Com o professor não devo poupar oportunidade para testem unhar aos alunos a segurança com
que m e com porto ao discutir um tem a, ao analisar um fato, ao expor m inha posição em face de
um a decisão governam ental. Minha segurança não repousa na falsa suposição de que sei tudo, de
Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e de que ignoro algo a que se j unta a
certeza de que posso saber m elhor o que j á sei e conhecer o que ainda não sei. Minha segurança
se alicerça no saber confirm ado pela própria experiência de que, se m inha inconclusão, de que
sou consciente, atesta, de um lado, m inha ignorância, m e abre, de outro, o cam inho para
conhecer.
Me sinto seguro porque não há razão para m e envergonhar por desconhecer algo. Testem unhar a
abertura aos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios, são saberes necessários à
Viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o m om ento, tom ar a
própria prática de abertura ao outro com o obj eto da reflexão crítica deveria fazer parte da
aventura docente. A razão ética da abertura, seu funda-m ento político, sua referência
pedagógica; a boniteza que há nela com o viabilidade do diálogo. A experiência da abertura com o
experiência fundante do ser inacabado que term inou por se saber inacabado. Seria im possível
saber-se inacabado e não se abrir ao m undo e aos outros à procura de explicação, de respostas a
m últiplas perguntas. O fecham ento ao m undo e aos outros se torna transgressão ao im pulso
natural da incom pletude.
O suj eito que se abre ao m undo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que
se confirm a com o inquietação e curiosidade, com o inconclusão em perm anente m ovim ento na
História.
Certa vez, num a escola da rede m unicipal de São Paulo que realizava um a reunião de quatro dias
com professores e professoras de dez escolas da área para planej ar em com um suas atividades
pedagógicas, visitei um a sala em que se expunham fotografias das redondezas da escola.
Fotografias de.ruas enlam eadas, de ruas bem postas tam bém . Fotografias de recantos feios que
sugeriam tristeza e dificuldades. Fotografias de corpos andando com dificuldade, lentam ente,
alquebrados, de caras desfeitas, de olhar vago. Um pouco atrás de m im dois professores faziam
com entários em torno do que lhes tocava m ais de perto. De repente, um deles afirm ou: “Há dez
anos ensino nesta escola. Jam ais conheci nada de sua redondeza além das ruas que lhe dão
acesso. Agora, ao ver esta exposição* de fotografias que nos revelam um pouco de seu contexto,
m e convenço de quão precária deve ter sido a m inha tarefa form adora durante todos estes anos.
Com o ensinar, com o form ar sem estar aberto ao contorno geográfico, social, dos educandos?”
A form ação dos professores e das professoras devia insistir na constituição deste saber necessário
e que m e faz certo desta coisa óbvia, que é a im portância inegável que tem sobre nós o contorno
ecológico, social e econôm ico em que vivem os. E ao saber teórico desta influência teríam os que
j untar o saber teórico-prático da realidade concreta em que os professores trabalham . Já sei, não
há dúvida, que as condições m at eriais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a
com preensão do próprio m undo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios. Preciso,
agora, saber ou abrir-m e à realidade desses alunos com quem partilho a m inha atividade
pedagógica. Preciso tornar-m e, se não absolutam ente íntim o de sua form a de estar sendo, no
m ínim o, m enos estranho e distante dela. E a dim inuição de m inha estranheza ou de m inha
distância da realidade hostil em que vivem m eus alunos não é um a questão de pura geografia.
Minha abertura à realidade negadora de seu proj eto de gente é um a questão de real adesão de
m inha parte a eles e a elas, a seu direito de ser. Não é m udando-m e para um a favela que
provarei a eles e a elas m inha verdadeira solidariedade política sem falar ainda na quase certa
perda de eficácia de m inha luta em função da m udança m esm a. O fundam ental é a m inha
decisão ético-política, m inha vontade nada piegas de intervir no m undo. É o que Am ilcar Cabral
cham ou “suicídio de classe” e a que m e referi, na Pedagogia do Oprimido, com o páscoa ou
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