educação pode. Se a educação não é a chave das transform ações sociais, não é tam bém
sim plesm ente reprodutora da ideologia dom inante. O
que quero dizer é que a educação nem é um a força im batível a serviço da transform ação da
sociedade, porque assim eu queira, nem tam pouco é a perpetuação do "status quo” porque o
dom inante o decrete. O
educador e a educadora críticos não podem pensar que, a partir do curso que coordenam ou do
sem inário que lideram , podem transform ar o país. Mas podem dem onstrar que é possível m udar.
E isto reforça nele ou nela a im portância de sua tarefa político-pedagógica.
A professora dem ocrática, coerente, com petente, que testem unha seu gosto de vida, sua
esperança no m undo m elhor, que atesta sua capacidade de luta, seu respeito às diferenças, sabe
cada vez m ais o valor que tem para a m odificação da realidade, a m aneira consistente com que
vive sua presença no m undo, de que sua experiência na escola é apenas um m om ento, m as um
m om ento im portante que precisa de ser autenticam ente vivido.
3.6 – Ensinar exige saber escutar
Recentem ente, em conversa com um grupo de am igos e am igas, um a delas, a professora Olgair
Garcia, m e disse que, em sua experiência pedagógica de professora de crianças e de
adolescentes m as tam bém de professora de professoras, vinha observando quão im portante e
necessário é saber escutar. Se, na verdade, o sonho que nos anim a é dem ocrático e solidário, não
é falando aos outros, de cim a para baixo, sobretudo, com o se fôssem os os portadores da verdade
a ser transm itida aos dem ais, que aprendem os a escutar, m as é escutando que aprendem os a ferir
com eles. Som ente quem escuta paciente e criticam ente o outro, fala com ele. Mesm o que, em
certas condições, precise de falar a ele. O que j am ais faz quem aprende a escutar para poder
falar com é falar impositivamente. Até quando, necessariam ente, fala contra posições ou
concepções do outro, fala com ele com o suj eito da escuta de sua fala crítica e não com o obj eto
de seu discurso. O educador que escuta aprende a difícil lição de transform ar o seu discurso, às
vezes necessário, ao aluno, em um a fala com ele.
Há um sinal dos tem pos, entre outros, que m e assusta: a insistência com que, em nom e da
dem ocracia, da liberdade e da eficácia, se vem asfixiando a própria liberdade e, por extensão, a
criatividade e o gosto da aventura do espírito. A liberdade de m over-nos, de arriscar-nos vem
sendo subm etida a um a certa padronização de fórm ulas, de m aneiras de ser, em relação às quais
som os avaliados. É claro que j á não se trata de asfixia truculentam ente realizada pelo rei
despótico sobre seus súditos, pelo senhor feudal sobre seus vassalos, pelo colonizador sobre os
colonizados, pelo dono da fábrica sobre seus operários, pelo Estado autorit ário sobre os cidadãos,
m as pelo poder invisível da dom esticação alienante que alcança a eficiência extraordinária no
que venho cham ando “burocratização da m ente”. Um estado refinado de estranheza, de
"autodem issão” da m ente, do corpo consciente, de conform ism o do indivíduo, de acom odação
diante de situações consideradas fatalistam ente com o im utáveis. E a posição de quem encara os
fatos com o algo consum ado, com o algo que se deu porque tinha que se dar da form a com o se
deu, é a posição, por isso m esm o, de quem entende e vive a História com o determinismo e não
com o possibilidade. É a posição de quem se assum e com o fragilidade total diante do todo-
poderosism o dos fatos que não apenas se deram porque tinham que se dar m as que não podem
ser “reorientados” ou alterados.
Não há, nesta m aneira m ecanicista de com preender a História, lugar para a decisão hum ana.*
Na m edida m esm a em que a desproblem atização do tem po, de que resulta que o am anhã ora é a
perpetuação do hoj e, ora é algo que será porque está dito que será, não há lugar para a escolha,
m as para a acom odação bem com portada ao que está aí ou ao que virá. Nada é possível de ser
feito contra a globalização que, realizada porque tinha de ser realizada, tem de continuar seu
destino, porque assim está m isteriosam ente escrito que deve ser. A globalização que reforça o
m ando das m inorias poderosas e esm igalha e pulveriza a presença im potente dos dependentes,
fazendo-os ainda m ais im potentes é destino dado. Em face dela
* Ver FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
não há outra saída senão que cada um baixe a cabeça docilm ente e agradeça a Deus porque
ainda está vivo. Agradeça a Deus ou à própria globalização.
