela, 169,5 cm x 216,5 cm. Mauritshuis, Haia, Holanda.
Rembrandt combinou o interesse pela ciência e o humanismo quan-
do pintou este retrato de grupo, que não se limita a um agrupamen-
to de figuras. Pela primeira vez um retrato coletivo tinha um foco
dramático: um grupo de médicos observa o cadáver e ouve a aula do
famoso anatomista, Dr. Tulp.
É bom lembrar que o protestantismo não
admite o culto às imagens de santos, como
o catolicismo. Por isso a pintura holande-
sa privilegiou retratos e cenas domésticas
em lugar da pintura religiosa desenvolvida
pelos pintores italianos,
financiados pela
Igreja católica.
Sem o patrocínio da Igreja e com limi-
tadas encomendas, os pintores holandeses
tiveram de disputar o interesse do público.
Pela primeira vez na história do Ocidente,
eles pintavam seus quadros e depois saíam
em busca de compradores. Quando um ar-
tista percebia que determinado tema era
bem aceito pelo público, transformava-se
em especialista. Assim surgiram, por exem-
plo, os pintores de marinhas, gênero que
tem o mar como tema.
Um dos principais artistas holandeses
do século XVII foi Rembrandt van Rijn
(1606-1669). Como a maioria dos pintores
barrocos, foi influenciado
pela pintura de
Caravaggio e gostava de criar contrastes de luz e sombra.
Nos retratos pintados por Rembrandt podemos vislum-
brar, para além da aparência e das feições, algo do íntimo
de seus modelos.
Holandeses no Brasil
Mercadores holandeses ávidos em participar do lucra-
tivo comércio do açúcar cultivado no Brasil e comerciali-
zado pelos portugueses atacaram com sucesso as vilas de
Olinda e Recife, na capitania de Pernambuco. Permanece-
ram nessa região por 24 anos, aliando-se aos senhores de
engenho e consolidando seu domínio.
O conde holandês Maurício de Nassau foi nomeado
governador da região. Integrando a comitiva de Nassau,
que chegou a Pernambuco em 1637, estavam os pintores
Albert Eckhout (1610-1666) e Frans Post (1612- 1680).
Eckhout tinha a missão de documentar a paisagem, a
fauna, a flora e a população. Durante seus oito anos no Bra-
sil, produziu retratos etnográficos –
figuras em tamanho
natural dos habitantes locais – e naturezas mortas. Mau-
rício de Nassau presenteou seu primo Frederico III, rei da
Dinamarca, com essas pinturas, que ainda hoje se encon-
tram naquele país.
Albert Eckhout.
Natureza morta com abacaxi, melancia
e outras frutas tropicais. Óleo sobre tela, meados do
século XVII, 91 cm x 91 cm. Statens Museum for Kunst,
Copenhague, Dinamarca.
Nas doze naturezas mortas pintadas por
Eckhout, frutas e legumes tropicais são repre-
sentados em escala maior que a natural. Essas
pinturas expressam o fascínio dos europeus pe-
las terras brasileiras.
Reprodução/Museu Real Mauritshuis, Haia, Holanda.
Reprodução/Museu Nacional da Dinamarca/Copenhague.
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Franz Post.
Mauritiopolis, 1645. Gravura
que ilustra livro de Barlaeus, estampa n. 35, exemplar pertencente à Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Uma seleção dos desenhos de Frans Post foi usada para ilustrar um livro do humanista holandês Caspar Barlaeus (1584-1648)
que conta os feitos de Maurício de Nassau durante seus oito anos de governo no Brasil. Esta estampa mostra Recife com de-
talhes. À direita está Olinda, sobre a colina. À frente, a ponte inaugurada em 1644, ligando Recife à ilha de Antônio Vaz. Ao
fundo, o palácio de Maurício de Nassau.
Como já se revelara bom paisagista em seu
país de origem, Frans Post foi encarregado de
documentar a topografia e a arquitetura. Mesmo
depois de voltar à Holanda continuou pintando
temas brasileiros, baseando-se nos desenhos que
aqui esboçara.
R
eprodução/Biblioteca Nacional, Rio de J
aneiro, RJ
.
O barroco no Brasil
Cenário histórico
No Brasil a colonização começou
pelo litoral, onde foram
edificados fortes e vilas em pontos estratégicos. Aos poucos,
alguns desses núcleos tornaram-se centros comerciais im-
portantes, como Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
Os colonizadores portugueses, em atendimento aos
preceitos da Contrarreforma de converter os índios ao
cristianismo, empreenderam um programa de construção
de igrejas e conventos que difundiu o barroco no país.
O barroco se manifestou no Brasil e na América Latina
de maneira singular e marcante. Associado à religiosidade
dos colonizadores, o estilo está presente principalmente
nas igrejas e conventos edificados no Brasil a partir do sé-
culo XVII. Por sua grande capacidade de absorver carac-
terísticas das culturas locais, o barroco perdurou por lon-
go período, em contínua renovação, em todos os países
latino-americanos.
Bahia
A
cidade de Salvador, na Bahia, foi a primeira
capital brasileira. Com a descoberta de ouro no
interior da colônia, no final do século XVII, a ci-
dade se tornou o principal porto para a zona de
mineração e grande praça de importação de afri-
canos escravizados. Em Salvador estão as igrejas
mais ricas desse período.
O barroco que floresceu no Brasil não se limi-
tou a repetir os modelos europeus. Pelo contrá-
rio, o barroco colonial foi uma expressão cheia
de espontaneidade e autenticidade.
Foi na escultura que ocorreu a contribuição
mais original da cultura luso-brasileira para a
arte barroca. O uso da talha em madeira no inte-
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Interior da igreja do convento de São Francisco, 1708-1740,
Salvador, Bahia. Foto de 2008.
A igreja de São Francisco, em Salvador, é
famosa
por sua decoração interna exuberante. Todas as
superfícies de seu interior são revestidas de en-
talhes de jacarandá cobertos com folha de ouro,
que representam anjos, flores, frutas e animais.
Vista de Ouro Preto, Minas Gerais, fundada em 1711. Foto de 2010.
A notícia da descoberta de ouro atraiu a Minas Gerais um súbito afluxo popu-
lacional de outras regiões do Brasil e também de Portugal. Rapidamente sur-
giram pequenas cidades, como Vila Rica, atualmente
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