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HISTÓRICO E FUNDAMENTOS
Currículo e Experiências
Experiência, por Larrosa Bondía
A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de
interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm, requer parar para pensar,
parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais
devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade,
suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos,
falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar os outros, cultivar a arte dos
encontros, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (LARROSA BONDÍA, 2002, p 26) .
O saber da experiência se dá na relação entre o conhecimento e a vida humana e se adquire na
maneira como alguém vai respondendo ao que vai lhe acontecendo ao longo da vida e no modo
como vai se atribuindo sentido ao acontecer do que lhe acontece . Dessa forma, não se trata
da verdade do que são as coisas, mas do sentido ou do sem-sentido daquilo que acontece às
pessoas . Por isso, o autor diferencia acontecimento de experiência .
O saber da experiência é um saber particular, subjetivo, relativo, contingente, pessoal . Se a
experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas ainda que enfrentem
o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência . O acontecimento é comum, mas
a experiência é para cada qual sua, singular e de alguma maneira impossível de ser repetida
(Ibid, p . 27) .
O autor preocupa-se também em diferenciar experiência de experimento científico (etapa no
caminho seguro e previsível da ciência moderna) e propõe limpar a palavra experiência das
conotações empíricas e experimentais, metodológicas e metodologizantes dos experimentos .
Se a lógica do experimento produz acordo, consenso ou homogeneidade entre os sujeitos, a lógica
da experiência produz diferença, heterogeneidade e pluralidade. [...] Se o experimento é repetível,
a experiência é irrepetível, sempre há algo como a primeira vez. Se o experimento é preditível e
previsível, a experiência tem sempre uma dimensão de incerteza e que não pode ser reduzida.
[...] a experiência não é o caminho até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece de
antemão, mas é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-
ver” nem pré-dizer” (Ibid, p. 28).
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