Sem pre recusei os fatalism os. Prefiro a rebeldia que m e confirm a com o gente e que j am ais
deixou de provar que o ser hum ano é m aior do que os m ecanicism os que o m inim izam .
A proclam ada m orte da História que significa, em últim a análise, a m orte da utopia e do sonho,
reforça, indiscutivelm ente, os m ecanism os de asfixia da liberdade. Daí que a briga pelo resgate
do sentido cia utopia ele que a prática educativa hum anizante não pode deixar de estar
im pregnada tenha de ser um a sua constante.
Quanto m ais m e deixe seduzir pela aceitação da m orte da História tanto m ais adm ito que a
im possibilidade do am anhã diferente im plica a eternidade do hoj e neo-liberal que aí está, e a
perm anência do hoj e m ata em m im a possibilidade de sonhar. Desproblem atizando o tem po, a
cham ada m orte da História decreta o im obilism o que nega o ser hum ano.
A desconsideração total pela formação integral do ser hum ano e a sua redução a puro treino
fortalecem a m aneira autoritária de falar de cim a para baixo. Nesse caso, falar a, que, na
perspectiva dem ocrática é um possível m om ento do falar com , nem sequer é ensaiado. A
desconsideração total pela form ação integral do ser hum ano, a sua redução a puro treino
fortalecem a m aneira autoritária de falar de cim a para baixo a que falta, por isso m esm o, a
intenção de sua dem ocratização no falar com.
Os sistem as de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se assum indo cada vez
m ais com o discursos verticais, de cim a para baixo, m as insistindo em passar por dem ocráticos. A
questão que se coloca a nós, enquanto professores e alunos críticos e am orosos da liberdade, não
é, naturalm ente, ficar contra a avaliação, de resto necessária, m as resistir aos m étodos
silenciadores com que ela vem sendo às vezes realizada. A questão que se coloca a nós é lutar
em favor da com preensão e da prática da avaliação enquanto instrum ento de apreciação do que-
fazer de suj eitos críticos a serviço, por isso m esm o, da libertação e não da dom esticação.
Avaliação em que se estim ule o falar a com o cam inho do falar com.
No processo da fala e da escuta a disciplina do silêncio a ser assum ido com rigor e a seu tem po
pelos suj eitos que falam e escutam é um “sine qua” da com unicação dialógica. O prim eiro sinal
de que o suj eito que fala sabe escutar é a dem onstração de sua capacidade de controlar não só a
necessidade de dizer a sua palavra, que é um direito, m as tam bém o gosto pessoal,
profundam ente respeitável, de expressá-la.
Quem tem o que dizer tem igualm ente o direito e o dever de dizê-lo. É preciso, porém , que quem
tem o que dizer saiba, sem som bra de dúvida, não ser o único ou a única a ter o que dizer. Mais
ainda, que o que tem a dizer não é necessariam ente, por m ais im portant e que sej a, a verdade
alvissareia por todos esperada. É preciso que quem tem o que dizer saiba, sem dúvida nenhum a,
que, sem escutar o que quem escuta tem igualm ente a dizer, term ina por esgotar a sua
capacidade de dizer por m uito ter dito sem nada ou quase nada ter escutado.
Por isso é que, acrescento, quem tem o que dizer deve assum ir o dever de m otivar, de desafiar
quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. E intolerável o direito que se
dá a si m esm o o educador autoritário de com portar-se com o o proprietário da verdade de que se
apossa e do tem po para discorrer sobre ela. Para ele, quem escuta sequer tem tem po próprio pois
o tem po de quem escuta é o seu, o tem po de sua fala. Sua fala, por isso m esm o, se dá num
espaço silenciado e não num espaço com ou em silêncio. Ao contrário, o espaço do educador
dem ocrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio interm itente de quem ,
falando, cala para escutar a quem , silencioso, e não silenciado, fala.
A im portância do silêncio no espaço da com unicação é fundam ental. De um lado, m e
proporciona que, ao escutar, com o suj eito e não com o obj eto, a fala com unicante de alguém ,
procure entrar no m ovim ento interno do seu pensam ento, virando linguagem ; de outro, torna
possível a quem fala, realm ente com prom etido com comunicar e não com fazer puros
Compartilhe com seus amigos: |