OS COMBATES DOS PROFESSORES SECUNDARISTAS NO SUL DE MATO
GROSSO
Abigail Ferreira Alves
Jéssica Lima Urbieta
Este estudo traz resultados parciais de uma pesquisa em andamento, que busca
expor os impasses enfrentados por professores na afirmação e consolidação da educação
secundária do sul de Mato Grosso, em um recorte temporal dos anos de 1920 à 1970.
O problema educacional sempre foi uma dificuldade para o país, e o exercício à
docência foi e ainda é um problema a ser analisado. Mas não cabe a esse estudo redigir
um levantamento histórico sobre, mas relatar como esse impasse afetou a educação no
estado através de fontes documentais, memorialísticas e autobiográficas de autores do
sul de Mato Grosso, além de trabalhos científicos sobre a temática.
Para tanto, os objetivos específicos consistem em: 1) Analisar as disputas que
ocorreram no campo educacional que afetaram diretamente a educação no sul do estado;
2) Identificar as possibilidades de manutenção do ensino em Ginásios secundaristas no
estado; e 3) Apresentar as iniciativas realizadas para a consolidação do ensino
secundário no sul de Mato Grosso.
A metodologia utilizada para as análises pospostas é a pesquisa com
memorialistas do estado através de autobiografias, ao passo que fazem um diálogo com
documentos e trabalhos já realizados sobre o problema sinalizado.
A pesquisa compreende ainda um levantamento dessas obras memorialísticas e
documentos que trazem a história da educação do estado, com ênfase na teoria
bourdieusiana como embasamento teórico, afim de analisar as disputas que se deram no
campo educacional.
A importância dos depoimentos de quem fez parte da educação no estado
apresenta um momento único vivido, uma visão única, uma expressão única e é de
caráter inigualável ao passo que possibilitam uma reflexão por meio de diálogos com
outras fontes, de um determinado tempo e espaço da sociedade, revelando com isso que,
A necessidade de escrever a história de um período, de uma sociedade
e até mesmo de uma pessoa só desperta quando elas já estão bastante
distantes no passado para que ainda se tenha por muito tempo a
chance de encontrar em volta diversas testemunhas que conservam
alguma lembrança. (HALBWACHS, 2004, p. 11).
Luiz Alexandre de Oliveira ao objetivar escrever uma autobiografia em terceira
pessoa em caráter de depoimento despretensioso para “[...] provar que o presente é
muito melhor do que o passado e que as gerações novas estão muito mais bem
preparadas para a vida do que no passado [...].” (OLIVEIRA, 1986, p. 10) acaba
contribuindo para a historiografia do estado.
O retrato em detalhes que o professor, diretor de uma instituição de ensino
secundário Osvaldo Cruz e advogado traz sobre a educação, levanta alguns pontos para
a pesquisa. Entre eles as dificuldades para manter a instituição, devido aos problemas
financeiros que sofria, péssima infraestrutura da instituição, troca frequentes de
professores, falta de auxílio para a manutenção do ginásio e uma competição acirrada
entre o professor e padres salesianos que direcionavam o Ginásio Dom Bosco.
A princípio, o professor Luiz Alexandre de Oliveira relata a péssima formação
que teve como professor, definindo-se com “[...] fraco preparo e chegou mesmo a
encontrar aluno que sabia mais do que ele; apesar de tudo, entretanto, ele teve boa [...]”
(OLIVEIRA, 1986, p. 27).
O professorado do sul do Estado de Mato Grosso, eram encarregados de
profissionais de outras áreas para ministrar as aulas no Ginásio Osvaldo Cruz ou outras
instituições de ensino secundário, quando estes não vinham de outras cidades do país ou
Estado.
O corpo docente deste estabelecimento na década de 1930 era
considerado um grupo bem estruturado para a época, sendo que sua
maioria era formada por profissionais liberais da área jurídica ou da
saúde, para se ter idéia dos 14 professores, três eram advogados (um
era também militar, tenente), três médicos (dois eram também
militares, tenentes), três engenheiros, um farmacêutico e um militar
(major). Os três restantes não tinham formação superior (JORNAL
FOLHA DA SERRA, 1934, s/p.).
Outro impasse apresentado pelo educador em seus relatos revela que com a falta
de instituições públicas, a iniciativa privada se espalhou pelo estado, e junto a ela as
dificuldades para mantê-las.
O Ginásio Osvaldo Cruz embora sendo uma instituição “privada”, recebia
auxílio do Governo, que segundo Alexandre (1986, p. 38) sem crédito bancário para
reestruturar a instituição, em um momento de aflição, resolveu redigir uma carta ao
Presidente da República, Getúlio Vargas, expondo a situação que se encontrava o
colégio. O pedido foi atendido, segundo o autor, de forma generosa, recebendo o
estabelecimento, uma contribuição de trezentos mil cruzeiros. E ainda dispunha de uma
infraestrutura precária que ocasionou, segundo o professor, dificuldades durante seu
tempo de direção.
As disputas no campo educacional, segundo Oliveira (1986) se dava com a
finalidade única de concorrer com outra instituição em número de alunos e
consequentemente mais auxílio para o Ginásio.
Adquirido o prédio, vários problemas surgiram a um só tempo: dois
ex-padres, que tinham pretensões na aquisição do estabelecimento,
mancomunaram-se com alguns elementos da cidade e fizeram uma
campanha, de porta em porta, para provocar a saída de alunos do
colégio. Em consequência dessa campanha, houve pânico e o colégio
perdeu quase a metade de seus alunos. Diante da gravidade da
situação, o diretor resolveu fazer uma limpeza no corpo docente do
estabelecimento, usando diferentes métodos. (OLIVEIRA, 1986, p.
37).
Os resultados prévios da pesquisa sinalizam uma tensão na constituição da
educação no sul do estado de Mato Grosso, com enfoque no papel que os professores
tiveram para a manutenção das instituições de ensino secundário. Trazendo que, com a
má qualidade da formação de professores, constante disputa entre instituições, falta de
infraestrutura e auxílio, resultaram em um atraso do estado em nível educacional.
Referências
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Benoir. L. T., São Paulo:
Centauro, 2004.
JORNAL FOLHA DA SERRA. A educação de Campo Grande. Campo Grande, s/nº,
s/mês, 1934.
OLIVEIRA, Luiz. O mundo que eu vi. Campo Grande: Gráfica e Papelaria Brasília
Ltda.,1986, 102p.
ROSA SÁ, Maria da Glória. Memória da Cultura e da Educação em Mato Grosso
do Sul: histórias de vida. Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
1990, 233p.